“El fútbol es el juego más complejo del mundo.” - Paco Seirul-lo
Partir deste pressuposto para o artigo é ambicioso, mas também uma grande responsabilidade. Este artigo para além de ser uma exposição da conceptualização de Paco Seirul-lo sobre o jogo, é igualmente suportada por alguns treinadores, que ao longo do tempo se têm debruçado acerca do “Jogo de Posição”, entre eles Agustín Peraita Serra e Óscar Cano, ambos têm dissertado acerca dos Espaços de Fase, da Teoria do Treino Estruturado e do Jogo de Posição, paradigma muito ligado ao FC Barcelona e a “La Masia”.
Porque nem no Futebol nem na vida está tudo inventado, nem perto disso, é sempre bom “ouvir" formas de sistematizar o jogo diferentes das que estamos habituados, novas nomenclaturas, e ao fim e ao cabo, novos conceitos que nos podem ser muito úteis para a evolução da nossa modelação, da nossa análise e do nosso treino.
Se o jogo é complexo, é necessário criar conceitos para o explicar… ou melhor… para o fazer chegar aos atores (Jogadores) o nosso filme (Jogo), porque como diria Vítor Frade, o jogo não se ensina, aprende-se!
Assim sendo há que entender o que são Espaços de Fase, segundo Serra (2020), são ferramentas de interpretação do jogo, instante a instante, ou seja, é um conceito que facilita a análise daquilo que está a ocorrer no jogo, sendo igualmente antecipava do que irá ocorrer. De forma mais sintética os Espaços de Fase, são constituídos por diferentes variáveis de análise que permitem uma interpretação concreta da ação de cada umas das peças constituintes do jogo (Jogador).
Para a sua análise são necessários algumas variáveis:
- A zona onde se encontra a bola - sendo para isso necessário uma sistematização do espaço de jogo, em corredores e setores;
- O posicionamento dos jogadores - variável de análise do posicionamento de todos os jogadores em campo, os elementos de cooperação e os elementos de oposição;
- A orientação dos jogadores - orientação corporal e visual que os jogadores adotam, elemento fundamental para tornar mais eficiente a ação a tomar;
- A trajetória dos elementos constituintes - que movimentos os jogadores estão a adotar;
- A individualidade dos jogadores - sendo a mesma constituída por diferentes estruturas (biológica, coordenativa, condicional, cognitiva, mental, emotivo-volitava, expressivo-criativa, socioafetiva (Peñas, 2019));
- Grupos de Ressonância Empática - Vínculos invisíveis entre jogadores cooperantes, ou seja, da mesma equipa.
Para melhor perceber e sistematizar o pensamento, Serra (2020), denomina as seguintes ferramentas como Marcos de interpretação dos Espaços de Fase:
• Os Tipos de Espaço
- Espaço de Intervenção - comumente denominado por Centro de Jogo, ou seja, área onde a bola se encontra, sendo integrantes os jogadores que têm capacidade de tomar alguma ação sobre a mesma;
- Espaço de Ajuda Mútua - Espaços onde os jogadores integrantes se podem converter em membros intervenientes sobre a bola;
- Espaço de Cooperação - Zona onde os jogadores têm uma ação indireta sobre o lance, no entanto, e apesar da distância, os intervenientes deste espaço são fundamentais para a definição do lance.
• As Vantagens
São sempre analisadas na ótica do espaço em questão (Intervenção, Ajuda Mútua e Cooperação), sendo igualmente utilizadas na ótica ofensiva ou defensiva.
- Vantagem Numérica - Mais jogadores de uma das equipas num dado espaço;
- Vantagem Posicional - Melhor posicionado face ao opositor;
- Vantagem Qualitativa - Situação propiciada pelo próprio jogo favorável às características intrínsecas do jogador;
- Vantagem Dinâmica - Derivada do movimento favorável do jogador em relação à ação que pretende levar a cabo, muito associada à vantagem qualitativa;
- Vantagem Socioafetiva - Vantagem emergida pelo conhecimento próximo e sincronia para com o colega de equipa.
Melhor imagem para representar a vantagem seria difícil…
• As Condutas
Conceitos que definem micro ações no jogo, podendo ser comparados, não sendo semelhantes, aos Princípios Específicos de Jogo preconizados por Queiroz (1983), sendo igualmente divididos em ofensivos e defensivos.
Defensivas
- Pressionante - Ação de um ou mais jogadores para roubar a bola ao adversário;
- Contenção da Progressão - Não se atua diretamente para a recuperação da bola, mas impede-se a progressão adversária em determinado espaço;
- Proteção da Zona Preferencial de Finalização - Ações de proteção da baliza em função do posicionamento da bola, exemplo: posicionamento do guarda-redes, posicionamento da linha defensiva.
- Dissuasão - Ações que impossibilitam o posicionamento de alguns jogadores adversários.
Ofensivas
- Apoio de Segurança - Opção de passe numa zona de superioridade numérica;
- Apoio de Continuidade - Opção de passe para redirecionar a posse, mas que não ultrapassa a oposição;
- Apoio de Progressão - Opção de passe que permite ultrapassar elementos adversários, mas que não deixa o possível portador próximo de zonas de finalização, nem diante da última linha adversária;
- Apoio de Superação - Opção de passe que permite ultrapassar o adversário e os defensores da zona de finalização;
- Apoio de Rotura - Opção de passe realizada sobre as costas dos elementos que protegem a zona de finalização.
- Apoio de Fixação - Posicionamento que condiciona a ação dos elementos opositores e permite o aparecimentos de vantagens noutros espaços.
Legenda: 1-Apoio de segurança; 2-Apoio de Continuidade; 3-Apoio de Progressão; 4-Apoio de Superação; 5-Apoio de Rotura; 6-Apoio de Fixação / 7-Pressionante; 8-Contenção de Progressão; 9-Proteção da zona preferencial de finalização
• As Fases
Conceitos bastante amplos na Teoria dos Espaços de Fase, sabendo de antemão que a sistematização do jogo, varia de treinador para treinador, em função do jogo que pretende jogar e da sua conceptualização do jogo.
Defensivas :
- Contenção da Progressão;
- Pressão.
Ofensivas :
- Iniciação do Jogo;
- Disposição Posicional;
- Finalização.
Em suma estes são os fatores integrantes da Teoria dos Espaços de Fase, todos eles apresentados de forma resumida e de acordo com a bibliografia apresentada. Salientar também a importância da existência de uma diversidade de conceitos e concepções do jogo e do treino para um enriquecimento teórico de cada um.
Que este artigo possa ser o mote para quem lê, para pensar e refletir acerca das suas modelações e ideologias, e que a cada dia que passa se possa ter mais dúvidas do que certezas… porque se não existir dúvida, não existe aprendizagem!
Em jeito de conclusão e para concluir, reforço a total independência em relação ao tema e aos autores, sendo que o artigo nasceu de um desafio lançado, com o objetivo de expor mais uma forma de ver o jogo!
Referências Bibliográficas
- Queiroz, C. (1983). Para uma teoria de ensino/treino do futebol. Ludens, v. 8(1), 25-44;
- Peñas, C. (2019). La Propuesta de Paco Seirul-lo para el entrenamiento en deportes de equipo: El entrenamiento estructurado, los espacios de juego y las situaciones simuladores preferenciales. Barça Innovation Hub. Consultado em: https:// barcainnovationhub.com/es/la-propuesta-de-paco-seirul·lo-para-elentrenamiento-en-deportes-de-equipo-el-entrenamiento-estructurado-losespacios-de-juego-y-las-situaciones-simuladoras-preferenciales/
- Serra, A. (2020). Espacios de Fase. Como Seirul-lo cambió la táctica para siempre. MCSports.
O autor deste artigo escreve as suas rubricas ao abrigo do seu “acordo futebolístico”, pelo que as suas rubricas assentam sempre na visão que tem sobre o jogo, porque dentro do jogo, há muitos jogos que podem ser jogados, mas há um que o desperta acima de qualquer outro.
Redigido por Rúben Pinheiro
Mestre em Desporto, com especialização em Treino Desportivo - Futebol, pela Escola Superior de Desporto de Rio Maior. Tem 23 anos, Treinador UEFA B, com passagens por Sporting C.P., equipa B e Sub-19 Feminina, Belenenses SAD Sub-23 e atualmente Treinador Principal no Campeonato Nacional de Sub-15 no S.C.U. Torreense. Acima de tudo, apaixonado pelo jogo de futebol, pelo treino, pelo pensamento e reflexão acerca do mesmo, e sobretudo apaixonado pela forma como as suas equipas jogam, assente no pormenor, no desenvolvimento individual através do coletivo, e na importância de dar prazer a quem joga e quem vê jogar!
Comments