Fonte: Liga Portugal
Rúben Amorim assumiu o comando técnico leonino em detrimento de Silas. Desde então, que soma sete jogos com cinco vitórias e dois empate. Soma doze golos marcados e quatro golos sofridos. Desde que assumiu o comando leonino que recuperou vários pontos aos principais rivais. Com o retomar da competição o Sporting CP conseguiu encurtar para dezassete a distância ao primeiro lugar, para onze a distância ao segundo e aumentar a vantagem para o quarto classificado.
O Sporting CP parece ter acertado na escolha que fez e independentemente do valor pago pelo treinador português, por enquanto, vai colhendo o rendimento dessa aposta. Rúben Amorim demonstra-se destemido, sereno, com facilidade na comunicação, mas sobretudo com uma tremenda confiança, mas que nesta fase faz todo o sentido. Creio que tem coragem para conseguir lançar tantos jovens, mas demonstra também inteligência em perceber o atual momento leonino para lançar os mesmos, mas também para perceber qual a melhorar estratégia para o jogo que irá disputar.
Hoje iremos procurar analisar com algum detalhe a forma como monta o leão, as principais dinâmicas do seu modelo de jogo com alguns movimentos padrão, olhando também para as vantagens do seu sistema, para as lacunas do mesmo e para o que ainda poderá ser melhorado.
O SISTEMA
O sistema base leonino é o 3x4x3 ainda que sofra algumas mutações consoante o momento do jogo. Em organização ofensiva, a equipa posiciona-se sobretudo em 3x2x5, dando a projeção dos laterais de acordo com o posicionamento da bola.
Em organização defensiva a equipa molda-se numa primeira fase em 5x2x3, numa fase mais adiantada do terreno, com uma pressão alta (consoante o jogo ou o momento do jogo) e com timings definidos para ativar a pressão.
Em terrenos mais baixos e próximos da zona mais defensiva, acaba por se posicionar em 5x4x1.
O JOGO ENTRE-LINHAS E O MOVIMENTO PADRÃO COM A LIGAÇÃO CENTRAL – AVANÇADO INTERIOR
Um dos movimentos padrão na equipa leonina é a constante busca por movimentos entrelinhas dos avançados interiores. Vietto executa esse papel na perfeição, enquanto que outros elementos – por exemplo Plata – revelam algumas dificuldades em se habituar a esse tipo de jogo, não conseguindo ligar com os médios de frente para o jogo da melhor forma. Mathieu e Vietto eram as principais ligações leoninas que resultavam muitas vezes na dinâmica do terceiro homem.
Neste vídeo é possível verificar essa movimentação. Borja (que faz de Mathieu) procura Vietto que solta de imediato em Wendel, deixando o médio leonino de frente para o jogo e a quebrar a linha de pressão do Paços de Ferreira.
Com as saídas de dois elementos mais preponderantes na manobra leonina, a equipa terá de encontrar novas soluções, sobretudo após perder dois jogadores que são os melhores do plantel a nível individual, com uma capacidade técnica e inteligência acima da média. Quem tem assumido esse papel no atual contexto é Eduardo Quaresma, enquanto que Borja revela algumas limitações. O jovem central português tem demonstrado essas características e capacidade em assumir o risco no passe, sendo muito por aí que o Sporting CP procura neste momento começar a construir e assumir o risco na primeira fase de construção, deixando mais Seba Coates de frente para o jogo para procurar sair longo – se necessário – e para realizar as coberturas nos vários momentos defensivos.
AS LACUNAS NA SAÍDA COM MÉDIOS POUCO PARTICIPATIVOS
É certo que no modelo de jogo de Rúben Amorim, os dois médios centros, assumem um maior papel sem bola, estando mais preparados para agir e reagir na altura em que a equipa perca a posse de bola. Ainda que Matheus Nunes e Wendel sejam capacitados técnica e fisicamente, a equipa leonina nem sempre sente facilidade na construção, sobretudo quando são condicionados por um bloco mais alto. Os médios não conseguem ligar de frente – como vimos no exemplo anterior com Vietto e Wendel – o Sporting CP sente muita dificuldade e é obrigado a jogar longo procurando explorar os movimentos de Sporar, mas também as incursões de Jovane e Plata.
Olhando para o jogo que opôs o Belenenses SAD com o Sporting CP, a equipa leonina sentiu muitas dificuldades em aplicar o seu jogo, sobretudo na primeira fase de construção.
Tem sido verificado (não só no jogo contra o Belenenses SAD, mas também Tondela e Paços de Ferreira o fizeram) que o Sporting CP tem sentido dificuldades na construção.
Os médios estão quase sempre fora do bloco adversário, com poucos movimentos, sobretudo entrelinhas. O seu raio de acção é praticamente controlado e anulado pelo adversário. Torna-se curto existir apenas movimentos entrelinhas dos três homens da frente, sobretudo quando os intervenientes não são os melhores executantes, como foi o caso de Rafael Camacho diante do Gil Vicente FC e também de Gonzalo Plata, que como já referi, vai revelando algumas dificuldades neste tipo de jogo apesar de todo o seu potencial e qualidade.
O Sporting CP já demonstrou que gosta de realizar também uma pressão alta. Há timings e gatilhos para ativar a pressão. É possível verificar que quando a bola é trocada pelos defesas adversários ou quando a equipa adversária joga para trás, ficando de costas para o jogo, que a pressão leonina é ativada. No entanto, há momentos em que isso poderá ser prejudicial.
A equipa leonina procura pressionar alto e numa fase inicial do jogo poderá conseguir provocar o erro adversário. Mas em jogos com maior grau de dificuldade ou até mesmo numa altura em que não tenha a mesma frescura física, poderá apanhar-se numa situação de desequilíbrio defensivo.
A verdade é que o futebol leonino – à semelhança de FC Porto e SL Benfica – não é vistoso, nem é entusiasmante. Mas há um processo. Há uma ideia. Há crescimento. E essa ideia é solidificada em cima de bons resultados, permitindo um maior e mais rápido crescimento. Como referi, Rúben Amorim demonstra inteligência para perceber os timings e as pequenas mudanças que podem ser necessárias fazer, estrategicamente. E esse rigor tático tem trazido frutos. É sobretudo no equilíbrio e na solidez que a equipa leonina consegue os seus resultados. É um Sporting CP eficaz e pragmático, mas sobretudo competente.
AS MELHORIAS NECESSÁRIAS PARA ATACAR O TÍTULO
O Sporting CP não tem qualidade individual para outros voos e irá sentir no que resta jogar de campeonato enormes problemas na construção e na criação. No entanto, o Sporting CP irá certamente construir bases para preparar melhor a próxima época, mas se quiser de facto almejar o ataque ao tão desejado título terá de procurar reforçar o seu plantel.
Pouca qualidade na frente, alguns dos melhores jogadores lesionados, laterais com grandes lacunas defensivas e pouco assertivos – sobretudo no lado direito – e com a mais recente perda de Mathieu, a equipa perde um dos melhores elementos na construção, sobretudo com a importância que tem neste modelo. Rafael Camacho demonstra não ter qualidade para jogar no Sporting CP. Doumbia e Battaglia demonstram também ser curtos, especialmente o costa marfinense que vai somando erros atrás de erros. Será necessário reforçar praticamente todos os sectores com outras características, sobretudo no que toca à tomada de decisão e à perceção dos espaços, sendo capazes de assimilar e compreender melhor o modelo de jogo, onde Rúben Amorim terá tempo e espaço para moldar a equipa à sua maneira.
REDIGIDO POR: Tiago Macedo Silva
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