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O momento defensivo do Benfica- um problema coletivo ou individual?

Atualizado: 7 de jun. de 2020

Depois de uma fase de grande fulgor da equipa a nível exibicional, o Benfica entrou neste ano de 2020 com um abaixamento de forma coletivo em diversos momentos do jogo. Tudo isso levou a uma queda do nível exibicional visível há muitos jogos, mas com agravamento desde o jogo no dragão. Bruno Lage refere que os erros cometidos nos últimos jogos deveram-se a debilidades identificadas há algum tempo no plantel, mas que tinham sido escondidas até ao momento. Estas debilidades que Lage fala não são mais que caraterísticas dos próprios jogadores, que são mais fortes em determinados aspetos do que noutros. Por exemplo, toda a gente denota uma qualidade ofensiva enorme em Grimaldo, mas no aspeto defensivo e nos duelos individuais fica aquém. Os pontos mais fracos dos jogadores do Benfica tornam-se muito mais visíveis quando enfrentam equipas de maior intensidade e que tentam assumir maior iniciativa de jogo. São exemplos disso os jogos da liga dos campeões, os 2 jogos frente ao FC Porto ou frente ao FC Famalicão. Isto acontece porque são equipas capazes de construir desde trás, de preservar a posse de bola durante mais tempo e de colocar mais jogadores em espaço atacante. Quando isto acontece o Benfica sente extremas dificuldades. Nos últimos 4 jogos (Belenenses Sad, FC Famalicão, FC Porto e FC Famalicão, novamente) a equipa encarnada teve no máximo 56% de posse de bola, fez menos remates que o adversário (com exceção do jogo em casa com a equipa famalicense) e nos dois últimos jogos teve menos duelos individuais ganhos que o adversário.


Tem valido a eficácia à equipa do Benfica, principalmente graças a Vinicius- conta com 19 golos e 12 assistências esta temporada.

A quebra dos níveis exibicionais devem-se a determinados fatores que terão de ser obrigatoriamente trabalhados, ainda para mais com a ausência de Gabriel (na minha opinião o jogador mais importante para a equipa, como vai ser explicado, posteriormente), nomeadamente:

  1. Dinâmicas ofensivas ao nível do ataque posicional- O Benfica tem tido dificuldade na circulação de bola em ataque continuado. Com a entrada de Rafa em detrimento de Chiquinho, o Benfica ganhou mais vertigem, mas perdeu na clarividência e na tomada de decisão no espaço entre linhas. O próprio Rafa não tem caraterísticas para a posição de segundo avançado para a maioria dos jogos da Liga Nos, porque é um jogador que precisa de espaço para acelerar e impor o seu jogo. Taarabt sempre foi um "10" durante toda a sua carreira e o foco quase sempre para o ataque leva a perdas de bola e a momentos de transição da equipa adversária. Pizzi tem estado muito encostado à linha e a equipa precisa que este dê a cara no momento de posse e de tomada de decisão. Uma espécie de "fetiche" dos adeptos encarnados, Cervi acrescenta muito em termos defensivos, mas acaba por não mostrar tanta qualidade em termos de criatividade e na gestão da posse. O próprio Grimaldo não te conseguido marcar a diferença ofensivamente. A capacidade de Weigl para entrar mais no jogo e arriscar mais no passe longo ou entre linhas dará mais dinâmica ao ataque e posse de bola. A equipa da Luz nas 4 últimas partidas, em 3 criou menos lances de perigo que o adversário. A sua eficácia, nomeadamente por Vinicius tem sido a salvação. A introdução de Chiquinho no onze com papéis mais de médio ofensivo (como fazia em Moreira de Cónegos) também poderá ajudar neste particular, pela sua capacidade de decidir no último terço, principalmente ao nível do passe.

  2. Pressão em zonas avançadas- O Benfica tenta impor uma pressão alta, mas a qualidade dos adversários, o posicionamento inadequado, a busca da profundidade pela equipa adversária (principalmente, pelo lado esquerdo da defensiva dos encarnados) ou a baixa percentagem de duelos ganhos pelos jogadores do Benfica tem tornado esta pressão menos eficaz. A dinâmica de pressão para bloquear a saída de jogo do adversário, normalmente é feita com uma linha de 2 jogadores na frente (Rafa e Vinicius), uma linha de 4 (Cervi, Taarabt, Weigl, Pizzi) e a linha de 4 defesas. A primeira linha normalmente é facilmente ultrapassada com uma construção a três ou em largura. O momento de forma de Rafa não é o favorável e denota-se que com o decorrer do jogo perde alguma intensidade. A segunda linha tem um comportamento agressivo de busca da bola com o primeiro médio (Taarabt) mais subido e Weigl/Florentino no controlo de zonas entre linhas e também com papel de pressionar em terrenos mais adiantados em momentos do jogo. No momento em que a equipa adversária coloca a bola perto da zona de Weigl/Florentino, o Benfica tem enorme dificuldade em definir zonas de pressão. Neste momento do jogo, e com especial relevo para os últimos jogos (equipas com jogadores de maior qualidade e que podem marcar a diferença em termos individuais), os jogadores da equipa adversária conseguem chegar a zonas de finalização. A capacidade de ganhar mais duelos torna-se muito importante, tal como a eficácia no desarme. Também o rigor tático e o fator comportamental (intensidade e agressividade) dos centrais e do médio defensivo para redução do espaço entre linhas é relevante. O melhor jogador do Benfica neste momento de jogo era Gabriel que tem a maior percentagem de duelos ganhos na Liga Nos e é o segundo com mais desarmes na equipa do Benfica. Sem Gabriel a equipa terá uma dificuldade adicional na recuperação da bola e na pressão ao adversário.

  3. Posicionamento defensivo e agressividade defensiva- Não falo só dos 4 jogadores da defesa, mas também nos médios e avançados. O lado esquerdo da defesa tem sido o mais procurado em termos ofensivos pelas equipas adversárias. Ferro não apresenta um momento de forma condizente com a sua qualidade e tem cometido erros primários de antecipação e de arrastamento pelo avançado que não são normais. Já Grimaldo apresenta-se também num momento de forma menos bom tanto a nível defensivo como ofensivo, e poderá fazer mais do que aquilo que tem feito quando recuperar o seu habitual andamento.


Chiquinho poderá ter um papel importante no momento de ataque posicional e de posse de bola.

Deste modo, o problema do Benfica reside nomeadamente no aspeto coletivo, mas também em momentos de forma abaixo do esperado que certos jogadores estão a passar.

No próximo vídeo são apresentados erros da equipa relativos aos 3 últimos jogos:





E agora sem Gabriel?

A equipa do Benfica tem como ponto mais forte o momento em que recupera a bola e parte para transição ofensiva. Desde que Lage entrou na equipa apostou de imediato numa equipa de pressão alta, com condicionamento do adversário e de recuperação de bola, com sucessivo momento de transição. Gabriel era o jogador fundamental nesta dinâmica de jogo pela capacidade que tem em recuperar a bola e entregar ao companheiro de forma eficaz. Apresenta uma das percentagens mais elevadas de duelos ganhos, desarmes e recuperações de bola na Liga NOS- muito provavelmente o melhor jogador da liga neste momento do jogo.

Se no momento de pressão ao adversário se destacava, também a nível de ataque posicional fazia a diferença, pelo menos quando estava em dia "sim". É um jogador que insiste na utilização do passe longo, tanto na mudança de flanco como na exploração da profundidade. Quando o médio tinha uma boa percentagem de eficácia de passe e com a sua capacidade de recuperação de bola em zonas subidas, a equipa surgia com uma grande dinâmica, quer pela capacidade de ferir o adversário com bola quer pelo facto de não se expor tantas vezes ao perigo defensivo pela recuperação rápida da bola.

Apesar de ter momentos do jogo em que decide demasiadas vezes mal, provocando a perda de posse da equipa e a consequente transição defensiva, Gabriel é um jogador crucial na estratégia do Benfica.

Cabe agora a Lage arranjar soluções eficazes para substituir o jogador brasileiro.



Quadro explicativo da importância de Gabriel na dinâmica do Benfica (jogos a nível nacional, apenas)



Redigido por Diogo Coelho











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