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Como joga o Benfica B? Quais as perspetivas para o clássico?



Nélson Veríssimo, 44 anos, perto de 20 anos de ligação ao SL Benfica, antigo adjunto de Bruno Lage, ex-pupilo de Mário Wilson e novo técnico da equipa principal, pelo menos, até ao final da presente temporada.


Já orientara a equipa encarnada depois do despedimento de Bruno Lage, mas é agora, a sua grande oportunidade de carreira. É o momento de mostrar as suas ideias e potencial como treinador. Na equipa secundária das águias vinha a realizar um trabalho fantástico, deixando a equipa no topo da tabela classificativa e promovendo jogadores de grande qualidade que estão hoje a um passo de se poderem assumir na equipa principal.


Quais as ideias de jogo do novo treinador do SL Benfica? Como joga o Benfica B? E quais as perspetivas para o clássico no Dragão?


As dinâmicas no Momento Ofensivo


O SL Benfica B assume uma estrutura de 4x3x3 dinâmico e mutável ao longo dos momentos e comportamentos de jogo (sistema de jogo transversal a todo o futebol de formação).


Na primeira fase de construção, a equipa pela qualidade dos seus jogadores assume quase sempre o risco de jogar curto, apresentando uma estrutura de 1+2+1 (guarda-redes + centrais + médio defensivo nas costas da primeira linha de pressão). Os laterais ficam na mesma linha do médio defensivo, sendo também solução para sair de zonas de pressão. Os interiores posicionam-se entre-linhas, os extremos (com "pés trocados") oferecem profundidade e largura e o avançado dá apoio ou oferece solução nas costas da linha defensiva.


Um dos comportamentos habituais, principalmente, acionado pelo lado esquerdo, surge quando o médio interior desce para zonas recuadas (assumindo a segunda fase de construção), permitindo ao lateral oferecer largura e profundidade, e ao extremo, habitualmente, procurar o espaço nas costas da linha média adversária.


Outra das dinâmicas muitas vezes utilizada, coincide com a capacidade de passe vertical que os jovens centrais encarnados possuem, com destaque para Tomás Araújo. Dessa forma, conseguem romper linhas de pressão acionando várias vezes interiores, extremos ou avançado centro quando vem em apoio.


Quando a equipa não consegue sair curto, o avançado centro, Henrique Araújo, ou um dos extremos são, frequentemente, as referências para passe longo. Henrique é um avançado extremamente inteligente no ataque ao espaço, pelo que consegue muitas das vezes receber bolas longas vindas do guarda-redes (Samuel Soares é um perito no passe a longas distâncias), dos centrais ou laterais na profundidade, e, posteriormente associar com colegas ou, até mesmo ser ele a conseguir finalizar os lances.


O Benfica B é uma equipa bastante capaz em ataque posicional. São vários os triângulos, losangos, estruturas ou micro-estruturas que a equipa desenvolve por todo o terreno de jogo. As ligações e movimentações constantes oferecem fluidez ao jogo ofensivo encarnado.


Depois de conseguirem chegar a zonas mais avançadas, os laterais projetam-se, posicionando-se na mesma linha que os médios interiores, os extremos oferecem largura e profundidade, posicionando-se no limite da linha defensiva adversária, o interior coloca-se entre-linhas e o avançado centro ora vai em apoio, ora em profundidade.


A microestrutura entre lateral, interior, extremo e, várias vezes, avançado centro tem permitido à equipa encarnada somar oportunidades e golos ao longo da temporada. A partir do momento em que a bola entra no bloco adversário e esta micro-estrutura é acionada, existe liberdade de movimentos, de acordo com o posicionamento dos colegas e do adversário, sempre mantendo o equilíbrio para reagir após a perda. O interior tem a desloca-se algumas vezes em profundidade, rompendo a linha defensiva adversária e recebendo nas costas da mesma. Ou por outro lado, o lateral projeta-se, quando interior e extremo estão por dentro, efetuando cruzamentos para a área (Sandro Cruz tem-se evidenciado esta temporada por esta capacidade de cruzar com precisão). As movimentações de Henrique são parte importante no processo ofensivo da equipa. É ele o homem que oferece à equipa mais espaço em zonas interiores, pelos seus movimentos e contra-movimentos, o promissor avançado ameaça várias vezes a profundidade, atraindo consigo os centrais e dando espaço aos médios interiores para criarem. Por outro lado, qu ando desce em apoio, oferece linha de passe para ligação com um 3º homem, normalmente o interior. É um avançado muito completo e com uma gama de recursos incrível.


Em zonas de finalização, a equipa encarnada consegue colocar vários homens. Normalmente, um dos interiores, o avançado e o extremo do lado oposto aparecem para finalizar.


A capacidade de criação de Paulo Bernardo e Martim Neto, o papel de 9,5 de Araújo, juntamente com a sua inteligência de movimentos em criação, na procura da profundidade ou em zonas de finalização, os extremos imprevisíveis, intensos, inteligentes no ataque ao espaço, com capacidade de desequilíbrio elevada, e que associam a isso, a assertividade na definição (principalmente, Gouveia), o pouco erro técnico e inteligência de Brito e o "chip" ofensivo dos laterais, Sandro e Filipe, oferecem ao Benfica B uma força ofensiva capaz de constantemente oferecer perigo ao adversário.


A ideia ofensiva de jogo do Benfica B passa por chegar rápido à baliza adversária, mas sempre com as melhores condições para que tal seja possível. A variabilidade ofensiva é rica em dinâmica, não só pela capacidade de trabalho do modelo de jogo, como pela enorme categoria desta geração de jovens jogadores do Benfica.


No momento de transição ofensiva, o Benfica mostra jornada após jornada ser bastante forte. Pela reação rápida à perda que será falada mais abaixo, os encarnados conseguem por várias ocasiões recuperar a posse em zonas adiantadas. Pela qualidade e inteligência dos intérpretes e pela dinâmica neste momento do jogo, o Benfica cria frequentemente perigo após ganho da posse.



O Momento Defensivo | O Pressing intenso e agressivo | A rara da Maturidade e o Compromisso


Em momento defensivo, o Benfica estrutura-se no seu 4x3x3 habitual quando pretende pressionar alto; ou num 4x1x4x1 em bloco mais baixo. Na primeira das duas opções são os extremos a sair nos centrais adversários, com o avançado centro a fechar no meio e a tapar caminhos dos centrais para jogar com o lado oposto, os interiores posicionam-se no espaço interior com referência individual ao médio adversário e os laterais sobem para pressionar alto no corredor. Na segunda opção é o avançado a pressionar os centrais, com os extremos na marcação aos laterais , interiores a fechar por dentro e "6" a oferecer cobertura defensiva.


Neste momento a equipa destaca-se, principalmente, pelo pressing que realiza no momento pós perda. A equipa da Luz possui grande intensidade neste momento do jogo, recupera a bola longe da sua baliza e, quando isso não é possível, consegue reagrupar rapidamente e tapar os caminhos ofensivos do adversário. A equipa lê bem os indicadores de pressão, movimenta-se para atrair o adversários para zonas congestionadas, obrigando-o a bater longo.

Pela pouca experiência a jogar num campeonato competitivo como a Segunda Liga, alguns jogadores ainda somam erros individuais com e sem bola, não permitindo à equipa ser ainda mais forte. No entanto, as dinâmicas defensivas apresentadas nos dias de hoje permitem-nos concluir que o tempo de treino com Veríssimo potenciou e ofereceu comportamentos diferentes a vários jogadores, obrigando-os a crescer sem bola, algo que a esmagadora maioria de jogadores jovens dos 3 grandes tem grande dificuldade nos primeiros tempos pós subida para patamares profissionais. Além disso, a equipa apesar de jovem possui uma entre-ajuda e compromisso defensivo bastante assinaláveis, o que demonstra não só a maturidade e comprometimento com a ideia, como a mentalidade que o treinador incute nos seus atletas.



As Bolas Paradas Ofensivas


O Benfica B é uma equipa muito forte no momento de bolas paradas ofensivas. Relembre-se, leitor, que Nélson Veríssimo era o responsável pelas bolas paradas no tempo em que desempenhava a função de adjunto de Lage. É, portanto, um treinador com capacidade para criar estruturas e comportamentos no momento de bola parada. Este momento permitiu à equipa B chegar várias vezes ao golo ou a situações de perigo.



A incrível Geração Benfica | A melhor dos anos recentes?


Nomes como Paulo Bernardo, Tomás Araújo, Martim Neto, Samuel Soares e Henrique Araújo são exemplos de jogadores com tremendo potencial e que farão carreiras ao mais alto nível. Para não falar de jogadores como Embaló, Brito ou Tiago Gouveia que farão também eles carreiras de nível elevado. E há outros que ainda não se conseguiram impor pela imensa juventude ou outros fatores externos, o tempo levará para isso (Ndour, Camará, Rafael Rodrigues ou Nuno Félix são alguns exemplos).


Esta geração do clube encarnado tem qualidade em quantidade incrível. Se é verdade que outras gerações revelaram nomes de grandíssimo nível, objetivamente é esta que possui mais individualidades que consideramos terem qualidade para chegar à equipa principal. Resta esperar, dar-lhes palco na equipa B, deixá-los evoluir e perceber muito bem o momento de os lançar. Isto para que não se cometam erros passados que acabaram por não ser catalisadores para a evolução de vários jogadores.


Perspetivas para o Clássico


O jogo de hoje tem esta grande curiosidade de se perceber como jogará o novo Benfica. Serão preservadas a maioria das dinâmicas e o sistema do ex-treinador? Ou Veríssimo, tentará já impor algumas das suas ideias e alavancar a equipa encarnada pela diferença?


Permitam-me dizer-vos que não consigo responder objetivamente a estas questões. Logo, isto não será um texto que vos oferecerá certezas, mas sim uma visão tendo em conta o que vos apresentei do modelo de Veríssimo na equipa secundária.


As ausências são muitas, principalmente no eixo defensivo (Grimaldo e Otamendi, juntaram-se a Lucas Veríssimo no lote de indisponíveis para o clássico). Dessa forma, acredito que o Benfica apresentará uma estrutura defensiva com quatro unidades. A minha aposta vai para Vertonghen e Tomás Araújo. Pela ausência de Evanilson e Luis Díaz, o Benfica não terá tantos problemas no controlo da profundidade, pelo que a aposta nestes dois centrais coincide com o que o Benfica quererá fazer com bola (os dois centrais são bastante fortes no momento de construção ofensiva) e, sem esta, irá manter de certeza manter o rigor defensivo. Esta dupla completa-se bastante bem defensivamente - Tomás ajudará a "esconder" a maior lentidão de Vertonghen, enquanto o belga será voz de comando para o jovem central. A pouca rotina entre os dois poderá ser um problema, no entanto qualquer dupla apresentada para o jogo de hoje tem essa escassa rotina. Esta é a parelha que considero mais forte para o jogo de hoje, pela qualidade de ambos, mas sobretudo pela forma como se conseguem completar a nível de características.


Veríssimo dá primazia a laterais que se envolvam no processo ofensivo da equipa. Pela ausência de Grimaldo, Gil Dias ou Lázaro poderão ser opção, no entanto os problemas defensivos que já mostraram e o pouco critério com bola levam-me a colocar em causa a sua aposta. Talvez, André Almeida à esquerda, com Gilberto pela direita? Entrando na cabeça de Veríssimo, a aposta seria a de Gil Dias (único esquerdino dos laterais) pela esquerda e André Almeida pela direita.


O sistema de jogo na equipa B contemplava 3 homens a meio campo, com dois interiores e com um médio defensivo com um papel extremamente importante com e sem bola. Parece-me que Veríssimo manterá esta aposta, pelo que no vértice mais recuado, Weigl seria ponto assente, tal como João Mário como interior. O terceiro elemento acredito que seja Paulo Bernardo. Neste triângulo invertido, acredito que Paulo Bernardo assuma o lado esquerdo, enquanto João Mário o direito (André Almeida, Rafa e João Mário, poderão formar a tal micro-estrutura que seria potencialmente interessante para o jogo ofensivo da equipa).


O ataque ficará entregue a Éverton, com Yaremchuk e Rafa. Éverton, finalmente, poderá jogar na posição em que atuava no Brasil. Já Yaremchuk, terá de ser uma espécie de Henrique Araújo, papel que desempenha com qualidade. Rafa pela direita, mas ocupando muitas vezes o espaço interior (zona onde consegue mais consegue criar impacto), oferecendo a ala ao lateral (André Almeida).


Com este onze, o Benfica teria oportunidade de reproduzir algumas das dinâmicas de sucesso que a equipa secundária tem tido. Nélson é um treinador de ideias convictas e convincentes, tem um passado de sucesso e desengane-se quem pensa que virá para cumprir o resto da temporada sem causar impacto. É um treinador com muita capacidade de trabalho, que conhece o Benfica como poucos, que conhece bastantes jogadores da equipa principal, que possui uma personalidade forte e uma comunicação que enriquece a Liga Bwin. Agora, terá de ser enquadrado na direção que o Benfica quererá retomar por certo, a aposta na formação. Seria um desperdício se assim não fosse…


Foi e será a melhor solução para este Benfica, tem a sua grande oportunidade e não a irá desperdiçar.


Redigido por Diogo Coelho


Fundador do projeto Pensar o Jogo

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