Daniel Bragança é um médio de 22 anos, formado no Sporting, que ao longo do tempo tem vindo a ganhar cada vez mais protagonismo, nas vezes que é chamado pelo treinador Rúben Amorim. É bom relembrar, que o médio passou por dois empréstimos consecutivos num espaço de dois anos.
Na época 2018/19 foi emprestado ao Farense, a pedido do treinador Rui Duarte, que ao fim de algumas chamadas telefónicas, conseguiu convencê-lo a sair da sua zona de conforto, para puder mostrar o seu bom futebol num patamar de extrema competitividade, como é a Segunda Liga. Nessa época, Daniel Bragança realizou 16 jogos, com 2 golos apontados, e apesar dos “altos e baixos” vividos nessa época, nomeadamente depois da saída do treinador Rui Duarte, o jogador, mostrou ter uma qualidade acima da média, e potencial para atingir patamares mais elevados no futuro.
Na época seguinte, 2019/20, com a contratação do treinador Tiago Fernandes por parte do Estoril Praia, o treinador pediu a sua contratação aos responsáveis da equipa da linha. Tiago Fernandes já tinha treinado Daniel Bragança na formação do Sporting, e por isso já conhecia bem a sua forma de jogar, fazendo com que o jogador não hesitasse em voltar a ser emprestado para ter mais oportunidades de mostrar o seu valor, novamente na Segunda Liga. Esta foi a época em que o jogador despontou mais olhares, realizando 22 jogos, com 4 golos e 5 assistências, e atuando a médio ofensivo numa estrutura de 1-4-2-3-1. Essa temporada foi marcada pela pausa prolongada das competições devido a covid-19, porém já dava para perceber que Daniel Bragança era talhado para clubes de topo no panorama nacional.
Daniel Bragança na época em que vestia a camisola do GD Estoril Praia
Com a chegada de Rúben Amorim ao Sporting, o médio integrou definitivamente os trabalhos com a equipa principal. O plantel foi composto por muita juventude e irreverência, que acabou por guiar o Sporting ao título de campeão nacional com uma marca do treinador bem vincada. Nessa época, Daniel Bragança foi opção regular nas escolhas do treinador, realizando 25 jogos, porém, foram raras as vezes que esteve no 11 titular, apenas 7.
Daniel Bragança é um médio que tanto pode atuar na posição 8, como mais recuado, na posição 6. Um jogador com uma qualidade técnica bastante acentuada; que se consegue libertar facilmente dos adversários, sai de zonas de pressão, possui uma qualidade de passe e visão de jogo bastante acima da média; além disso, é capaz de encontrar espaços em zona, aparentemente, inexistentes, permitindo à equipa desmontar mais “facilmente” o bloco adversário. Tem uma excelente habilidade motora, com bola possui o famoso "giro", roda com facilidade, tem um bom poder de aceleração e um andamento cada vez maior. Cognitivamente é um jogador de grande qualidade, define com qualidade, cria e é inteligente na ocupação dos espaços.
A entrada de Daniel Bragança frente ao Gil Vicente FC
Não sendo a sua principal característica, quando a equipa necessita de fazer um pressing mais acentuado e de recuperar algumas bolas numa zona mais adiantada do terreno, o jogador também o faz com qualidade.
O jogador, como já referi, pode atuar como 6 e também como 8, porém, devido às suas características e perante o que Rúben Amorim pede a um jogador na posição 6 - ser forte nos duelos, na recuperação da posse e, principalmente no momento no momento de transição defensiva, isto não se expondo muito no terreno - vejo Daniel a atuar mais vezes na posição 8, posição que é normalmente ocupada por Matheus Nunes.
Matheus Nunes é um médio com grande capacidade de transporte de bola, tem capacidades condicionais de eleição e uma definição dos lances aliada a capacidade criativa que tem tido uma evolução significativa nos últimos tempos. Oferece intensidade com e sem bola e, além de ser muito forte na transição ofensiva (pela sua capacidade de transporte rápido com bola), é também um jogador muito forte em transição e organização defensiva, tem uma elevada cadência de passada e andamento que lhe permite recuperar rapidamente o posicionamento, fecha espaços, vence sucessivamente duelos e condiciona os ataques do adversário. Também é forte no ataque ao espaço, sendo várias vezes servido na profundidade, tem chegada a zonas de finalização e em posse tem pouco erro. É um autêntico box-to-box e o jogador mais competente da Liga Bwin a desempenhar este papel de vaivém constante entre ataque e defesa.
A exibição de Matheus Nunes frente ao SL Benfica
Recentemente, numa entrevista dada ao jornal Record, Matheus Nunes referiu que aprendeu muito com o João Mário na tomada de decisão. Citando o que disse o jogador do Sporting:
“O João Mário ensinou-me a ter mais calma a tomar certas decisões, porque eu tenho certas características que consigo tirar alguém da frente, mas às vezes pecava no último passe, e o João é muito bom nisso. Tem muita calma, consegue guardar o jogo muito bem, e eu tentava aprender essas coisas, tentar estar mais tranquilo, mais à-vontade, porque sei que cada vez que estiver mais à-vontade, mais consigo mostrar aquilo que sei fazer”
Como já referi, nos últimos tempos, nota-se uma evolução bastante positiva na sua tomada de decisão, mas ainda não considero ser uma das suas melhores características, tendo ainda muito a evoluir. Porém, essa evolução tida até aos dias de hoje, além de ter uma grande “ajuda” por parte de Rúben Amorim e da sua equipa técnica, deu-se muito pela aprendizagem que teve com o atual jogador do SL Benfica.
Quando olhamos para o perfil de jogador que o Sporting teve na época passada (João Mário), percebemos que há algumas parecenças com Daniel Bragança. Daí, muitas pessoas pensarem que o jogador formado em Alvalade pudesse conquistar o lugar que era ocupado pelo atual médio do SL Benfica. No entanto, Rúben Amorim abdicou de um jogador com uma maior capacidade de pautar o jogo, preferindo um jogador vertical, de transporte de bola, mais completo que Daniel, principalmente olhando para o aspeto defensivo, mas que acrescenta menos ao nível da criação e da tomada de decisão nas suas ações com bola.
O jogo do Sporting é marcado pela tentativa de chegar de forma rápida à baliza adversária. Na época passada havia um jogador capaz de acalmar os ânimos da equipa, não querendo que esta estivesse em constante correria para chegar ao último terço, diminuindo o risco de acumulação de erros que poderiam promover o desequilíbrio. Daí poder considerar que um jogador como Daniel Bragança ofereceria coisas positivas ao jogo do Sporting, entendendo que Matheus Nunes é um jogador completíssimo, e que está numa fase espetacular. Todavia, só conseguiríamos perceber se Daniel Bragança conseguiria oferecer um rendimento tão elevado quanto Matheus, se este tivesse mais minutos em campo, se fosse mais vezes aposta no 11 titular. O jovem médio sempre que joga, pela eficiência e qualidade nas suas ações, dá à equipa uma fluidez e criatividade ofensiva que poucos conseguem dar em cenário nacional, encantando não só os adeptos leoninos, como também todos os amantes do futebol.
Passa tudo por uma questão de ideias, de contexto, de resposta em treino e em jogo, e de perceber que jogadores tens ao teu redor, o que cada um pode dar e, a partir daí tomar decisões sempre em função do coletivo. Não obstante, será sempre uma pena colocar jogadores de tamanha categoria praticamente sempre no banco de suplentes.
Esta questão só se coloca, porque o Sporting tem dois enormíssimos jogadores para aquela posição, e que quando chamados, dão uma boa resposta. Tomara a muitos treinadores terem esta “dor de cabeça” que Rúben Amorim tem. Como refere muitas vezes em conferência de imprensa, se um deles não estiver disponível ou estiver numa fase menos boa, o outro estará certamente disponível para dar uma resposta positiva e, até quiçá “agarrar” o lugar. Isto é o segredo de uma equipa campeã - todos no plantel lutam por um lugar no 11 titular, trabalhando forte durante a semana, permitindo aos jogadores chamados ao 11 estar ainda melhor preparados, e aos jogadores que vão entrar a partir do banco de suplentes conseguirem marcar a diferença no desenrolar da partida.
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