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Ano de Transição - O exemplo Celtic FC



Depois de uma época terrível em 2020-2021, onde o Celtic perdeu o título para o Rangers, de Steven Gerrard, com uma distância “quilométrica” de 25 pontos, com a saída de jogadores importantes como Kristoffer Ajer, Odsonne Edouard, Ryan Christie, de outros por empréstimo como Diego Laxalt, Shane Duffy, Jonjoe Kenny e Mohamed Elyounoussi e sem Brendan Rodgers, a época de 2021-2022 parecia um desastre à espera de acontecer. Para além disso, os rivais protestantes tinham mantido a espinha dorsal do plantel e o treinador, o que os levava a ter alguma vantagem teórica em relação ao Celtic.


Eddie Howe era o treinador escolhido pela direção dos Bhoys, mas em maio as conversas pararam porque o britânico tinha recusado a abordagem do clube. Uma semana depois, completamente do nada e sem aviso, Ange Postecoglou era anunciado como treinador dos Hoops para as próximas épocas. Apesar da sua carreira cheia de sucesso, com títulos por onde passou e com qualidade comprovada no “outro lado do mundo”, muitos pundits escoceses decidiram gozar com a escolha dos verde e brancos. Disseram que era um desastre, que era um treinador que não conhecia a realidade do futebol escocês e europeu e que era uma escolha desesperada. Ser campeão no Japão, pelo Yokohama F Marinos, na Austrália pelo South Melbourne e pelo Brisbane Roar, ainda ganhar uma Taça da Ásia com a Seleção Australiana (para além da qualificação para o Mundial) e ser a recomendação de topo do City Group (que já o queria ter colocado no Anderlecht, onde treina Vincent Komapny) não era suficiente.


Os primeiros meses não foram fáceis. Ange entra numa altura em que se aproximavam as pré-eliminatórias da Champions League, onde iria defrontar o Midjtylland. O onze que iniciou a época com Postecoglou tinha ainda muito pouco dedo do treinador, especialmente no que toca a reforços. Do onze base atual, só McGregor, Abada, Turnbull e Taylor foram titulares na altura, sendo que Edouard e Christie saíram, enquanto que Barkas e Soro rapidamente desapareceram da equipa e Ralston, Welsh e Bitton se tornaram suplentes habituais. O banco continha Conor Hazard, Urhoghide, Bolingoli, Montgomery, Liam Shaw, Dane Murray, Ewan Henderson e Leigh Griffiths, tudo jogadores que nunca mais contaram (e saíram) para o plantel.


Depois da eliminação da Liga dos Campeões, seguiu-se a abertura do Campeonato Escocês, contra o Hearts. Aí já começou a contar com mais jogadores novos como Kyogo Furuhashi e Carl Starfelt, sendo que o japonês começou no banco e o sueco foi diretamente para o onze. O jogo acabou com derrota por 2-1 e mais um suposto mau pronuncio para o treinador australiano. De volta à Europa, mas para a Liga Europa, o Celtic foi ganhar à República Checa, por 4-2, ao Jablonec, já com um golo de Kyogo. O jogo seguinte já marcou um pequeno aparecimento daquilo que o Angeball parecia prometer. 6-0 ao Dundee United e uma estreia brutal de Kyogo a marcar no Celtic Park, com um hattrick. A partir daí, seguiram-se 4 vitórias seguidas contra Jablonec para a LE, Hearts para a Taça, AZ Alkmaar para a LE e St. Mirren para a Liga. Todavia, 4 derrotas em 5 jogos, em que 2 foram para a Liga, contra Rangers e Livingston, colocava-os 6 pontos atrás dos rivais.


Apesar de a contestação subir de tom, os reforços continuaram a ser escolhidos por Postecoglou e pelo departamento de Scouting. Chegaram, durante esse tempo, Joe Hart, Josip Juranovic, Carter-Vickers, Jota, para além dos supramencionados Kyogo e Starfelt. E foi a partir daí que o conto de fadas na Liga começou.


31 Jogos depois, com vitórias, umas mais contundentes, outras mais sofridas, o Celtic tornou-se campeão com o melhor ataque da Liga, com a melhor defesa da liga e com o melhor futebol da Liga. Apesar de alguns empates, a equipa de Ange teve jogos incríveis, culminando no amasso incrível em Celtic Park, por 3-0, contra o Rangers. Por essa altura, o mercado de inverno já tinha sido explorado e já tinham chegado Yosuke Ideguchi, Reo Hatate Matt O’Riley e Daizen Maeda, também eles fundamentais no sucesso do clube. Para além do campeonato, ganhou também a Taça da Liga, frente ao Hibernians, com Furuhashi a resolver com um bis. As únicas competições onde claudicaram foram a Taça da Escócia, onde foram eliminados pelo Rangers nas meias-finais, e na Europa, nomeadamente porque foram eliminados do seu grupo na Liga Europa (Bayer Leverkusen, Bétis e Ferencvaros) e, posteriormente, pelo Bodo Glimt, na Liga Conferência Europa.


Percebemos, portanto, que houve uma autêntica revolução no clube. 12 Jogadores novos (4 deles japoneses, com claro dedo de Postecoglou) no clube, saídas de jogadores importantes, entre eles Scott Brown, (capitão e figura icónica do clube), treinador novo e uma necessidade de adaptação quase imediata de todos os reforços contratados. Para além disso, a pressão era claramente enorme por culpa de uma época anterior terrível e pelo facto do Rangers ter tudo para ser bicampeão, na teoria. Adiciona-se a essas questões, devido à guerra na Ucrânia e à proibição dos clubes russos de participarem nas competições europeias, a entrada direta para a Liga dos Campeões, algo quase inédito para os clubes da Liga Escocesa e que vai permitir uma preparação da pré época e abordagem ao mercado totalmente diferentes.


Ange, contrariamente ao que se pensava no início da época, criou uma equipa vencedora, uma base sólida com experiência e futuro, conquistou o título mais importante da Escócia e, mais importante de tudo, conquistou todos os adeptos do Celtic. Continua, no entanto, a haver muito por onde melhorar e para dar continuidade. Desde já, a ida à Europa será muito mais complicada dado que vão diretamente para a Liga dos Campeões, onde os adversários serão bem mais fortes. Depois, ainda há muito a melhorar no plantel, pois faltam alternativas claras a algumas posições (lateral esquerdo e extremos). Nem tudo são rosas, mas o futuro pode ser brilhante ao comando do treinador australiano.


Por João Miguel

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