Um dos objetivos do futebol é criar superioridade numérica em zonas cruciais do campo e, com isso, desequilibrar o adversário. O Sporting Clube de Portugal joga num sistema de 5-2-3, e muitas vezes procura criar desequilíbrios com a subida do central que costuma jogar à esquerda (Matheus Reis).
Rúben Amorim tem colocado Matheus Reis a defesa central pela esquerda, pretendendo criar condições para que o ex-lateral do Rio Ave avance com bola, atraia marcação, solte e permita, assim, que os homens da frente usufruam de mais espaço.
No jogo frente ao Portimonense, o Sporting enfrentou uma estrutura defensiva que criava superioridade numérica na defesa (linha de 6 defesas do Portimonense frente aos 3 avançados + dois alas do Sporting - 6x5) e no meio-campo (3 médios frente a 2 do lado dos leões 3x2). Por outro lado, o Portimonense colocava apenas 1 homem a condicionar a construção a três do Sporting. Dessa forma, o homem livre era praticamente sempre um dos centrais do Sporting, senão os dois. Sem conseguir ter a criatividade ofensiva que nos habituou pela forte marcação dos homens da frente e médios, Rúben Amorim percebeu que tinha de oferecer maior liberdade aos defesas para atacarem e serem agressivos na condução com bola. O responsável por este papel foi, maioritariamente, Matheus Reis.
No vídeo abaixo, vemos alguns lances de condução de bola por parte de Matheus Reis, algo que o Sporting realizou poucas ou nenhumas vezes pelo lado direito por uma questão de estratégia. O DCE conseguiu atrair muitas vezes o adversário para, posteriormente, libertar a bola para espaços livres.
Outro aspeto positivo da inclusão de Mateus Reis no lado esquerdo dos centrais foi a capacidade que tem de dar seguimento às jogadas e desequilibrar mais à frente no terreno. Matheus conduzia para atrair e libertar, mas depois várias vezes procurou também aparecer nas costas do lateral adversário como vemos no vídeo.
Também verifiquei que o posicionamento defensivo de Mateus Reis foi importante para a reação à perda. Em outras palavras, no vídeo reparamos que Mateus Reis não fica atrás à espera do adversário, mas, sim procura subir para a entrada da área do adversário de maneira a estar mais próximo da bola e, por consequência, ter uma reação mais eficaz aquando a perda.
O mais fascinante não é os desequilíbrios/superioridade em si, mas sim a forma como cada equipa técnica pensa/executa esses desequilíbrios durante o jogo.
As ideias são as mesmas, mas o plano para as concretizar é variável e mutável. A plasticidade que o Sporting foi capaz de ter, em função do que o adversário apresentou e das características dos seus jogadores (Matheus Reis, por exemplo é um lateral adaptado a central), acabou por ser fulcral para o desfecho do resultado. O treinador tem muito a função de desconstruir o jogo adversário e, isso faz-se, criando desadaptações na nossa equipa. Agora, as nossas ideias de jogo terão de ser mantidas, senão corremos o risco de ter uma variabilidade tal, que nem nós a controlamos.
Redigido por João de Deus
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