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Como Nagelsmann derrotou Mourinho

Atualizado: 7 de jun. de 2020




Uma análise à eliminatória entre o RB Leipzig e o Tottenham Hotspur FC num confronto entre treinadores de diferentes gerações. Dois encontros interessantes ao nível tático, com várias variações de um lado e do outro. No final o Leipzig acabou por levar a melhor e seguir em frente.

Este artigo desenvolvido para o site Bola na Rede está dividido em três partes que podem ver nos links abaixo:



Artigo Completo:


Hoje vamos recuar umas semanas no tempo! Tempo esse onde ainda havia futebol, onde havia pessoas no estádio, onde havia ambientes fantásticos, onde havia grandes equipas de um lado e do outro, onde havia Champions League!


Poderia estar aqui a falar das saudades que tenho de ver um jogo de futebol ao vivo, do pré e pós-jogo, da magia dentro de campo, mas não é esse o meu propósito. Hoje quero-vos fazer recordar a primeira mão do jogo entre Tottenham Hotspur FC e RB Leipzig. De um lado um treinador português, José Mourinho, e do outro o jovem alemão que tem encantado o mundo, falo, claro, de Julian Nagelsmann. Não seria difícil perspetivar uma eliminatória entusiasmante e digna de acompanhar.


Como sabem, o Leipzig acabou por vencer a eliminatória, com um 0-1 fora e um 3-0 em casa, e assim eliminar o vice-campeão europeu Tottenham Hotspur.

Este artigo vai ser dividido em três partes. Na primeira e segunda parte vou focar-me nas dinâmicas do Leipzig em momento ofensivo; na terceira irei destacar dinâmicas em momento defensivo.


Vamos para a análise!


O primeiro jogo realizou-se no Tottenham Hotspur Stadium. A equipa da casa apresentava-se com um sistema tático de 4-4-2 e, por sua vez, o Leipzig apresentava um híbrido e mutável sistema de 5-2-3.

Onzes iniciais e movimentos mais frequentes


Dinâmicas em Momento Ofensivo


O Leipzig iniciava a construção com os três defesas centrais (Klostermann, Ampadu e Halstenberg), com Halstenberg e Klostermann abertos e Ampadu posicionado em terreno central. O Tottenham colocava dois jogadores na primeira linha de pressão, algo que não condicionava a saída de bola da equipa alemã, não só pela inferioridade numérica (4X2, contando com guarda-redes), como pela intencional pressão passiva da equipa inglesa. Os 3 centrais têm excelente saída de bola, pela capacidade técnico-tática que possuem e pela aptidão, principalmente de Halstenberg e Klostermann, de progredirem com bola, atraindo adversários e desequilibrando na fase de construção de jogo.


Esta aptidão está relacionada com o facto de ambos terem como posição de origem defesa lateral esquerdo e defesa lateral direito, respetivamente. Já Ampadu (durante a carreira já utilizado na posição de médio defensivo) revela muita qualidade em momentos de verticalizar o jogo, pela excelente relação com bola e perceção do jogo. A circulação entre centrais para início de construção era paciente, sempre à espera do momento certo para progredir ou executar passe vertical.


Tinham duas alternativas preferenciais para sair: a primeira era por Ampadu, quando os dois elementos da primeira linha de pressão (Lucas Moura e Dele Alli) se encontravam mais espaçados, Ampadu conseguia progredir e executar passe vertical para espaço entre linhas ou passe longo a explorar a profundidade e amplitude de laterais ou avançados; a outra alternativa passava por Klostermann e Halstenberg progredirem com bola e atraírem o ala da equipa inglesa, abrindo espaço para lateral, avançado e médio do Leipzig combinarem.

Ao longo do jogo, foram os defesas-centrais os jogadores que mais passes efetuaram, destacando-se Ampadu com um total de 94 passes e uma percentagem de acerto de 95%.


É uma equipa que apresenta segurança e confiança para lidar com a pressão. Normalmente, atraíam o adversário para pressionar alto e depois conseguiam criar espaço em zonas interiores para verticalizar e acelerar já em zonas de criação.

Superioridade numérica em construção 4×2 | Atração da equipa adversária | Passe vertical a superar linha avançada e linha média do Tottenham


O posicionamento dos médios centros, Sabitzer e Laimer, determinava o progresso da circulação de bola. Apesar de na maior parte do tempo não serem jogadores com grande participação na construção de jogo da equipa, posicionavam-se entre a primeira linha de pressão e a linha média, sempre em espaço central.


Este posicionamento permitia aos médios, não só ter espaço para combinar com os avançados e com os laterais subidos no corredor (servindo como terceiro homem para combinação), como também abrir espaço para os centrais terem mais soluções para executar passe ou para progredirem. Os médios centros tinham muito mais um papel de terceiro homem em construção.


Em zonas de criação, os médios tinham a capacidade de criar, de manter o equilíbrio defensivo e de aparecer em zonas de finalização. Normalmente, Sabitzer era o médio que tinha mais liberdade para atacar. Nesse caso, Laimer ficaria mais recuado, preparando uma possível transição defensiva.

O posicionamento do médio centro permite ao defesa central múltiplas soluções na definição da jogada


Em construção de jogo, os laterais alinhavam-se com os médios, formando um sistema de 3-4-3. Quando a bola entrava em zonas de criação, os laterais subiam e formavam uma linha horizontal com os três homens da frente – sistema tático de 3-2-5.


Estes tinham um papel sempre muito ofensivo. Mukiele surgia sempre junto ao corredor. Por sua vez, Angelino podia, também, jogar em espaço interior, oferecendo o corredor a Werner. Tinham grande rotatividade e intensidade no ataque ao espaço, desequilibrando sucessivas vezes. Com liberdade quase total para atacar, apareciam muitas vezes em zonas de finalização.

Troca posicional entre Angelino e Werner                                                                                        Fonte: SRF


Normalmente, os avançados (Werner, Schick e Nkunku) posicionavam-se entre linhas, nunca se dando à marcação. Schick era o que se aproximava mais da linha defensiva, oferecendo movimentos em apoio frontal para combinação ou explorando a profundidade nas costas dos centrais. Nkunku e Werner movimentavam-se tanto para ser solução em criação, recuando até à linha dos médios e oferecendo mais soluções, como para receber no espaço entre-linhas, ou ainda, juntando-se aos corredores para criar superioridade numérica nesse espaço.


O posicionamento no espaço central dos avançados proporcionava muitas vezes uma superioridade numérica de 5 para 4 no meio-campo, pelos dois médios centros e os três avançados contra a linha de quatro médios do Tottenham. Para controlar esta superioridade numérica no meio-campo e as movimentações em apoio ou no espaço dos avançados, os elementos da linha média e defensiva do Tottenham encurtavam os espaços entre si, tanto verticalmente como horizontalmente, abrindo, consequentemente, espaço nos corredores laterais.


Assim, Angelino e Mukiele ficavam com espaço nos corredores a seu dispor. No vídeo anterior, é possível ver esta atração do adversário no espaço central para libertar os alas nos corredores.


Com a equipa do Tottenham tão compacta, o Leipzig apostou na procura da profundidade e amplitude nos corredores de forma a ferir o adversário. A movimentação de Werner para o corredor, de forma a forçar o duelo individual com lateral adversário, foi também várias vezes facultado durante o jogo. Enquanto isso, Nkunku posicionava-se em espaço interior, como um terceiro médio, ou dava apoio ao lateral Mukiele em espaço exterior.

Esta diversidade de movimentos dos avançados tinha o objetivo de criação de espaço, para que a equipa pudesse acelerar e atacar esse espaço criado.


A superioridade numérica no meio-campo permitiu ao Leipzig tomar conta do jogo durante toda a primeira parte. Os posicionamentos da equipa alemã obrigavam o Tottenham a defender de forma coesa, compacta e com linhas muito próximas.


O posicionamento de Timo Werner foi uma das maiores preocupações do Tottenham durante a partida. Werner é um jogador altamente inteligente e com uma capacidade física e técnica acima da média. Além de se posicionar entre linhas, podia movimentar-se na profundidade como “9” quando Schick realizasse movimentos em apoio (imagem em baixo), podia movimentar-se em profundidade e em largura junto ao corredor, ou poderia realizar trocas posicionais com os laterais (principalmente com Angelino).


Neste último caso, o lateral funcionaria como lateral invertido e posicionava-se em terrenos interiores. Este comportamento é, por exemplo, muito comum nas equipas de Guardiola.

Apesar do jogo maioritariamente de posse no primeiro tempo, o Leipzig nem por isso deixava de usufruir de saídas rápidas para o ataque. Com um estilo de jogo bastante vertical, a equipa alemã tem uma capacidade de definição em velocidade muito acima da média. Vejam no vídeo seguinte, o pouquíssimo intervalo de tempo entre a recuperação de bola e o aparecimento em zonas de finalização.


Até ao golo, a equipa do Leipzig dominou o Tottenham a seu belo prazer. O golo mais que justificado apareceu no início da segunda parte. A jogada do penálti, que originará o golo, é um exemplo da pressão passiva do Tottenham. Mais do que passiva é pacífica, dada a falta de intensidade ao portador da bola e no fechar de linhas de passe do Leipzig. Além disso, existe uma distração que origina uma superioridade numérica em zonas de finalização de 3 para 1, junto ao lateral esquerdo da equipa inglesa. Neste caso, o ala esquerdo do Tottenham (Dele Alli), deveria descer no terreno e ajudar o lateral, mas faz precisamente o contrário.

Fonte: SkySport


A partir do golo, os comportamentos de ambas as equipas alteraram-se. O Tottenham pressionava mais em cima, dando oportunidade ao Leipzig para sair em ataque rápido. A equipa inglesa defendia através de encaixes individuais, no entanto vários aspetos corriam menos bem. Primeiramente, é de destacar o papel do guarda-redes e o seu conforto no jogo de pés. Gulácsi é dos melhores do mundo a compreender timings de passe e na execução dos mesmos.


Depois, e focando-me nos problemas defensivos do Tottenham, o espaço que davam entre a linha média e a linha defensiva era demasiado para jogadores habituados a executar em velocidades elevadas e em intervalos de tempo muito curtos. Depois, a falta de perceção do espaço e dos posicionamentos de alguns jogadores da equipa inglesa (neste caso Aurier e Gedson). Assim, pela capacidade de construção de jogo e superação da primeira linha de pressão, o Leipzig acelerava em espaço entre-linhas e chegava a zonas de finalização muito rapidamente.


Dada a vantagem na eliminatória, a equipa alemã apostou num jogo muito mais vertical do que na primeira mão. Ambas as equipas mudaram muitas das suas dinâmicas. O Tottenham Hotspur FC utilizou um sistema de 5-2-3 (defesas: Aurier, Tanganga, Dier, Alderweireld, Sessegnon; médios: Lo Celso, Winks; avançados: Lucas Moura, Dele Alli, Lamela. O Leipzig manteve o seu 5-2-3 (defesas: Mukiele, Klostermann, Upamecano, Halstenberg, Angelino; médios: Laimer, Sabitzer; avançados: Nkunku, Schick, Werner).


Em ataque posicional, o Leipzig apresentou várias novidades relativamente ao jogo anterior, principalmente pela pressão mais intensa da equipa de Londres. Para sair dessa pressão, o Leipzig utilizou uma dinâmica preferencial. Em ataque posicional, Upamecano subia no terreno para se juntar a Laimer, enquanto Sabitzer aproximava-se dos avançados. Esta dinâmica tinha o objetivo principal de dar mais soluções em momentos de ataques mais verticais, através de passes longos para Schick e com vários jogadores na aproximação para a segunda bola. Além disso, permitia uma superioridade numérica no meio-campo, após a supressão da primeira linha de pressão.

Presença de Laimer e Upamecano em zonas centrais com Sabitzer mais próximo de Nkunku

Fonte: SkySport


Outro aspeto diferente da primeira mão relaciona-se com a marcação individual dos avançados Werner, Schick e por vezes Nkunku (que se apresentavam, novamente quase sempre em espaço interior). O problema desta marcação individual setorial está na impossibilidade de o central realizar a cobertura ao seu lateral, quando Angelino e Mukiele subissem e forçassem o um contra um. Vejam na imagem:


O Tottenham apresentava-se uma equipa muito mais pressionante do que na primeira mão. Realizavam uma pressão com marcação individual. Dentro disso, a aposta coincidiu mais em ataques rápidos e em bolas longas a aproveitar o jogo aéreo do jogador referência Schick (só ele ganhou mais duelos aéreos do que os três centrais do Tottenham). Para baralhar os encaixes do Tottenham, Nagelsmann optou por juntar Upamecano a Laimer, assim como colocar lado a lado um avançado com Sabitzer. Este desenho tático permitia uma saída de bola muito mais facilitada. A primeira linha de pressão do Tottenham de 3 elementos era assim facilmente superada, e ,depois disso, havia superioridade numérica no meio-campo.

A verticalidade da equipa alemã provocou grandes dificuldades à equipa inglesa, por vários motivos. Primeiro, a superioridade em zonas de criação passada a primeira linha de pressão. O Tottenham apostou num duplo pivô e com três jogadores mais avançados, que davam pouco à equipa em processo defensivo. Dentro disso, e visto que o Tottenham pressionava alto, os passes longos foram o principal meio para superar a primeira linha de pressão. Passado esta linha, o Leipzig tinha os três avançados, Sabitzer e os dois laterais a subir no corredor. Sabitzer e, por vezes, Laimer faziam o papel de terceiro homem nas combinações com bola longa, para depois explorar a amplitude e profundidade oferecida pelos laterais. Estas aproximações de médios e dos avançados Nkunku e Werner, permitiam ao Leipzig ganhar a segunda bola e atacar muitas vezes com várias unidades.


Havia uma insistência dos jogadores da linha defensiva na realização de passes verticais para espaço entre linhas – priorização de passe progressivo para espaço central e com concentração elevada de jogadores. Depois do passe chegar a zonas centrais, os laterais (principalmente, Angelino) estavam sempre subidos e abertos no corredor para receber.


“Quando ameaçamos por dentro no corredor central, mas também o fazemos por fora, é quando se cria uma mais-valia para atacar a linha defensiva adversária” – Nuno Campos, em Quarentena da Bola, por Rémulo Jonátas.


A criação de indefinição aos laterais da equipa do Tottenham pelo posicionamento por dentro de Werner ou Nkunku, e por fora de Angelino ou Mukiele, foi um dos aspetos mais importantes nesta eliminatória. A dúvida que pairava sobre o lateral e também sobre a linha defensiva, se se marcava o jogador por dentro ou acompanhava o jogador por fora, resultou em jogadas perigosas e no golo do vídeo abaixo.


Outro aspeto importante foi o aproveitamento do espaço em situações de transição ofensiva. As características dos jogadores da frente de ataque, dos laterais e do médio Sabitzer de definir bem com pouco espaço e tempo, permite-lhes chegar a zonas de finalização muito rapidamente. Depois o aproveitamento que têm em situações de cruzamento é absolutamente absurda! Isto acontece não só pela forte presença em zonas de finalização, mas também pela qualidade dos seus executantes.


Dinâmicas em Momento Defensivo


O Tottenham iniciava a construção de jogo com os dois defesas centrais, com o lateral esquerdo recuado e com um dos médios a descer no terreno. O Leipzig conseguiu anular a primeira fase de construção através de uma pressão com bloco alto e com encaixes a cada elemento da equipa do Tottenham. Assim, a equipa inglesa era muitas vezes forçada a jogar longo e, com jogadores como Lucas Moura e Bergwijn (ambos jogadores sem capacidade de ser referência) no ataque, a taxa de sucesso destes passes era muito baixa.


A equipa alemã orientava a pressão para o espaço exterior (principalmente para o corredor esquerdo do Tottenham) e, a partir daí, anulava as linhas de passe, normalmente de um dos centrais ou lateral. Para este efeito, era crucial o trabalho da primeira linha de pressão, que além de realizar encaixes a cada central, conseguia fechar espaços para eventuais passes verticais para zonas interiores. Por sua vez, Nkunku fechava o espaço de intervenção do médio defensivo do Tottenham, Harry Winks. Apesar de serem óbvios os encaixes individuais, a equipa germânica pressionava à zona e sempre com a bola como foco de atenção, anulando determinados ângulos para a equipa inglesa progredir com bola e chegar a zonas adiantadas de forma ”limpa”.

Um dos pontos de destaque desta pressão (um ponto puramente estratégico!) coincide com aorientação da pressão, quase sempre para o lado esquerdo da equipa inglesa.Mas porquê? Porque do outro lado estava um lateral mais ofensivo (Aurier) e com argumentos diferentes de Ben Davies para criar desequilíbrio. A importância do lado estratégico e de ver para além do coletivo! A perceção de cada individualidade também é importante para percebermos possíveis lacunas que o coletivo poderá ter.


Por sua vez, na segunda mão o Tottenham apresentava uma estrutura tática com 3 defesas centrais e com dois alas (Aurier e Sessegnon) bastante subidos. De forma a encaixar no adversário e tentar recuperar a bola o mais rápido e em terrenos mais perto da baliza adversária, o Leipzig alterou a sua forma de pressionar.


Agora, os três avançados pressionavam, mais uma vez, de forma zonal os 3 defesas do Tottenham, laterais com laterais e os médios prontos para pressionarem os médios do Tottenham no caso de estes receberem a bola. Um dos aspetos importantes está relacionado com a leitura corporal que os jogadores do Leipzig (principalmente, médios e defesas centrais) faziam para prever uma possível ação do adversário. Esta perceção permitia muitas vezes uma antecipação ao adversário e consequente recuperação de bola.


Quando a bola estava no corredor, a equipa do Leipzig orientava-se para esse corredor, tapando todas as linhas de passe aí existentes. Neste caso, o lateral desse lado avançava no terreno para pressionar, e formava uma linha de 3 elementos com o duplo pivô do meio-campo (sistema mutável e altamente dinâmico, mas neste caso um visível 4x3x3). Assim, a linha defensiva era formada pelos 3 centrais e pelo lateral do lado contrário (imagem abaixo). Esta estrutura poderia ter como principal problema o passe longo para o flanco contrário, no entanto, as rápidas basculações da equipa alemã não permitiam espaço e tempo aos jogadores do Tottenham sempre que isso acontecia.


Outro aspeto relaciona-se com a condição de o lateral ser ultrapassado. Nesse caso a cobertura seria realizada pelo defesa central de forma rápida e muito eficiente. Dado que os dois centrais (Klostermann e Halstenberg) são “laterais” de posição de origem, estes possuem velocidade e intensidade para se deslocarem até ao seu oponente num curto espaço de tempo e recuperar a posse.


Os médios tinham um papel importante pela intensidade na recuperação da bola, quando esta chegava a terrenos interiores. Foram os grandes responsáveis pelos equilíbrios da equipa em momento de perda da posse. Neste aspeto destaca-se Laimer, que foi o jogador com mais recuperações de bola no total das duas mãos.


Uma das chaves para este sistema de pressão era a capacidade de os centrais subirem no terreno e marcarem os avançados. O Tottenham colocava vários jogadores entre a linha média e a linha defensiva do Leipzig, mas a estrutura compacta e a intensidade na saída à marcação dos centrais marcavam a diferença.


Quando um passe vertical superava a linha média do Leipzig e os avançados recebiam a bola entre-linhas, um dos defesas saía da sua posição e pressionava com intensidade esse avançado, até o mesmo perder a bola. Devido ao posicionamento mais adiantado da linha defensiva, o Tottenham poderia aproveitar a profundidade pela velocidade de Bergwijn ou de Lucas Moura, mas nunca o fez. Em vez disso, Dele Alli descia para terrenos interiores, fazendo de terceiro médio, e tentava combinar com os avançados quase sempre em espaço entre-linhas (algo facilmente anulado pela equipa germânica).


A equipa alemã tem também um excelente controlo da profundidade. O facto de todos os defesas centrais terem características físicas de excelência ao nível da velocidade, força, agilidade e capacidade de reação, permitia-lhes encurtar distâncias nas suas costas e conseguir alcançar os avançados num curto espaço e intervalo de tempo. Outro aspeto reside no bom entendimento desta linha defensiva aquando dos momentos de avançar e recuar, sempre com concentração e rigor na identificação de bola coberta ou descoberta.

Como é óbvio a equipa do Leipzig quando se viu em vantagem optou por recuar um pouco as suas linhas, pressionando num bloco médio. Na segunda mão adotou um comportamento bastante pressionante, mas, novamente, quando ganhou vantagem começou a defender mais baixo.


Defender bem o mais longe possível da baliza é uma arte” – Nuno Campos em Quarentena da Bola


Quem pretende ser ofensivo terá necessariamente de ter uma preocupação especial pela primeira fase defensiva. E em caso de perda de posse terá de ter uma abordagem espontânea, mas organizada. Uma equipa sem clareza nesse momento permitirá ao adversário, não só ficar confortável com bola, como retirará confiança e desgastará os seus jogadores.


Nagelsmann chega a referir que “Eu gosto de atacar o adversário perto da sua baliza porque o teu próprio caminho para chegar ao golo não é tão longo se recuperares a bola mais adiantado”. Este objetivo de recuperar a bola em zonas altas e não permitir o adversário chegar a zonas de criação, está relacionado com o momento ofensivo da equipa. Não se poderá dissociar momento defensivo com momento ofensivo. Quando procuramos criar dificuldade ao adversário em terrenos perto da sua baliza, estamos mais perto de criar perigo no caso de recuperarmos a bola. Agora, claro, esta pressão terá de ser eficiente, porque se não o for, existe risco máximo de a bola chegar a zonas de criação, ultrapassando 2 linhas de pressão, e o adversário chegar à baliza com mais perigo.


O lado estratégico de Nagelsmann está bem assente na forma como defendem. As mudanças ao longo das duas mãos, de acordo com o resultado e com as dinâmicas da equipa adversária, são prova disso mesmo.  No entanto, a identidade da equipa e os macro princípios nunca são alterados. O Leipzig é sem dúvida uma das melhores equipas a defender em terrenos subidos, fazendo-o com grande eficácia. Nesta eliminatória, foram várias as perdas de posse que o Tottenham concedeu, pela intensidade, inteligência e perfil físico dos jogadores comandados por Nagelsmann.


O Leipzig era uma equipa que atacava com os seus jogadores próximos, principalmente médios e avançados que formavam triângulos para combinações mais eficazes. Este princípio não só permitia uma troca de bola mais fluída, como também uma recuperação da posse muito mais eficaz. Quando perdiam a bola tinham vários jogadores próximos para reagirem à perda. É uma equipa que se foca na bola e consegue colocar num curto espaço de tempo vários jogadores na pressão. Vale muito pelo coletivo, porque todos os jogadores conseguem ser altamente intensos neste momento de reação à perda. A agressividade e intensidade neste pressing por parte de todos os jogadores foi fundamental. Todos defendiam e todos atacavam!


Em ataque posicional, normalmente, deixavam 4 ou 5 jogadores (duplo pivô do meio-campo, os três defesas centrais ou um dos laterais) preparados para agir em momento de perda de posse, mas os restantes elementos conseguiam recompor-se de forma bastante rápida.


Apesar de todas estas valências, o Leipzig ainda sente alguma dificuldade quando a sua linha média é ultrapassada e jogadores com criatividade e capacidade técnica diferenciadora, como Lucas Moura ou Dele Alli, conseguiam acelerar o jogo e colocar-se de frente para a linha defensiva. Principalmente em momentos em que os laterais estão subidos, a linha dos 3 centrais era encarada de frente pelos avançados do Tottenham e era criado algum perigo. Além disso, pela constante subida dos laterais (sujeitos a cargas físicas altíssimas durante a partida) existia espaço nas suas costas que poderia ser aproveitado. Quando o futebol é um jogo de probabilidades e possibilidades, estes são claramente riscos, que valem a pena pelas possibilidades que o conjunto das dinâmicas oferece.

Uma equipa que pelas caraterísticas dos seus jogadores consegue ter uma variabilidade pouco comum e que lhe permite ser forte em todos os momentos do jogo. Nagelsmann promete ser um dos grandes destaques para o futuro do Futebol!



Redigido por: Diogo Coelho

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