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Zonas cinzentas que se tornam claras

O posicionamento dentro do bloco adversário como arma para desmontar estruturas


O jogo apaixona-me, mas há jogos dentro do próprio jogo que me fazem desfrutar ainda mais, porque jogar futebol não pode ser só jogar por jogar e ver o que dá… jogar tem de ser prazeroso para quem joga, para quem assiste e para quem sonha um dia jogar. Portanto, há equipas que realmente podem ser encaradas como “cadeirões” de futebol, onde cada lance tem sumo e conteúdo para ser debatido, analisado e refletido com a maior riqueza que se pode imaginar. Este “cadeirão” ministrado por Pep Guardiola fascina quem gosta de ver jogar futebol, pelo menos a mim sempre me suscitou este sentimento, e, felizmente, a partir dele, é possível pensar, e que gosto me dá pensar sobre o jogo.


Quando pensamos na criação de um modelo ou ideia, ou aquilo que queiram denominar para a nossa equipa, eu pelo menos, penso em primeira instância no mapeamento / sistematização do espaço de jogo. Pode parecer um tanto ou quanto estranho, mas esta sistematização é o que me permite dar feedback mais direcionado aos meus jogadores, permite-me passar informação mais direta e simples entre equipa técnica e, em primeira instância, permite-me “ordenar territorialmente” a minha estrutura em qualquer um dos momentos de jogo.


No meio deste traçar de linhas, existem dois espaços que realmente marcam a diferença quando queremos atacar: o espaço comumente denominado “half-space” e o espaço dentro do bloco adversário. Estes espaços são de uma importância vital quando ocupados devidamente e funcionam como autênticos desbloqueadores de estruturas defensivas adversárias, porque só um bom posicionamento nestes espaços, pode criar um efeito dominó em quem defende, e atrair jogadores adversários para zonas cinzentas e de difícil ocupação, que acabam por despoletar um caos defensivo inesperado e de fácil ataque por parte de quem detém a bola.


No vídeo abaixo, é possível observar isso mesmo, quando De Bruyne enquadra a receção, automaticamente criaram-se soluções para que pudesse dar seguimento ao jogo de forma vertical, Foden, que naquela situação cumpria a posição de extremo e, Cancelo, que acabou por ser a solução à largura enquanto lateral. Contudo, o clique para encontrar o espaço correto para acelerar a posse, foi aquando do movimento de apoio do Foden para dentro do bloco, a ocupação do espaço, entre e atrás de MC-EX adversários e, entre e à frente de DL-DC adversário, causou uma dificuldade acrescida em quem defendia, forçando um erro de leitura por parte do DL adversário, encurtando para pressionar tomando como referência individual antes da bola sair, e, proporcionando a fácil ligação pelo elemento de ataque exterior (Cancelo)… “… Mas então, e se o DL não encurtasse para pressionar? Foden recebia sem pressão, enquadrava e conduzia para cima do setor defensivo do Southampton, fixava o DL e podia libertar exterior com passe para o Cancelo, ou para o AV no espaço central…” , pois é … por isso é que o jogo apresentado pelo City de Guardiola é rico, por isso é que o jogo é altamente sistematizado, sustentado e são dadas várias soluções ao portador, por isso é que sistematizar e modelar o jogo não é ser castrador, é sim, um elemento fundamental para que dentro do jogo que a equipa preconiza, o portador (e não só), possa fazer emergir toda a criatividade individual e coletiva!



Na imagem 2D, abaixo apresentada, é possível observar como o posicionamento de um jogador dentro do bloco adversário pode causar tantas indefinições a quem defende e tantas soluções a quem ataca… agora, não há que ter medo de verticalizar o passe para dentro da pressão.


Concluindo, deixo nota de um ponto para mim fundamental… a solução não é só projetar o lateral e interiorizar extremos, a solução pode ser a colocação dos médios centro dentro da pressão, pode ser a colocação de dois avançados, podem ser os laterais … pode ser aquilo que cada um entende como melhor para a sua equipa. É necessário é que exista COERÊNCIA e SUSTENTAÇÃO, para que quando os nossos craques nos questionem e coloquem à prova, saibamos responder de forma pronta, correta e assertiva, e ao mesmo tempo, quando o adversário nos fechar a porta 1, possamos sorrir e escolher entre a porta 2 e a porta 3.


O autor deste artigo escreve as suas rubricas ao abrigo do seu “acordo futebolístico”, pelo que as suas rubricas assentam sempre na visão que tem sobre o jogo, porque dentro do jogo, há muitos jogos que podem ser jogados, mas há um que o desperta acima de qualquer outro.


Por Rúben Pinheiro


Licenciado em Treino Desportivo, com especialização em Futebol pela Escola Superior de Desporto de Rio Maior, prestes a defender a sua tese na mesma instituição de ensino. Tem 23 anos, Treinador UEFA B, com passagens por Sporting C.P., equipa B e Sub-19 Feminina, Belenenses SAD Sub-23 e atualmente Treinador Principal no Campeonato Nacional de Sub-15 no S.C.U. Torreense. Acima de tudo, apaixonado pelo jogo de futebol, pelo treino, pelo pensamento e reflexão acerca do mesmo, e sobretudo apaixonado pela forma como as suas equipas jogam, assente no pormenor, no desenvolvimento individual através do coletivo, e na importância de dar prazer a quem joga e quem vê jogar!


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