A minha reflexão, de hoje, centra-se na importância dos princípios éticos na prática desportiva, uma prática desportiva que promova não só a saúde, mas também o bem-estar da pessoa humana, uma vez que no desporto não se ensinam só técnicas, não se ensinam só táticas, aprende-se, de igual modo, a respeitar e a confiar nos seus companheiros, bem como a respeitar os seus adversários, os seus competidores, reafirmo-o, aqui e agora, ou sendo necessário, até à ‘exaustão’.
Na verdade, é minha convicção, profunda, seja em que modalidade for, que o desporto contém valores que os atletas devem manter ao longo de toda a sua vida, hoje, por mim, aqui expressos, e ‘apenas’ a título de exemplo, pela humildade, pela tolerância, pela gratidão, pela coragem e pela amizade.
Desejo que saibam que, do meu pai herdei o sentido de humor e a capacidade de sorrir, ainda que na adversidade, o gosto pela leitura e pela escrita, o sentido de honestidade e de integridade moral, o espírito de sacrifício e o sentido de dever, o espírito reivindicativo, de não submissão e de luta contra as injustiças, o temperamento revolucionário, assim como a extrema valorização da lealdade, sim, da lealdade. Mas, do meu pai herdei, também, uma estética e uma ética de excelência, curiosamente a propósito do desporto, e muito particularmente, a propósito do futebol.
Recordei-o, há poucos dias, publicamente, quando, na qualidade de embaixador do Plano Nacional de Ética no Desporto (PNED), estive ‘à conversa’, a convite do Gil Vicente FC, com pessoas humanas intimamente ‘ligadas’ ao futebol, entre outras, dirigentes, coordenadores técnicos, treinadores, psicólogos, atletas e, muito naturalmente, pais e encarregados de educação. O tema, esse, era o da ‘ética no desporto’. Importou-me, por isso mesmo, e como habitualmente, partilhar ‘boas práticas’.
E, sendo na terra que viu nascer os meus avós paternos, o meu pai, os meus tios e tias, assim como muitos, mas muitos mesmo, dos meus primos, aproveitei para partilhar a(s) minha(s) história(s) de Vida.
Razão pela qual, falei da minha infância, relevando o facto de ter observado tantos e tantos jogos, quer do Gil Vicente FC, quer do SC de Braga, fruto da paixão que o meu pai tinha por ambos, sem distinção, numa espécie de ‘ética pelo exemplo’, tendo recordado, a propósito, quiçá inspirado por Lars Grael, um herói olímpico, digno de admiração, que, de facto, herdei do meu pai o entusiasmo pelo desporto mas, na verdade, a principal lição que com ele aprendi foi a fidelidade a princípios, assim como, a capacidade de superar as adversidades, ao longo de toda uma vida.
Também por isso, ou talvez por isso mesmo, os pais, no desporto, em geral, e no futebol, em particular, pelo menos, para mim, são dignos do respeito e da admiração.
Contudo, para que a um pai seja possível, quer no desporto, em geral, quer no futebol, em particular, conforme supracitado, ser digno do respeito e da admiração, é fundamental que possua, entre outras, a capacidade de não dar ordens para dentro de campo, assim como, a capacidade de não insultar adversários, árbitros e, às vezes, os próprios treinadores, como bem diz, Carlos Mangas, no seu fantástico livro ‘Fut360L – da Pereira à Pedreira’.
Razão pela qual me atrevo a dizer que o respeito pelas regras mais elementares da ética, se assim se pode dizer, devem estar sempre presentes no desporto, desde as crianças aos adultos.
Só assim poderemos, ainda que de forma progressiva, formar um (verdadeiro) campeão, um campeão que perdure para lá da competição, um campeão (na e) para a Vida.
E, na verdade, pais, nunca se esqueçam, um campeão que perdure para lá da competição, seja no desporto, em geral, seja no futebol, em particular, deve recordar-se, sempre, de forma clara e inequívoca, que não se deve ofender, entre muitos outros, a orientação sexual, o estatuto social, a etnia, a religião e a raça dos agentes desportivos.
Redigido por José Mário Cachada
Licenciado em Educação Física (Opção – Futebol), mestre em Ciências do Desporto (Ramo – Gestão Desportiva), doutorado em Ciências do Desporto, pela Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Professor de Educação Física, Treinador de Futebol | UEFA B e Embaixador do Plano Nacional de Ética no Desporto.
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