A disruptura da aposta no Seixal (nos últimos anos) certamente não corresponde à falta qualidade existente na formação do SL Benfica, muito pelo contrário. Nestas últimas duas épocas, foi mesmo uma questão de não aposta perante o projeto idealizado, com grande preponderância do antigo treinador Jorge Jesus- nome já bem conhecido por não ter grande convicção no que toca à aposta efetiva de jovens da formação. Quando o técnico português chegou à Luz, todos já idealizávamos que haveria uma quebra da aposta no Seixal, no entanto, o SL Benfica e o seu presidente é que efetivamente quiseram o treinador, e já tinham conhecimento das suas convicções e do seu método de trabalho.
O Seixal continua a fornecer grandes talentos ao futebol nacional, sendo esta última “fornada” a mais talentosa, no momento, em Portugal. Dois destes grandes talentos são Tomás Araújo e António Silva - eles que fizeram dupla no jogo a contar para a Youth League, em que o SL Benfica venceu o Sporting CP por 4-0. Dois centrais com características distintas, mas há algo que os une - o gigantesco talento e potencial.
Tomás Araújo é já bem conhecido pelos amantes do futebol, pois já teve utilização na equipa principal dos encarnados - realizou três jogos, dois a contar para a Liga Bwin e um para a Allianz Cup -, todavia, é utilizado, maioritariamente na equipa B. O central de 19 anos destaca-se pela sua relação com bola, dada a sua qualidade de passe acima da média (superior a muitos médios da nossa Liga Bwin). Não são poucas as vezes em que o jovem central encontra colegas no espaço entre-linhas, que os permite receber orientado, rodar e ficar de frente para o jogo, queimando muitas linhas de pressão e ficando em superioridade numérica no último terço. Quando não encontra os colegas nesse espaço (fechado mesmo pelo facto de o central ter uma grande qualidade com bola), é capaz de colocar bolas longas para os extremos/avançado, sempre com bastante eficiência. É, portanto, um central com uma panóplia de recursos técnicos invejáveis, que lhe permite ser de elite nesse capítulo na posição. Possui também um sentido posicional de sublinhar.
Todavia, por ter estado inserido num contexto de formação apresenta ainda algumas debilidades no jogo aéreo. Este tem sido um ponto a que se tem submetido uma evolução tremenda na Liga Portugal 2 Sabseg, ao serviço da equipa B do SL Benfica. Acredito que, até ao final da época, irá evoluir bastante nesse contexto competitivo, que o fará estar ainda mais preparado para o desafio de equipa principal.
Tendo algumas parecenças com Rúben Dias, António Silva é um central a ter em conta no futuro das águias. O jovem de 18 anos tem algumas características idênticas às do internacional português, e tem atuado, maioritariamente, na Liga Revelação, com 20 jogos disputados. O central destaca-se pelo seu poderio no jogo aéreo, no duelo físico e grande capacidade de liderança. Em situação de cruzamento sente-se muito confortável, com desarmes preponderantes e interceções decisivas. Denota ainda alguma dificuldade no controlo da profundidade, dada a sua velocidade - não é lento, mas também não é muito rápido, como por exemplo Tomás Araújo -, no entanto, já realizou dois jogos pela equipa B, e acredito que, tendo mais jogos nesse contexto, poderá aperfeiçoar esse momento do jogo. É algo impetuoso nas suas abordagens e nos níveis de agressividade apresentados - perfeitamente natural, devido à sua idade ainda precoce e alguma imaturidade.
Não tendo a qualidade com bola de Tomás Araújo, António Silva também tem uma saída de bola interessante, e com potencial para ser superior até a Rúben Dias - continuando a fazer a comparação inicialmente mencionada. Grande facilidade em encontrar soluções através da bola longa para avançado/extremos, tendo menos capacidade para encontrar espaços dentro do bloco, através do passe curto- ainda assim, consegue-o fazer com qualidade.
Como o próprio referiu no programa “Futebol Total”, no Canal 11, o seu central de referência é Tomás Araújo (com quem forma dupla na Youth League). Isto porque, apesar de ser apenas um ano a separá-los, Tomás Araújo apresenta índices de qualidade com bola sublimes, e que António Silva tem aprendido e melhorado com o seu colega: “Olho muito para o Tomás, que é meu colega na Youth League. Posso confidenciar que nunca vi um central com tanta qualidade técnica e com a capacidade que ele tem no jogo ofensivo e defensivo. Por isso, olho muito para o Tomás e espero aprender muito mais com ele”.
São dois centrais com um potencial enorme, mas com características e estatutos diferentes, no que toca à chegada à equipa A. Tomás Araújo é um central de mestria e quase “feito”, pronto para um patamar competitivo superior, enquanto António Silva tem ainda algumas “arestas a limar”, e certamente, tendo mais minutos na equipa B, irá evoluir bastante, até ao ponto de estar preparado para o contexto competitivo de equipa principal do SL Benfica.
Redigido por Vasco Palha
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