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O Ponto Mental é o Ponto Decisivo



Histórias do Desporto: Ponto decisivo - uma série documental, da Netflix, baseada na vida, de Andy Roddick e Mardy Fish, duas estrelas do ténis americano.


A Associação de Ténis dos Estados Unidos criou um programa nacional para apoiar jogadores talentosos através de centros de treinos regionais. Desses jovens, foi feita uma triagem, criando um centro de treino nacional e oferecendo uma bolsa de estudos para os melhores tenistas. Por fim, restaram os dez mais talentosos e procurou-se desses, desenvolver um campeão, e uma estrela ascendente capaz de chegar ao topo do ténis mundial, mantendo o ténis americano sempre como referência.


Descrito pelas pessoas que o acompanhavam na altura, Mardy Fish, pelas suas características físicas e pelo seu ténis, nunca foi um prodígio, por outro lado, mentalmente e emocionalmente era muito forte. Já Andy Roddick era diferenciado e mais competitivo que todos os outros. Destacava-se pela intensidade e pelo "vício" de vencer.


O centro de treinos para estes jovens, era o mesmo onde treinavam os profissionais, os tenistas de topo da altura em terreno americano. A exigência para os jovens acabados de chegar era grande, mas ver os melhores treinar e treinar com os melhores dava um "boost" de motivação e inspiração importantes para continuar o árduo trabalho que teriam pela frente.


Andy foi o escolhido para ser a nova esperança do ténis americano e, Mardy acabou escolhido para servir as necessidades de Andy - ser seu companheiro de treino. Saíram aos 16 anos do centro de treinos, e Mardy foi viver com a família de Andy. A convivência e o crescimento de ambos, acabou por tornar ambos muito bons, e o dia-a-dia deles, era sempre competitivo, disputavam tudo e obrigavam-se a crescer mutuamente. Dessa forma, passaram, rapidamente, de jogadores de topo a nível nacional, para serem referências a nível mundial.


A resistência mental é um factor muito importante para alguém que quer ser o melhor na sua área. Neste caso, essa disciplina mental, mas também física, foi incutida desde criança. O rotina diária passava por treinar de manhã, seguido de ginásio, ir para a escola e, depois da escola, voltar a treinar. O treino faz a prática, ou como refere o Professor Catedrático Manuel Sérgio "a prática é o critério da verdade".


O lema na altura era: “Conseguir resistência mental é algo que não é fácil. Mas há um caminho que pode ser seguido. 100% de esforço, sem lamentos ou lamurios, nem atalhos.” Na verdade, os dois atletas perderam toda uma infância dita normal, para se dedicarem a serem profissionais de ténis. É uma forma interessante de se crescer, acabavam por sentir a pressão e a responsabilidade de todos os lados.


Aos 21 anos têm a primeira final de uma grande competição, a nível interno, e jogam um contra o outro. Mardy Fish consegue o match point e debate-se aí, num momento de decisão, com as suas primeiras dúvidas, e com os seus pensamentos a criarem-lhe alguma desconcentração. Andy dá a volta ao jogo e vence, num jogo que dita o próximo grande jogador de ténis americano. O sucesso de Roddick foi incrível, numa altura onde o ténis americano deixava de ser a referência, e apareciam no topo jogadores de várias nacionalidades.


Mardy Fish, era feliz como profissional de ténis, no entanto não tinha o compromisso e o empenho total para transformar todo o seu potencial no melhor rendimento que conseguia. De forma a tentar chegar o mais longe possível, acabou por ter de alterar o seu mindset, mudou o seu dia-a-dia, contratou um personal trainer, um fisioterapeuta e comprou uma câmara hiperbárica. Estabeleceu um objetivo muito ambicioso e dedicou-se a 100%, todos os dias. Começou a fazer dieta e a controlar a sua alimentação, retirou o álcool da sua vida, treinou todos os dias, mais do que uma vez por dia e passou de 92kg para 78kg. Estava na melhor forma de sempre e, cada passo, cada decisão do dia-a-dia, tinham como foco principal a sua carreira.


Começou por entrar em pequenos torneios, para perceber como estava e se sentia. Inicialmente era o número 123 do ranking. Venceu, e a partir daí foi subindo a escada, degrau a degrau. Seguidamente, o tenista americano começou a jogar torneios contra o top-10 mundial, frente a atletas que nunca tinha vencido, e começa a ganhar essas partidas e torneios, isso catapultou-o para o top-20. De seguida defronta, o seu parceiro, com o qual já tinha perdido 9 vezes consecutivas, desta vez sendo o resultado diferente e. como tal histórico na vida destes dois, principalmente para Fish, que passava a ser o melhor jogador do país. Daí foi um pequeno passo até conseguir atingir o objetivo que se tinha proposto -top-8 mundial, e ir a Londres, às finais do Torneio Mundial de ATP.


Viver o sonho, é algo fantástico, mas aumenta a responsabilidade, e isso traz uma pressão tremenda. Como se costuma dizer, quanto mais se sobe, mais difícil se torna. Todo este processo, o caminho, estar no auge do ténis mundial, traz também outro mundo - os eventos de cariz social, a presença em eventos de marcas ou programas de televisão, as constantes viagens…


Tudo aquilo que levou Mardy Fish ao topo, provocou nele um cansaço, um stress e uma pressão tal, que acabou por fazê-lo desviar-se do caminho e perder o foco. Assim o torneio, que representava o seu principal objetivo, aquilo para que trabalhou a vida toda, ao segundo jogo, e depois de perder o primeiro contra Roger Federer, toda uma tempestade de pensamentos negativos veio ao de cima. O tenista não conseguia interromper todos aqueles pensamentos que o enrolavam e rasteiravam, e, logo numa altura que ia jogar o maior jogo da sua vida. Tinha preparado este jogo a vida toda - mental, física e emocionalmente -, mas a caminho do campo a mente divagava por todo o lado. Um turbilhão de sentimentos e emoções em catadupa, o coração acelerava, como se ficasse sem controlar a respiração. Perturbação de ansiedade, perturbação de pânico, saúde mental? Como ultrapassar algo assim? Sentia desespero, sem saber o que fazer. Fez exames para perceber o que se passava e acabou por desistir, foi demais para ele… O ténis não estava mau, mas a cabeça dele estava. Tinha problemas de saúde mental. Como é que se ajuda alguém que não sabemos o que tem? Que não fazemos a mínima ideia do que está a passar? Que não tinha falado do assunto com ninguém? O tenista americano sempre foi treinado para não mostrar fraqueza quando caia sete vezes tinha de se levantar oito, e, de repente não tinha mais força para se levantar.


Andy Roddick antes do Open do seus país, sentia-se saturado de toda a preparação por detrás de um desportista de alto nível, decidindo, assim, terminar a carreira no final desse torneio, aos 30 anos.


Em relação ao Mardy, nós pensamos, como é que alguém pode desistir quando está perto de alcançar um feito que só poucos têm acesso? Desistiu devido a problemas de saúde. Antes de um jogo, que era, seguramente, um dos mais importante da sua carreira e frente a um dos melhores tenistas de sempre, ele não conseguiu entrar em campo… Com o devido acompanhamento de um profissional da área, sete dias por semana, foi tentando mudar a sua forma de pensar, através de alguns processos recomendados para ele especificamente. Falar daquilo que se ia passando, ajudou-o a melhorar e a perceber que aquilo que sentia era algo cada vez mais comum, que não era o único, apesar do medo e estereótipo que havia em se falar deste tipo de assuntos na época. Ao falar, acabou por partilhar, e ao partilhar ajudou-se a ele mesmo!


Como é que pegamos no lado mental do jogo, no lado mental do desporto e usamos isso para nos ajudar?


Fernando Pimenta disse recentemente, “Temos de acabar com o tabu em torno da saúde mental e dizer “eu sou seguido, eu sou acompanhado, eu cuido de mim.””.


Num documentário sobre a vida de Steven Gerrard, o mesmo aborda esta temática, chegando mesmo a referir que teve de sair do Liverpool para ir para outro contexto, de forma a conseguir jogar futebol e continuar a ter gosto nisso.


Não deveria o desporto ser algo bom, agradável, que nos faça bem e nos divirta? Estas são batalhas diárias que devemos ir ganhando a cada dia!


Redigido por Gonçalo Barbosa


• Treinador de Futebol - UEFA B

• Treinador de Técnica Individual

• Personal Trainer

• Comentador Desportivo

• Analista

• Scout / Observador

• Master Degree - High Performance Training

• Árbitro de Goalball

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