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A construção como alicerce base

A importância de uma construção de qualidade e evolutiva, para sustentação e base dos “homens da varinha mágica” da frente


Na correria dos tempos modernos, onde tudo é para ontem e a essência do desfrute pelas coisas boas é substituída pela pressa de fazer mais ao invés de fazer melhor, leva-nos a que o tempo disponível para as coisas que mais gostamos seja substituído pela azáfama do dia-a-dia, e eu não sou exceção… o tempo para ver o futebol que gosto, da forma como gosto, é escasso, ou então não estou a ser suficientemente paciente para “eliminar a pressão” - entenda-se por azáfama - e “entrar dentro do bloco adversário” com vantagem numérica e posicional, para desfrutar daquilo que vai entrando em extinção … o bom futebol, mas ainda vão existindo bons exemplos, nem que seja a espaços.


Muito se enfatiza a construção, umas vezes para criticar aqueles que tentam ser diferentes, outras para se discutir quais as melhores opções para cada jogo, lance, etc…, no entanto, ninguém pode negar aquilo que está aos olhos de todos, que é a partir da construção que tudo o resto se desenvolve, é a qualidade da mesma que permite chegar à frente com mais qualidade. A forma de o fazer passa muito por aquilo que é a intenção de quem dirige.


Recentemente, ao observar uma das equipas que ao longo da História nos foi brindando com jogadores diferenciados, demonstra que os bons DC não precisam de ser altos, fortes e feios, até podem não chegar aos 180 cm e serem elementos decisivos no jogo da sua equipa. Atualmente, e observando um dos seus últimos jogos, o Ajax, mostrou a toda a Europa algo que não se deve deixar de levar em conta. Assistiu-se à evolução do jogo in loco, mostrou que ser diferente, e querer fazer diferente, é positivo, não apenas por “carolice”, mas sim porque entendem que pode dar algo distinto ao seu jogo. E isto foi patente, com a integração de um DC em zonas menos comuns. Um DC a acelerar apoio de trás para a frente, como se de um DL se tratasse, no entanto, ao invés de subir pelo corredor lateral, acelera apoio e é solução de passe para variação no corredor central. Parece bastante simples, no entanto, o que implica? Desvantagens no equilíbrio ofensivo da equipa? Vantagem posicional, uma vez que o seu apoio é de trás para a frente e permite visualizar todo o campo, e portanto, todos os elementos de oposição e de cooperação? Que tendências poderão surgir a partir deste ponto? … Excelente como a inovação nos pode colocar a pensar e como nos pode levar a querer evoluir e melhorar o que já temos.



Para além disso, não só disto foi feita a construção do Ajax, muitos outros aspetos podemos destacar. Salta-me à vista a intenção de querer sempre desmontar a 1ª linha de pressão adversária, antes de acelerar a posse, e isto leva a que a ligação com a criação seja facilitada, dada a vantagem numérica e posicional que possuem, menos adversários, mais jogadores de cooperação, e domínio da bola em condução, com o jogo a passar de GR + 10 x 10 + GR, para 10 x 8 + GR.


Nos vídeos abaixo, bastante exemplificativos desta intenção, vemos a pressão adversária montada pelos dois AV do Benfica em 1+1, com o intuito de controlar a ligação vertical no médio defensivo (nº4 Edson Álvarez), no entanto, a equipa dos Países Baixos, foi capaz de eliminar a 1ª linha de pressão com a utilização do GR, para posteriormente libertar o DC do lado oposto com espaço para condução. Esta dinâmica levou a uma circulação paciente, e sobretudo, com a intenção de fixar os dois AV do Benfica sobre dois dos jogadores participantes diretos na 1ª fase de construção, nomeadamente GR e um dos DC. Para tal, o posicionamento do médio defensivo no vértice superior do losango serviu, não só de solução de ligação vertical, como também de membro fixador para libertação no lado oposto para condução de um dos DC.


Desengane-se quem acha que está tudo inventado, porque se assim fosse, as certezas eram mais que as dúvidas e a evolução era castrada por quem dela necessita. Ganhar será sempre o fim mais importante e o objetivo de todos, mas o caminho para lá chegar, é e será, aquilo que dá valor ao resultado alcançado, seja ele o que queremos ou não. É um compromisso de todos respeitar o jogo, MAIS JOGO e menos “espalhafato”.


O autor deste artigo escreve as suas rubricas ao abrigo do seu “acordo futebolístico”, pelo que as suas rubricas assentam sempre na visão que tem sobre o jogo, porque dentro do jogo, há muitos jogos que podem ser jogados, mas há um que o desperta acima de qualquer outro.


Por Rúben Pinheiro


Licenciado em Treino Desportivo, com especialização em Futebol pela Escola Superior de Desporto de Rio Maior, prestes a defender a sua tese na mesma instituição de ensino. Tem 23 anos, Treinador UEFA B, com passagens por Sporting C.P., equipa B e Sub-19 Feminina, Belenenses SAD Sub-23 e atualmente Treinador Principal no Campeonato Nacional de Sub-15 no S.C.U. Torreense. Acima de tudo, apaixonado pelo jogo de futebol, pelo treino, pelo pensamento e reflexão acerca do mesmo, e sobretudo apaixonado pela forma como as suas equipas jogam, assente no pormenor, no desenvolvimento individual através do coletivo, e na importância de dar prazer a quem joga e quem vê jogar!

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