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Tomada de decisão – Inteligência do jogo



O Futebol é uma modalidade desportiva que é caracterizada pela aciclicidade técnica devido às solicitações e efeitos cumulativos morfológico-funcionais e motores, por uma participação psíquica forte, e por ações do jogo que se realizam num contexto constante de oposição e cooperação.


Como a componente tática é cada vez mais desenvolvida, as defesas encontram-se cada vez mais compactas e a pressão pela conquista da bola tornou-se mais intensa, o que resulta com que os jogadores tenham a necessidade de decidir mais rápido. Por isso é importante que o ensino-aprendizagem no Futebol seja centrado na tomada de decisão, essa forma permitirá que os jogadores aprendam a “ler” o jogo, a tomar as decisões mais acertadas e a executar em função de cada momento do jogo de forma rápida e eficaz.


“O treino deve preparar o jogador para resolver por si próprio os problemas decorrentes do seu envolvimento no, e com o jogo, fazendo um sistemático apelo às suas capacidades de decisão” - Araújo, 2005

No decorrer do jogo de Futebol, os jogadores são bombardeados por informação, a partir de vários pontos: contacto com a bola, colegas, adversários e o posicionamento. Assim sendo, e de forma a dar resposta a esses estímulos, o jogador é influenciado de acordo com a informação exterior que vai recebendo e pela aprendizagem anterior, fruto de criações motoras automáticas. O jogador tem de processar a informação e reagir de forma rápida e intuitiva, num período de tempo e espaço reduzido e adaptando-se às adversidades existentes no jogo, exigindo dele concentração e mais da componente visual.


No entanto, a capacidade Humana de concentração é limitada em tempo e espaço e apenas uma pequena percentagem de informação é capaz de ser filtrada e adaptada de cada vez, estimulando uma seleção, foco e atenção no essencial, adaptando para o mais importante para a ágil resposta.


Deste modo, a capacidade de perceção é o que permite o envolvimento no jogo através da deteção da informação necessária para a jogada. Assim um jogador eficaz é aquele que é capaz de produzir uma resposta o mais célere possível, realizando-a com precisão, independentemente das dificuldades existentes, do vasto número de informações e da pressão espacial e temporal.


Para além da quantidade de prática, também a qualidade da prática é importante para obtenção de desempenhos elevados. A qualidade é que diferencia quem chegou ao topo e quem ficou pelo caminho, sendo um fator determinante na infância, em que as crianças obtêm experiências com a idade e a prática especifica. Os jovens devem ser sujeitos a uma vasta seleção de estímulos, visto que é durante a infância que a habituação ao jogo se torna mais concreta e a resposta automática é desenvolvida.


Contudo, o erro possui normalmente uma conotação negativa, quando referido como algo que pode impedir a aprendizagem, por ser visto no seu conceito restrito de resultado de ação, em vez de funcionar enquanto indicador da adequação do processo utilizado com objetivo de atingir um determinado resultado. Assim sendo, a melhor intervenção de aprendizagem não deve assentar no repreender/castigar pois, desse modo, estaremos a desencorajá-los a novas tentativas e reduzir a disposição do jogador para experimentar e arriscar e por consequência, a falta de tentativa por receio de falhar, estagna a sua evolução.

Assim, o treino de tomada de decisão deve levar a que o atleta consiga percecionar de modo a agir segundo as informações que conduzam à obtenção do objetivo da competição, mas também procurar as fontes de informação que permitam alcançar o objetivo com maior eficiência.


É muito importante o papel do treinador no ensino-aprendizagem da tomada decisão. O jogador deve descobrir o caminho mais acertado em cada exercício e para cada situação, mas sempre através da orientação e feedback do treinador. O Futebol atual precisa de jogadores mais inteligentes na tomada de decisão e com um leque variado de soluções, de modo a resolver o problema que aparece no jogo, porque o Futebol é cada vez mais tático e com uma grande pressão sobre o portador da bola, o que reduz o tempo e espaço de decisão. Por isso é importante que o ensino-aprendizagem no Futebol seja centrado na tomada de decisão, porque permitirá que os jogadores aprendam a “ler” o jogo, a tomar as decisões mais acertadas e a executar em função de cada momento do jogo de forma rápida e eficaz.


Obviamente, a base de tudo é o treino. Os jogadores são diariamente estimulados a compreender as regras em relação ao modelo de jogo em todas as suas fases – o que fazer nas mais diversas situações de posse, transições, posse do adversário ou bolas paradas. Com estas informações, também são estimulados a tomar as melhores decisões, a cada fração de segundo, em sintonia com os companheiros e em confronto com os adversários. (não basta ver, mas saber ver)


O professor Pablo Juan Greco definiu esta relação entre jogadores, treino e tomada de decisão:


“Do ponto de vista dos jogos desportivos coletivos, toda a decisão é uma decisão tática e pressupõe uma atitude cognitiva do jogador, que lhe possibilita reconhecer, orientar-se e regular as suas ações motoras. Portanto, observa-se a necessidade de se compreender a importância do desenvolvimento do conhecimento através dos processos de ensino-aprendizagem-treino”

Para Jorge Castelo, “os princípios de jogo estabelecem um quadro de referências para os jogadores, orientando o pensamento tático dos mesmos e, consequentemente, o comportamento tático-técnico com vista à resolução eficiente das diversas situações que a competição em si encerra”.


Seguindo o caminho dos ensinamentos do professor Garganta, ele reitera a necessidade de desenvolvimento desta “inteligência de jogo” para que o atleta tome as decisões certas:


“O sucesso nos jogos táticos depende largamente do nível de desenvolvimento das faculdades perceptivas e intelectuais dos atletas, especialmente em associação com outros fatores que determinam a performance. Em cada ação o jogador avalia as possibilidades de êxito e prepara mentalmente a ação a realizar em função da antecipação do comportamento dos adversários e da ação que os companheiros preveem realizar-se nesse contexto, exigindo-se decisões inteligentes através de processos cognitivos”.

Digo isso para citar o treinador de futebol americano Howard Schnellenberger, que também escreveu sobre inteligência de jogo e tomada de decisão nos desportos coletivos:


“A tomada de decisão consiste na capacidade de tomar decisões rápidas e taticamente exatas, constituindo uma das mais importantes capacidades do atleta. Ela determina muitas vezes o sucesso dos jogos técnico-táticos e é frequentemente responsável pelas diferenças na performance individual”.

Para ter uma tomada de decisão assertiva no futebol, o controlo emocional é importantíssimo.


Por norma, os jogadores mais experientes têm tomadas de decisão mais rápidas. Além disso, as estratégias de procura visual exercem influência sobre o tempo de decisão correta do jogador de futebol. Desse modo, a ansiedade e a ativação pode influenciar na estratégia da procura visual. Logo, as emoções afetam os padrões de atenção, concentração e exploração visual. Portanto, a tomada de decisão fica prejudicada e o desempenho cai.


Nesse sentido, o bom desempenho está ligado com a manutenção do ótimo estado de ativação, o qual depende muito do controlo emocional. Ou seja, o jogador não necessariamente é pobre tecnicamente, fraco taticamente ou está em más condições físicas.


“Em relação ao treino, há uma coisa importante: criar princípios, não regras. Os princípios são abertos e dão espaço à criatividade e à tomada de decisão aberta.”


Redigido por Gonçalo Barbosa

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