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Com espaço é que a gente se entende!


No jogo de ontem o Benfica teve a vitória mais expressiva da temporada frente a um Marítimo corajoso que tentou implementar as ideias do seu treinador, Vasco Seabra, mas com muito pouco sucesso.


O golo madrugador de Darwin obrigou o Marítimo a subir linhas e a pressionar em bloco médio-alto. Num esquema tático idêntico ao do Benfica, a equipa madeirense pressionava com os três avançados os centrais do Benfica e tinha dois médios a ocupar o espaço central. A equipa comandada por Vasco Seabra tinha as linhas mais distanciadas e a linha defensiva alta, permitindo espaço em zonas entre-linhas e nas costas da defesa. Além disso, o Marítimo é uma equipa pouco trabalhada que sabia o que pretendia, mas não sabia como aplicar a teoria. Este facto, aliado a uma incapacidade gritante em ser competente no momento de transição defensiva, deu azo a uma chuva de chances de golo que o Benfica teve ao dispor.


Com Weigl e João Mário em zonas centrais, mais Rafa a aparecer, muitas vezes, na linha de João Mário e nas costas dos médios da equipa madeirense, era criada uma vantagem posicional que, a partir da velocidade de execução, principalmente na receção, e depois pela condução de bola rapidíssima de Rafa, permitia ao português estar constantemente de frente para a última linha do Marítimo e lançar na profundidade Yaremchuk e Darwin.


O triângulo formado por Weigl, João Mário e Rafa foi determinante para o desenrolar do jogo. O extremo português recuava quando havia espaço entre-linhas, mas também atacava a profundidade no caso de haver caminho livre para tal. É que ter dois homens como Darwin e Yaremchuk a ameaçar constantemente o ataque à profundidade; Rafa, João Mário e, por várias vezes, um dos laterais por dentro, cria atrações constantes para quem defende e liberta espaços que foram bem aproveitados pela equipa do Benfica - os golos de Gilberto e Rafa são exemplos disso.


Também o papel de Darwin é, cada vez mais, fundamental neste Benfica. Chega de dizer que o uruguaio é só força e velocidade. Darwin tem muitos outros argumentos, que são raros encontrar num ponta de lança - tem uma potência física extraordinária, boa condução de bola, capacidade de drible em espaços largos, capacidade ímpar de ser decisivo no ataque à profundidade, remate espontâneo, mentalidade competitiva, capacidade de pressão, e, ainda tem bons recursos no momento de finalização. O avançado do Benfica colocava-se entre o lateral e o central do Marítimo e criava uma indefinição nos dois jogadores pela ameaça de ataque à profundidade. É a principal referência da equipa para transição, corre metros com bola, chama a marcação e cria constantemente perigo. É, nos dias de hoje, um jogador que merece atenção redobrada dos adversários, porque em qualquer lance de transição ofensiva ou ataque rápido pode marcar a diferença. Quando melhorar ao nível do primeiro toque e definição poderá rapidamente colocar-se na elite de avançados a nível mundial.


Rafa, por sua vez, tem aliado as suas características, também elas raras, de desequilibrador nato em zonas centrais, com uma cada vez melhor eficiência e definição das suas ações. Percebe, cada vez mais, os momentos de pausar e de acelerar, tem grande facilidade de acelerar a partir da receção, maior critério no passe e sem bola tem evoluído muito. Mostra-se entendedor dos momentos em que pode criar superioridade posicional e numérica, desenvolve movimentos de rutura no ataque ao espaço e mostra um comprometimento defensivo de relevo, somando várias recuperações de bola. Nunca será um jogador completamente assertivo, no entanto tem conseguido evoluir na sua percentagem de acerto no último terço. Neste jogo foi o melhor em campo e somou números irrepreensíveis - soma já 12 assistências na Liga Bwin.


O jogo de Rafa Silva frente ao Marítimo


Com jogadores como Rafa e Darwin na frente de ataque, o Benfica terá sempre maiores dificuldades em ataque posicional, mas, no momento de transição ofensiva ou quando as organizações defensivas oferecem mais espaço, os encarnados tornam-se absolutamente temíveis.


Ter espaço em zonas centrais e no último terço permite ao Benfica atingir patamares elevados, agora resta perceber como irá a equipa de Jesus criar esse espaço quando os blocos são cerrados...


Redigido por Diogo Coelho


Criador do Projeto Pensar o Jogo


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