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Saber a história e planear o futuro: Os Gigantes adormecidos do Futebol Feminino Português

Atualizado: 6 de jul. de 2020


Fonte: CA Ouriense


O futebol feminino em Portugal tem tido um crescimento exponencial nos últimos anos e muito se deve a uma maior aposta de vários clubes importantes no panorama nacional e à maior capacidade de recrutamento de jovens meninas para jogarem futebol. O futebol não é dos homens, é do povo. E as mulheres fazem parte do povo. Contudo, há um domínio claro repartido entre três clubes que têm um poder completamente diferente em relação a todos os outros. SL Benfica, SC Braga e Sporting CP possuem os melhores planteis, as melhores infraestruturas e um orçamento incomparável em relação a muitos outros clubes que são, ainda, não profissionais. Esta diferença abissal cria um fosso no campeonato. Há três clubes a lutar pelo título e todos os outros lutam pelas restantes posições. Mas nem sempre foi assim.


Antes da entrada de Sporting CP e SC Braga no futebol feminino, na temporada 2016/17, a luta pelo título de campeão nacional era feita por outros clubes. Clubes históricos no futebol feminino, que existiam desde a criação desta vertente em Portugal e que ajudaram a criar a história. O Boavista FC é um desses clubes. As “panteras” são dos clubes mais titulado em termos de campeonatos (se juntarmos a atual I Divisão à antiga Taça Nacional) e são um dos clubes que mais sentiram a hegemonia crescente de Sporting CP e SC Braga, primeiro, e de SL Benfica, depois. Com alguns altos e baixos ao longo das últimas temporadas, inclusivamente uma descida de divisão, o Boavista nunca desistiu e está de regresso ao convívio com os grandes do futebol feminino.


O “Fofó” é outro grande do futebol feminino. O CF Benfica foi o último clube a ser campeão nacional antes da chegada do Sporting CP e do SC Braga. O Fofó tinha conquistado duas dobradinhas consecutivas ao juntar o título de campeão nacional ao da Taça de Portugal mas a impossibilidade de competir financeira e até politicamente com outros clubes impediu de juntar mais títulos a um palmarés recheado. O clube lisboeta chegou até à fase de grupos da Liga dos Campeões, onde conseguiu ficar em segundo lugar do seu grupo nos dois anos em que participou na prova. Apesar de não se ter apurado para a fase seguinte, é necessário entender que há ainda diferenças abismais entre o futebol português e o melhor futebol da europa como, aliás, se pôde comprovar esta temporada na eliminatória entre o SC Braga e o Paris Saint-Germain.


O CA Ouriense é outro caso de sucesso “pré-tubarões”. Antes da ascensão do CF Benfica, também o Ouriense foi bicampeão nacional, tendo sido a primeira equipa portuguesa da história a chegar aos 16 avos de final da Liga dos Campeões, num feito fantástico numa equipa que era orientada por Marco Ramos. Na altura, a equipa portuguesa acabou por ser eliminada pelo Fortuna Hjorring, uma forte equipa dinamarquesa, numa eliminatória em que ficou bem patente o longo caminho que é necessário percorrer para o futebol português. Porém, a história estava feita e o CA Ouriense é efetivamente um dos grandes nomes do futebol feminino nacional.


Partimos então para o SU 1º Dezembro, o clube que mais venceu e de forma destacada desde a criação do atual Nacional Feminino. O clube de Sintra foi campeão nacional por 12 vezes consecutivas (!!) e conta ainda com sete conquistas (também consecutivas!) da Taça de Portugal. Um registo impressionante e que marcou uma hegemonia clara do 1º Dezembro no futebol feminino nacional. Internacionalmente, nunca passou da fase de grupos da Liga dos Campeões, mas foi sempre competitivo. O lançamento de jogadoras históricas e treinadores reconhecidos como Carla Couto e Nuno Cristóvão. Contudo, esta história não tem um final feliz. Em 2012/13, com a hegemonia travada pela conquista do CA Ouriense, o 1º Dezembro entrou em queda, tendo ficado no 3º lugar nessa temporada e desceu de divisão na temporada seguinte. Após esse registo, o clube decidiu terminar com o futebol feminino, numa decisão que ainda hoje entristece quem por lá passou e quem ajudou o clube a tornar-se, até hoje, no mais titulado a nível nacional. Oxalá um dia o clube sintrense volte a apostar no futebol feminino, porque Portugal precisa do 1º Dezembro.


Para além destes clubes, há outros que merecem menções honrosas pela tradição e até pela formação de jogadoras que são, atualmente, titulares da seleção nacional. Clubes como o Vilaverdense FC, o Valadares Gaia, o Clube de Albergaria, o UR Cadima, o GDC A-dos-Francos, entre outros. São clubes que ainda apostam no feminino, que continuam a formar boas jogadoras que depois são recrutadas por clubes com maior poderio. Apesar de todos terem tido descidas e subidas de divisão, momentos bons e menos bons, ainda subsistem e são, por isso, merecedores de reconhecimento e valorização.


Há que não esquecer que existem apenas três clubes totalmente profissionais em Portugal e que são esses três clubes que detêm o monopólio do futebol feminino. Para além da reconhecida qualidade das jogadoras (portuguesas e não só) e da valorização e crescimento que isso trouxe ao nosso país, compete à Federação Portuguesa de Futebol encontrar soluções e estratégias para que também os outros clubes sintam que são apoiados. Há que criar um fundo maior de apoio aos restantes clubes que, muitas das vezes, pagam com um lanche às suas jogadoras todo o esforço de uma temporada. Esta luta desigual tem de ser revista e nunca seria com um teto salarial, como foi recentemente proposto, que tal iria acontecer. Mais do que um teto, as jogadoras precisam de um chão que possam pisar em segurança sabendo que estão a fazer aquilo que gostam e que isso é reconhecido também financeiramente. Esse é o próximo passo e dos mais importantes que o futebol feminino português pode dar, no ressurgimento dos grandes clubes que outrora dominavam e também no aumento da competitividade no principal campeonato para três clubes que trouxeram muita coisa de bom - sem dúvida alguma - mas que precisam de ser desafiados para também eles sentirem que há mais clubes fortes em Portugal. Só assim teremos representantes nas fases mais adiantadas da Liga dos Campeões e só assim teremos uma seleção nacional capaz de marcar presença de forma inquestionável em Europeus e Mundiais de futebol.



REDIGIDO POR: António Sousa


António Sousa é, aos 22 anos, um aspirante a treinador de futebol. Apaixonado pelo desporto e pela escrita, procura dar reconhecimento a pessoas e clubes que não são falados no contexto mediático da sociedade atual. É emotivo, intenso e criativo, características que procura potenciar na sua vida profissional.

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