Artigo escrito para o site do Bola na Rede, disponível no link abaixo:
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Aos 73 anos de idade, Jesualdo Ferreira está a realizar, segundo o próprio, o “último maior desafio” da sua carreira. Com uma equipa técnica com mais três portugueses (Pedro Bouças, António Oliveira e Rui Águas), Jesualdo começa a mostrar dinâmicas típicas das suas anteriores equipas e que poderão fazer a diferença no contexto em que estão inseridos.
O Santos FC realizou uma época positiva na temporada passada, atingindo o segundo lugar no Brasileirão. Nesta temporada, os comandados de Jesualdo somam seis vitórias, três empates e três derrotas; encontrando-se em primeiro lugar no grupo da Libertadores e, também em primeiro no respetivo grupo do Campeonato Paulista.
Com o seu habitual 4x3x3, Jesualdo tem imposto dinâmicas interessantes, mantendo sempre princípios táticos que o levaram a elevados patamares, como a construção de jogo a três com descida do médio defensivo, as triangulações nos corredores, as trocas posicionais entre médios e avançados ou a verticalidade dos médios interiores da equipa.
Apesar de apresentar como base o 4x3x3, a equipa altera a estrutura tática dependendo do momento do jogo, apresentando-se algumas vezes em 4x4x2 com duplo pivô no meio campo e com dois avançados na frente.
Figura 1: Organização ofensiva do Santos FC no seu habitual 4x3x3
Dinâmicas do Santos em Ataque Posicional:
Construção de Jogo
A construção do Santos apresenta no jogo de corredores o seu ponto mais forte. A equipa brasileira gosta de sair por fora e utiliza alguns movimentos padrão para o fazer.
A construção é iniciada com uma linha de três, com o médio defensivo a descer no terreno e os centrais a abrirem. Os laterais encontram-se abertos nos corredores, fechando por dentro quando a bola se encontra no lateral do lado contrário. Já os médios interiores têm funções de início de criação de jogo, posicionando-se numa primeira fase entre a linha média e a linha atacante do adversário (formação de um triângulo com central e lateral) e, numa segunda fase, um dos médios posiciona-se entre a linha defensiva e a linha média adversária (formação de um triângulo com lateral e extremo) e o outro em zonas mais recuadas preparando possível transição defensiva. Os avançados são bastante móveis, podendo assumir diferentes papéis ao longo da construção de jogo. Normalmente, posicionam-se junto ao corredor ou entre linhas, atraindo os defesas adversários para espaços interiores e, consequentemente, abrindo espaço no corredor para o lateral.
Os centrais são peças fundamentais na construção de jogo, sendo, normalmente, eles a executar o passe vertical que permite à equipa entrar em zonas de criação. Jesualdo exalta a importância de ter centrais com a qualidade técnico-tática para este momento do jogo.
Uma das dinâmicas mais utilizadas na construção de jogo é a atração da linha média da equipa adversária pelo posicionamento dos dois médios interiores em zonas centrais e consequente exploração dos corredores pelo lateral. O passe vertical para zonas de criação com médios interiores ou avançados a receber e combinarem é outro dos momentos de construção mais facultados pela equipa. A procura da profundidade, apesar de não ser das armas mais fortes da equipa (muito pelas caraterísticas dos jogadores), é utilizada algumas vezes, nomeadamente com a entrada no espaço entre central e lateral por Pituca.
Da criação para a finalização
Uma das imagens de marca das equipas de Jesualdo é a fluidez de jogo nos corredores laterais. No Santos acontece exatamente o mesmo! Muitas das melhores oportunidades da turma do Peixe começam com dinâmicas nos corredores. Com o lateral subido, o médio em espaço entre linhas e o avançado encostado ao corredor, a equipa brasileira consegue desenvolver combinações e criar superioridade para situação de cruzamento ou passe próximos da área. A equipa tem conseguido criar maior desequilíbrio através desta dinâmica quando existe uma pressão passiva da equipa adversária ou quando é executado um passe longo para mudar de flanco, apanhando desprevenida a equipa adversária e criando espaço para um momento de superioridade numérica no corredor.
Estas triangulações nos corredores nem sempre são suficientes para criar momentos de desequilíbrio em zonas de criação. Dessa maneira, o avançado centro sai da marcação dos centrais e posiciona-se entre linhas para criar nova superioridade numérica.
Os médios têm também um papel fundamental no desmontar das estruturas adversárias, não só através das combinações com avançados e laterais, mas também pelos movimentos verticais que executam, explorando nomeadamente o espaço entre lateral e central da equipa adversária.
Os avançados não têm um posicionamento estático, antes pelo contrário, realizam trocas posicionais com os médios interiores, e alternam entre apoio para combinação, movimentos à largura e movimentos de rutura na linha defensiva adversária.
O Santos é uma equipa que chega rápido a zonas de finalização e, apesar de ter “apenas” 13 golos em 12 partidas jogadas, mostra nuances interessantes que têm margem para melhorar.
Antes da chegada a zonas de finalização, os avançados (avançado centro e o extremo do lado contrário ao da bola) posicionam-se de forma a garantir o um contra um com os defesas que os estão a marcar.
Normalmente, colocam sempre vários jogadores na área, mas têm sempre uma intencionalidade no posicionamento e nos movimentos. Alguns dos princípios que utilizam para criar vantagem em zonas de finalização são o posicionamento no lado “cego” dos defesas, movimento de atração para criação de espaço e movimento para atacar esse espaço. Os cruzamentos são passes intencionais em busca do jogador que possa oferecer melhores soluções, de acordo com o espaço e tempo que tenha.
Não só os avançados participam em fase de finalização, também os médios e os próprios laterais poderão fazer a diferença neste momento em ataque posicional. Uma das chaves para a criação de espaço para finalizar é, sem dúvida, a atração dos adversários pelos movimentos intencionais dos jogadores da equipa de Jesualdo.
Todas estas dinâmicas são possíveis pela qualidade técnica de vários jogadores, falo, por exemplo de Soteldo, Carlos Sanchez, Diego Pituca, Sasha, Kaio ou Lucas Veríssimo.
Vejam no vídeo:
As receções orientadas e a dinâmica ofensiva da equipa
O modelo jogo de Jesualdo funciona muito à base da aceleração e da intensidade ao nível das combinações em zonas de criação. Dessa maneira, a receção orientada como ponto de partida para encarar o jogo de frente, acelerar e executar é fulcral neste sistema que privilegia um jogo mais associativo. A tomada de decisão antes de receber é um dos princípios que permite ao jogador ser mais eficiente na receção e na execução da ação seguinte. Perceção do espaço e do posicionamento, tomada de decisão, receção com orientação corporal adequada, progressão com bola no espaço e execução são pequenos pormenores que marcam a diferença dos medíocres para os grandes jogadores.
No vídeo anterior foram destacadas as receções orientadas de vários jogadores, denotando-se influência de Jesualdo.
Veja no vídeo:
Posicionados para recuperar
Outro dos princípios utilizados pelo Santos na sua organização ofensiva é o posicionamento dos seus jogadores para evitarem a transição ofensiva do adversário e recuperarem a bola no menor intervalo de tempo possível. Para isso, é de extrema importância o papel do médio defensivo, posicionando-se, quase sempre, em zonas onde a probabilidade da bola cair é grande.
Também um dos médios centro posiciona-se, normalmente, um pouco à frente do médio defensivo, recuperando muitas bolas em zonas subidas.
A equipa junta e coesa, com linhas próximas, com jogadores com capacidade tática para perceber o melhor posicionamento para a equipa, são características que Jesualdo quer impor neste seu Santos FC.
E depois disso, claro, sair em transição, aproveitando o espaço dado pelo adversário.
Um treinador que eu admiro pela experiência, pelas ideias atuais, pela personalidade e que acredito ter tudo para triunfar no Brasil!
Redigido por: Diogo Coelho
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