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Miguel Ángel Ramirez e o seu Independiente del Valle - Princípios em Ataque Posicional

Atualizado: 20 de nov. de 2021



"A 1º fase de construção serve para criar espaços e, posteriormente, atacar com mais jogadores" - Nuno Campos em Quarentena da Bola


Em tempos em que o futebol europeu domina e atrai uma maior atenção, resolvi trazer um pouco daquilo que se faz de bom na América do Sul. O Independiente del Valle surpreendeu pela conquista da Copa Sudamericana de 2019, após eliminar, por exemplo, equipas como o Corinthians, Independiente e o Colón. O título valeu-lhe a presença na final da Recopa Sudamericana, perdida para o Flamengo de Jorge Jesus. Este ano continua a mostra-se num bom nível. Por exemplo, na Libertadores já soma 2 vitórias na fase de grupos e é a equipa com mais posse de bola da prova.


No futebol moderno, as equipas cada vez mais são coesas e compactas defensivamente, tornando-se fundamental conseguir gerar o nosso próprio espaço e garantir superioridade numérica nesses mesmos espaços. A importância da primeira fase de construção é inegável quando se quer ser desequilibrador desde trás. A equipa que conseguir ter um variabilidade maior neste momento do jogo terá melhores condições para chegar a zonas de criação com bola "limpa".

Nos anos recentes tem surgido várias formas diferentes de construir com base na análise do adversário, na identidade e princípios da equipa e criatividade do treinador. Quem quer construir desde trás com qualidade terá de conseguir ter uma superioridade numérica neste momento do jogo. E mais importante que a vantagem numérica é a vantagem posicional e a qualidade técnico-tática de cada jogador.

No vídeo seguinte, Miguel Ramirez explica um pouco da filosofia que tem imposto na equipa equatoriana- a procura do espaço e do timing para o explorar é fundamental para causar desequilíbrio em ataque posicional.

Quando olhamos para a equipa de Miguel Ramirez identificamos inteligência, perceção do espaço e conforto com bola em todos os setores da equipa (contabilizo também o guarda-redes). Seja qual for a forma como começam a construir, têm determinados macroprincípios que fazem parte da sua identidade e que jamais são esquecidos:

1. Utilização do guarda-redes na primeira fase de construção como elemento para criação superioridade numérica;

2. A superioridade numérica na construção de jogo é peça assente nas dinâmicas da equipa equatoriana;

3. Centrais a procurar quebrar linhas através de passe vertical para ligação setorial;

4. Presença de um médio atrás da 1º linha de pressão adversária, não só capaz de receber para ligar, mas também para fixar jogadores dessa mesma 1º linha de pressão e libertar um dos centrais para assumir a ligação;

5. Posicionamento entre-linhas para ligar e acelerar;

6. Movimentações para gerar espaço e soluções para o portador de bola;

7. Múltiplas linhas de passe dadas ao portador da bola, sempre, pelo menos três, à sua direita, esquerda e em apoio;


É na construção de jogo que se começa a definir o jogo ofensivo de qualquer equipa. Para quem pretende ter um jogo ligado desde trás para chegar a zonas de criação em posse, a 1º fase de construção como maneira de atrair o adversário e gerar espaço entre-linhas é um princípio primordial.

Ultrapassada a primeira linha de pressão, terá de existir um comportamento com bola e um comportamento sem bola, ambos importantes sem que nenhum esteja acima do outro.

Perceção, resolução e ação! Se esta trilogia for desenvolvida com qualidade (intervalo de tempo curto e gesto técnico intencional e gerador de maior espaço) provocará uma aceleração imediata no jogo. Depois, os posicionamentos de vários jogadores entre-linhas capazes de constrangir o adversário e criar linhas de passe que superem linhas adversárias, assim como os posicionamentos de elementos à largura, a oferecer amplitude, trazem ao Independiente uma variabilidade na criação importante para ferir o adversário. Os movimentos de atração e arrastamento são constantemente utilizados para gerar espaço ao portador da bola e para lhe oferecer mais soluções de passe.

No último terço há que dar liberdade criativa aos jogadores, respeitando sempre princípios de desequilíbrio do adversário como movimentações em apoio, rutura ou largura. As relações e interações entre jogadores criam um envolvimento coletivo que permite uma tomada de decisão mais facilitada. Liberdade criativa, mas sempre com respeito pelos conceitos geradores de espaço e de desequilíbrio do adversário.


"Crio constantemente relações entre os jogadores, com bola e coletivos... Perceber o conceito de zona é fundamental" | "Nenhum jogador meu pode estar sozinho, todos têm de estar ligados através de linhas de passe e a partir daí, todos os jogadores têm que decidir. São eles que decidem!" - Fernando Valente em Quarentena da Bola.



Redigido por: Diogo Coelho

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