Eurico Gomes - O (único) Tríplice Campeão
- Pensar o Jogo
- 27 de dez. de 2021
- 4 min de leitura

Damos hoje início a uma rubrica que pretende dar palco a ex-futebolistas, antigas estrelas do nosso amado Futebol, ilustrando cada publicação com cromos dos mesmos.
Os cromos, alguns com dezenas de anos, permitem-nos fazer uma viagem impagável e que quase nos transportam, pelo toque ou simples olhar, para os tempos de um Futebol antigo, quiçá mais puro, com mais histórias de amor pelo jogo e pelas camisolas.
Os cromos não representam a totalidade de cromos que existem de cada jogador, mas apenas aqueles que fazem parte da minha coleção pessoal.
Temos a certeza de que faremos viagens fantásticas ao passado do futebol português e internacional, instruindo os mais jovens e emocionando os mais “experientes”.
Decidimos começar por Eurico Gomes! Nome ímpar da história do futebol português. Alguém a quem um dia Bobby Robson disse, que se fosse inglês e tivesse conseguido em Inglaterra o que Eurico conseguiu em Portugal, teria uma estátua e entrada livre em todos os clubes. Seria Sir.
Vamos conhecer o seu percurso.
Eurico Monteiro Gomes.
Nascia a 29 de Setembro de 1955, aquele que é até hoje, o único jogador de futebol, com título de Campeão Nacional pelos 3 grandes clubes do Desporto em Portugal, SL Benfica, Sporting CP e FC Porto.
De Trás-os-Montes até ao reconhecimento internacional pela sua qualidade enquanto futebolista, Eurico percorreu um longo caminho. Coragem e perseverança jamais deixaram de ser as suas principais qualidades. Foi recompensado, passando aos anais da História do futebol português como o único futebolista nacional com o titulo de campeão nos três grandes clubes de Portugal.
Chegou a Lisboa com 13 anos. Aos 14 anos levou a primeira chibatada emocional, quando a oferta de quinhentos escudos/mês, vinda da Luz (descoberto por Mário Coluna, num clube local, o Várzea), esbarrou nos dois mil e quinhentos que auferia como aprendiz numa oficina de automóveis na Póvoa de Santo Adrião. Não se acomodou. Já em representação do Odivelas, um ano depois, a nova investida benfiquista registava significativo aumento da parada. Por quatro notas de mil agarrou a proposta e de vermelho deu cor ao sonho. Jogava como médio, mas como era alto e possuía um excelente tempo de salto, recuou para o centro da defesa e foi nessa posição que chegou às seleções jovens, tornando-se num dos mais promissores centrais da sua geração.
Em pleno PREC, no verão de 75, depois duma época nas Reservas, ascendeu à equipa principal, com a incumbência de substituir Humberto Coelho, acabado de ingressar no futebol francês. Fervor revolucionário é que lhe não faltou e impôs a sua irreverente presença juvenil no centro da defesa encarnada. Ao longo de quatro temporadas, disputou 119 jogos (dos quais 11 para a Taça dos Campeões Europeus), vencendo dois Campeonatos e tornando-se num dos mais jovens e promissores recém-internacionais. Fez dupla com Messias, Bastos Lopes, Barros, Alhinho e o regressado Humberto Coelho. Eurico personificava o defesa sólido, hercúleo até, sempre disponível, coadjutor, permanentemente solidário. Fez um ano com Mário Wilson, que o projetou em Guimarães, numa vitória (2-0) do Benfica, e os outros três sob o comando do britânico John Mortimore. Passou da eficiência (ao lado de Carlos Alhinho) à consagração (com Humberto Coelho), até chegar à sua última época no clube da Luz, onde não foi tão feliz quanto nas épocas anteriores.
Na Luz, Eurico deixou a marca de grande defesa-central na marcação homem-a-homem. Era a sua especialidade.
No Verão de 1979 foi um dos protagonistas de uma guerra entre Benfica e Sporting, que o levou para Alvalade juntamente com Fidalgo, enquanto Botelho e João Laranjeira faziam o percurso inverso. O SL Benfica terá demorado um pouco mais a avançar para a renovação, pelo que Eurico aceitou uma proposta que João Rocha lhe fez, e apesar de os dirigentes benfiquistas o terem tentado convencer a voltar atrás, manteve-se irredutível, pois já tinha dado a sua palavra ao Sporting.
Seguir-se-iam então três temporadas ao serviço do clube de Alvalade. Eurico fez 117 jogos oficiais ao serviço da equipa principal do clube, nos quais marcou 2 golos, foi duas vezes Campeão Nacional (tal como no Benfica) e ganhou uma Taça de Portugal, tonando-se no verdadeiro patrão da defesa leonina. Confirmou-se definitivamente como um central completo e de classe ímpar, de tal forma que a sua saída no final da época de 1981/1982, é identificada como um dos grandes motivos para a quebra de rendimento de uma equipa que tinha acabado de conquistar uma "dobradinha".
Em 1981 foi distinguido com o Prémio Stromp na categoria Atleta Profissional.
No Verão de 1982, com 27 anos, Eurico foi envolvido em mais uma disputa entre João Rocha e Pinto da Costa e, partiu para o FC Porto de José Maria Pedroto, onde ganhou mais dois Campeonatos. No Porto ganhou ainda uma Taça de Portugal, duas Supertaças e esteve na Final das Taças das Taças de 1984.
Em Agosto de 1985 fracturou o perónio após um choque com o benfiquista Nunes, uma lesão que o impediu de marcar presença no Mundial de 1986, e de contribuir para a conquista da Taça dos Campeões Europeus de 1987, dado que a recuperação foi lenta.
Em 1987, sai do FC Porto por sentir que o clube não confia em si, e ingressou no Vitória de Setúbal, clube onde dois anos depois terminaria a sua brilhante carreira de futebolista profissional, reencontrando aí o técnico inglês Malcolm Allison.
Tornou-se então treinador de futebol, tendo conseguido algum destaque, principalmente no Tirsense que trouxe de volta à 1ª Divisão (com título de Campeão Nacional da II Divisão, para além de ter trabalhado no Rio Ave, Varzim, Torreense, Ovarense, Nacional, Académica, U.Leiria, P.Ferreira, Santa Clara e Maia. Foi também adjunto de Jupp Heynckes no Benfica, e teve algumas experiências no estrangeiro, em países como Argélia, Grécia e Arábia Saudita, onde treinou o Al Nassr, um dos maiores clubes sauditas.
Pela Seleção Nacional de Portugal, vestiu a camisola da seleção principal por 38 vezes e apontou 3 golos. Estreou-se em 1978 num amigável frente aos Estados Unidos da América, com vitória nacional por 1-0.
Participou no Campeonato Europeu de 1984, em França, tendo jogado todos os jogos e minutos na grande caminhada até às meias-finais da competição. Unanimemente considerado um dos melhores defesas dessa competição.

Cromo Campeonato Europa 84
Eurico Gomes nos tempos de Sporting CP

Redigido por João Ferreira
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