Slimani e Edwards - igualdade de propósitos a curto/médio prazo, disparidade a longo prazo

Islam Slimani e Marcus Edwards chegam ao Sporting provenientes de Lyon e Vitória SC, respetivamente, em contextos muito distintos e por verbas também muito distintas. Marcus Edwards transfere-se por 7.670.000€, correspondente a 50% do seu passe, com o Sporting a incluir na transferência o passe em definitivo de Bruno Gaspar, o empréstimo de Geny Catano (jovem da formação leonina) até ao final da temporada, e também o direito de preferência de exercer a compra de Gonzalo Plata. Islam Slimani chegou a acordo com o Lyon para a rescisão de contrato, no intuito de reforçar o Sporting, com o clube leonino a não pagar nenhuma taxa de transferência, apenas o salário do jogador e um possível prémio de assinatura e bónus no contrato. Também nos referimos a jogadores com características totalmente distintas, visto que também ocupam diferentes posições no terreno.

Marcus Edwards

O extremo inglês de 23 anos é um desequilibrador nato. Muito forte nas situações de 1x1, capaz de jogar entre-linhas, de desequilibrar em espaços curtos, com uma boa capacidade de decisão e também de finalização. Um verdadeiro “abre latas”. Um jogador muito completo, que fora dos “4 grandes” era de longe o melhor jogador do nosso campeonato, e já há algum tempo se percebia que estaria pronto para “dar o salto”. Desde que chegou ao Vitória SC percebeu-se logo que era jogador para outros patamares, conseguia fazer coisas que nenhum dos seus colegas fazia e desbloqueava muitos jogos que não estavam fáceis para os vitorianos. Na 1ª época ao serviço do Vitória (2019/20) apontou 9 golos e 5 assistências em 36 jogos disputados, em 2020/21 realizou também 36 jogos onde fez apenas 3 golos e 1 assistência (época em que foi muitas vezes suplente utilizado), e na época atual já tinha 24 jogos disputados onde apontou 8 golos e 2 assistências.

No entanto, muitos treinadores, nomeadamente ex treinadores do Vitória SC, referem que o extremo inglês, fora de campo, é uma pessoa muito introvertida, difícil de encaixar no espírito de grupo, não tanto devido à língua, mas pela sua personalidade. O próprio Rúben Amorim, quando fala abertamente das novas contratações, referindo-se mais especificamente ao jogador, aborda esse tema - “foi muito importante ele vir já, porque quando falei com ele vi que ele era muito introvertido, e sei que vai demorar tempo ainda a ele conhecer os colegas, pelas características dele”, disse o treinador dos leões. Rúben Amorim abordou as características do jogador, dentro e fora do campo, na conferência de imprensa de antevisão ao jogo entre a Belenenses SAD e o Sporting, a contar para a 20ª jornada da Liga Bwin.

Analisando as características de Marcus Edwards, percebemos que é um extremo diferente de todos os que o Sporting possui no seu plantel, nenhum deles tem esta capacidade de 1x1 que o extremo inglês tem: Pote é um jogador capaz de jogar entre-linhas, mas muito mais forte a fazer diagonais e na relação que tem com a baliza; Sarabia é forte a jogar em espaços curtos, no entanto não é um jogador de 1x1, e sim de combinações e de se relacionar com os colegas, ou seja, um jogador de equipa, que sozinho não consegue ser o “abre latas” que é o extremo inglês; Tabata é forte no 1x1 (mas nada que se compare com Marcus Edwards), tem uma boa relação com a baliza, qualidade de passe, visão de jogo e é bastante capaz de jogar entre-linhas; ainda há Nuno Santos, que é um jogador muito mais vertical, com maior capacidade de jogar em largura, de fazer diagonais, e por isso também é utilizado muitas vezes na posição de ala esquerdo no sistema de Rúben Amorim.

Marcus Edwards chega ao plantel do Sporting para, claramente, ocupar a posição de avançado interior, em qualquer lado, de apoio à referência (Paulinho/Slimani). Inicialmente muitos apontam ser a grande alternativa a um desses dois avançados interiores do trio de ataque do Sporting (Pote e Sarabia), porém o treinador leonino já nos habituou que cada jogador tem de trabalhar para alcançar o seu lugar e que não há “lugares cativos no 11”, com isso, Edwards pode perfeitamente ganhar o lugar a um dos dois habituais titulares.

Podemos entender que a vinda de Edwards é uma transferência para preparar a eventual saída no final da temporada de Sarabia, que está emprestado pelo PSG até ao final da época. Sendo assim, o extremo inglês poderá estar a ser preparado para ter um maior protagonismo na próxima época, o que prova ser mais uma grande jogada de antecipação de Rúben Amorim e da sua estrutura.

Islam Slimani

O avançado argelino de 33 anos já é bem conhecido pela nossa realidade. Um jogador muito forte na finalização, destacando-se pelo seu poderio que tem dentro da área, através do seu forte cabeceamento e da capacidade que tem em aproveitar espaços para finalizar. É um autêntico “matador” com “faro de golo”. Não sendo dos seus pontos fortes, também é capaz de fazer diagonais (algo que é muito pedido por Rúben Amorim) e de se associar com os seus colegas (apesar de estar anos-luz atrás de Paulinho nesse aspeto). É um avançado muito intenso na pressão, algo que o técnico também dá um grau de importância bastante elevado. Desde que saiu do Sporting, nunca mais conseguiu ser aquele avançado que todos vimos atuar em Portugal, tendo tido aventuras no Leicester (ano seguinte do clube inglês ter sido campeão), propositando uma transferência de 30 milhões de euros aos cofres do Sporting, em agosto de 2016, Newcastle, Fenerbahçe, Mónaco (estes últimos três clubes mencionados, como estatuto de emprestado pelo Leicester) e Lyon (a custo zero). Em nenhum destes clubes passou da marca dos 10 golos numa temporada, sendo a melhor época em 2019/20, por empréstimo do Leicester ao Mónaco, quando apontou 9 golos. É, portanto, um avançado que está desenquadrado com os golos há algum tempo, contudo não deixa de ser uma das suas fortes características. Estes escassos números nos últimos anos podem dever-se a várias situações dentro ou fora de campo, que o novo reforço leonino pode vir a ultrapassar nesta nova fase da sua carreira.

Slimani chega ao Sporting para ser a alternativa a Paulinho. A alternativa que Rúben Amorim sempre mostrou não ter, porque apesar de constar Tiago Tomás no plantel, o treinador já o demonstrou inúmeras vezes não ter a confiança necessária em lançar o jovem avançado na posição de Paulinho. Das poucas vezes que foi chamado atuou numa das posições de apoio ao ponta de lança, daí também ter sido emprestado para ganhar mais minutos em campo e não estagnar a sua evolução. Refiro que o argelino chega para ser a alternativa porque não vejo de todo Rúben Amorim abdicar de um jogador como Paulinho, que no seu sistema é importantíssimo na manobra ofensiva da equipa, em detrimento de Slimani, um avançado que, nas tarefas que Rúben Amorim pede ao seu 9, está anos-luz atrás de Paulinho.

O treinador leonino pede que o seu 9 tenha capacidade de se associar com os colegas e de fazer diagonais, sobretudo de “dentro para fora”, abrindo assim espaços.

Paulinho dá tudo isto ao jogo do Sporting, enquanto Slimani, é um avançado mais fixo, de área, de definição de jogadas. É presumível que o avançado argelino entre em campo nos jogos em que o Sporting está com dificuldades e com um resultado negativo, para os últimos 15/20 minutos de jogo, altura em que o Sporting coloca muitas bolas na área e ataca mais pelo desespero e pelo “coração” do que propriamente pela racionalidade. Nessas situações, na época passada e também na atual, quem fazia esse papel era Coates, no entanto a chegada de Slimani traz muitas coisas de positivo ao Sporting no que diz respeito a este aspeto. Permite que Rúben Amorim não abdique do seu melhor central para o colocar na frente de ataque, correndo o risco de acontecer situações como a do jogo em Alvalade frente ao SC Braga - quando os leões perderam por 2-1 com um golo nos descontos, em que a influência de Coates nesse lance poderia ter sido importante se estivesse no “seu lugar”.

É assim uma alternativa de peso a Paulinho, e Rúben Amorim também se expressou sobre a sua contratação em conferência de imprensa.

Redigido por Vasco Palha