A importância de criar o espaço que queremos atacar, e não ocupar o espaço livre que o adversário quer que ocupemos.
A fechar o fim de semana desportivo, num domingo cheio de clássicos, o El Clássico, propiciou aos apaixonados pela identidade Culé, hora e meia de emoção e de boas sensações, a fazer relembrar velhos tempos, onde “tê-la muito e tocá-la pouco” voltou a fazer sentido.
Auspicia-se o regresso de um Barcelona forte e sustentado nas bases que fizeram de si, o que são, e sobretudo se denotam das demais e todos identificam: o jogar à Barça. Excelentes notícias portanto!
Não querendo fazer a crónica do jogo, saltou à vista a fantástica qualidade individual das duas equipas, execuções de elevadíssimo nível, e que dão ao jogo uma riqueza estética, que certamente é apreciada por todos. De forma mais simples, podemos salientar ao nível coletivo, o jogo posicional do Barça, a qualidade do envolvimento a nível setorial e coletivo, sobretudo no momento ofensivo, e do outro lado, a tentativa de condicionamento do jogo a nível defensivo por parte do Real, através de referências individuais (marcação homem a homem).
Não querendo continuar a ser “relatador” do que vi, e que sinceramente, adorei ver, como há muito não conseguia desfrutar de um jogo desta qualidade… ,infelizmente, a quantidade de pontos de realce e debate neste jogo são infindáveis… no entanto, vamos pegar num lance que explica muito do sucesso que o Barça acabou por ter, e o insucesso em contrariar o jogo ofensivo catalão por parte do Real Madrid.
Muito se fala de superioridade numérica, e de relações numéricas … tudo certo, mas eu gosto de chamar vantagens, porque nem sempre ter mais é melhor, porque se assim fosse, quem tinha mais jogadores tinha sempre sucesso… e as vantagens num jogo de relação de cooperação e oposição, partem muito daquilo que é a vantagem posicional, a vantagem de estar melhor posicionado face ao opositor, e isto sim, define o sucesso!
Olhando para o vídeo abaixo, que constata o lance em discussão, podemos observar desde logo a tendência para o Real Madrid adotar referências individuais no seu momento defensivo, o que por si só, garante alguma vantagem ao opositor, isto porque, quem ataca pode mover todas as peças defensivas para onde pretender, basta para isso deslocar os jogadores sem bola, para onde bem entender, e com isso fazer surgir espaços que posteriormente serão explorados.
Para além disso, a capacidade que o Barça teve de interpretar que momentos é que seriam mais benéficos para tentar a finalização é fantástica, e isso é tremendamente complexo. No lance abaixo, é possível observar o Barça próximo da área do Real, mas sentindo que não existiam vantagens posicionais para acelerar o jogo para finalização, optam por “reconstruir” todo o lance, e esse passe atrasado … (a importância do passe atrasado para fazer deslocar a oposição…), faz mover todas as peças do Real, sendo todas elas atraídas pelo seu “homem”, e nesse momento, se uns “esticam” e “alargam”, o espaço cria-se, e fica de fácil exploração por quem ataca, não por parte do portador da bola, mas sim de quem “ataca sem bola”.
O pormenor do contra movimento do De Jong, alternando de apoio para rotura é fantástico e de uma situação de 3 x 5 + GR, o Barça, passados poucos segundos e mais uns excelentes momentos de posse, alterna para uma situação de 4 x 3 + GR, sendo aquele espaço tão bem denominado por Seiru-lo, de espaço de ajuda mútua, onde intervém de Jong e Casemiro, a melhor definição possível para descrever o que é uma vantagem posicional.
Concluindo, o título deste artigo remete-nos para a importância de não apenas ocupar o espaço livre, muitas das vezes criado de forma propositada por quem defende, mas sim, criar condições para fazer emergir o espaço que nós pretendemos atacar. E criar esse espaço dá muito prazer … menos “sacrifício” e menos “sofrimento”, e mais emoção e alegria a jogar, a JOGAR!
O autor deste artigo escreve as suas rubricas ao abrigo do seu “acordo futebolístico”, pelo que as suas rubricas assentam sempre na visão que tem sobre o jogo, porque dentro do jogo, há muitos jogos que podem ser jogados, mas há um que o desperta acima de qualquer outro.
Por Rúben Pinheiro
Licenciado em Treino Desportivo, com especialização em Futebol pela Escola Superior de Desporto de Rio Maior, prestes a defender a sua tese na mesma instituição de ensino. Tem 23 anos, Treinador UEFA B, com passagens por Sporting C.P., equipa B e Sub-19 Feminina, Belenenses SAD Sub-23 e atualmente Treinador Principal no Campeonato Nacional de Sub-15 no S.C.U. Torreense. Acima de tudo, apaixonado pelo jogo de futebol, pelo treino, pelo pensamento e reflexão acerca do mesmo, e sobretudo apaixonado pela forma como as suas equipas jogam, assente no pormenor, no desenvolvimento individual através do coletivo, e na importância de dar prazer a quem joga e quem vê jogar!
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