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Rúben Amorim, o Melhor em Portugal

Atualizado: 4 de jan. de 2022



A palavra "projeto" tem uma importância enorme para cada clube no futebol atual. A competitividade no mercado do Futebol a nível nacional e internacional é de tal forma grande, que erros na tomada de decisão aquando a aquisição de pessoas para satisfazer a necessidade dos clubes, sejam jogadores, treinadores ou dirigentes, pode levar à perda de muito dinheiro. Estes erros acontecem, principalmente, quando o "projeto" não está bem definido.


Qual o rumo que queremos para o clube? Quais os focos que o clube deve definir? Quais os objetivos a curto, médio e longo prazo? Que tipologia de treinador queremos para orientar a equipa? Qual o perfil de jogador que pretendemos e necessitamos de acordo com o modelo de jogo que o treinador escolhido quer implementar? Estas são apenas algumas das questões que passam pela cabeça das altas patentes de um clube de Futebol aquando a definição de um "projeto".


Inicio esta crónica por "projeto" e, repito esta palavra várias vezes propositadamente, porque é o que dou mais valor no futebol atual. É o que norteia e o que permite ao clube alcançar ou não os objetivos finais. É a base de sustentação que deve ser passada e relembrada para os intervenientes ao longo do tempo. Para se ser vencedor temos sempre de perceber para onde queremos ir. E que projeto bem delineado teve o Sporting a partir da chegada de Rúben Amorim!


O treinador perfeito para o Projeto Sporting


A escolha de Rúben Amorim por parte de Hugo Viana e Frederico Varandas foi perfeita. Criticada (e muito!), mas perfeita. E a história, que começou com adversidade (que história bonita não começa com problemas e dificuldades iniciais?), principalmente, pela eliminação da Liga Europa, escreveu-se de forma humilde, categórica, invulgar, racional e paradigmática.


Rúben Amorim é, nos dias de hoje, o melhor treinador a nível nacional e um dos melhores do Mundo. Pode parecer exagero tal afirmação, mas eu acredito verdadeiramente nisso. Não é só pela campanha vitoriosa que nos vem habituando, é muito mais do que isso!


O seu percurso enquanto jogador facilitou um pouco a afirmação como treinador, mas, nem por isso, deixou de ter um percurso ascendente e cheio de meritocracia. Iniciou no Campeonato de Portugal ao serviço do Casa Pia, porém burocracias absolutamente patéticas relativas ao nível de treinador acabaram por o prejudicar. De seguida, surgiu o convite do SC Braga para orientar a equipa B. Rapidamente escalou para a equipa principal, atingindo um registo fantástico de vitórias e conquistando a Taça da Liga. Por fim, apareceu o desafio Sporting que, pela sua qualidade enquanto treinador e pelo valor humano que se foi percebendo ser grande, indemnizou o Braga no valor da cláusula de rescisão de 10 milhões de euros.


Desde o primeiro dia, não escondeu a dificuldade do desafio, a pressão que havia no clube era grande e, mesmo vindo de um ciclo fantástico no SC Braga (caso permanecesse no Minho, propostas não iriam faltar no consumar dessa temporada), aceitou tentar mudar o rumo do clube. Os objetivos foram coerentes, precisos e a imagem do treinador era perfeitamente compatível com o projeto.


A competência no aproveitamento da formação e na aquisição de outros jogadores:


Depois de meia época em que os principais objetivos passavam por conhecer os jogadores ao seu dispor, trabalhar o modelo de jogo e começar a preparar a próxima temporada, chegava a necessidade de serem feitas escolhas para a constituição de um novo plantel.

Com um conjunto recheado de jogadores jovens, o treinador inteligentemente viu em jogadores experientes como Antunes, João Pereira, Feddal ou Ádan, um meio para oferecer bases aos mais novos e reforçar o balneário de maior maturidade. De seguida, o Sporting contrata Pedro Gonçalves, Nuno Santos, João Mário ou Pedro Porro; recupera Palhinha e Bragança e, chama dos escalões de formação, Tiago Tomás, Nuno Mendes e Matheus Nunes.


Nas restantes janelas de mercado voltou a mostrar a sua imensa sabedoria no que toca à escolha de jogadores. O Sporting contratou no ano de 2021 Sarabia, Paulinho, Matheus Reis, Ugarte, Vinagre …


Rúben Amorim permitiu a valorização de jogadores e o incremento das individualidades em função do coletivo. O conhecimento da realidade portuguesa permitiu-lhe investir no mercado interno como nenhum "grande" o tinha feito no passado recente. Melhorou consecutivamente o plantel com aquisições de grande valor. Aliado a isto uma vaga de talentos vindo da academia, com Matheus Nunes e Nuno Mendes a serem destaques, permitiu ao treinador ter também boas soluções dentro de portas. A equipa transformou-se num coletivo forte, cheio de individualidades com potencial elevado.


Liderança Pura e Comunicação exemplar


Todos nos lembramos da mítica expressão "onde vai um, vão todos" ou no dia da sua apresentação "as pessoas perguntam: e se corre mal? (…) Mas e se corre bem? o que nós podemos mexer com esta gente? (…) E o facto de o Sporting estar a precisar de uma nova vida ? E se nós conseguirmos fazer isso?". A comunicação para fora foi altamente cuidada, pensada, mas nem por isso menos verdadeira, estimulando sempre a esperança e crédito no projeto, porém mantendo os pés assentes na terra e percebendo exatamente como é o cargo de treinador de futebol. Um dia estamos a tocar no céu e no outro batemos ruidosamente em terra.


Desde o primeiro dia soube lidar com a vitória da melhor maneira, mas, quando a derrota e o insucesso apareceram, teve a tranquilidade necessária para proteger os jogadores, entender o contexto que originou a derrota e olhar para dentro tentando que esse insucesso fosse mais um passo para evoluir. Não deita a culpas para agentes secundários. Concentra-se no processo de trabalho e somente naquilo que pode controlar.


A perceção do seu papel enquanto figura de proa de um clube como o Sporting e da responsabilidade que tem para toda a sociedade foi compreendida por Amorim como poucos treinadores até então (apenas Lage conseguiu ser um exemplo de comunicação com a mesma valia que o técnico do Sporting). Rúben Amorim é humilde para aceitar o erro, tem sentido de humor, sorri e ri como quem não leva a vida demasiado a sério, é esforçado e exaustivo quando tem de ser, fala do jogo e deixa para lá as polémicas. Não se vangloria do êxito, oferece o mérito aos jogadores e passa constantemente mensagens para dentro que incentivam à transcendência, ao trabalho e ao mérito por parte dos atletas, tenham eles 17 ou 30 anos de idade.


Uma liderança assente na meritocracia, na confiança pelo próximo e promotora de uma união grupal acentuada. Soube sempre tirar o melhor partido de todos os atletas que tinha à disposição dando-lhes estofo e embalagem para fazer mais do que possivelmente pensariam que conseguir. Quantos foram os exemplos de jogos em que os titulares não estavam disponíveis e atletas que praticamente não jogavam tiveram exibições de qualidade? Passou sempre uma mensagem de confiança também nestes jogadores menos utilizados, "obrigando-os" a aplicar-se e dedicar-se nos treinos para que, posteriormente, conseguissem corresponder da melhor forma às oportunidades que surgiam. Teve sempre o grupo na mão com uma liderança pura, "simples", invulgar e sempre sincera.


Construir a equipa sob Vitórias


Amorim desde cedo passou para o grupo as suas ideias de jogo. O sistema de 1-3-4-3 foi uma constante e as dinâmicas que se foram criando eram consistente, eficazes e promoviam um jogo sólido e coeso do ponto de vista defensivo e, criativo e vertical ofensivamente falando. As equipas que orientou foram sempre equipas ganhadoras e organizadas, em que os jogadores sabiam exatamente o que fazer dentro de campo. Foi, aos poucos, criando uma clara marca de treinador que é hoje um consenso de qualidade dentro do futebol português e europeu.


Mesmo quando não tinha as melhores individualidades, soube tirar partido do melhor de cada um e formar coletivos fortes, ambiciosos e capazes de se baterem com equipas individualmente mais capazes.


Apesar de manter o sistema, o modelo de jogo foi evoluindo com o passar do tempo e é hoje um modelo extremamente consistente, dinâmico e criterioso. Amorim é um treinador aberto ao conhecimento, pelo que as suas ideias de jogo estão em constante progresso.


Cada vez mais vemos a equipa do Sporting a adquirir uma plasticidade deveras interessante consoante o comportamento do adversário. Os jogadores têm pleno conhecimento do modelo de jogo e passam a ter maior liberdade para procurarem o espaço, homens livres e os timings certos para cada ação.


Amorim conseguiu também mudar a mentalidade de um clube demasiado habituado à desilusão e derrota. O Sporting passou de um clube em que nem os adeptos acreditavam na conquista de títulos para uma das melhores 16 melhores equipas da Europa (isto após a passagem da fase de grupos da Liga dos Campeões). Hoje a equipa está muito mais competitiva, confiante, detentora de uma crença total na vitória (quantas foram as vitórias nos minutos finais?), unida e irreverente.


Rúben Amorim é um exemplo do que deve ser um líder, um educador, um treinador e uma figura de tanto relevo num mundo mediático como o Futebol. Ouvi-lo é sinónimo de aprender. Que mantenha toda esta integridade e que venham mais como ele!



Redigido por Diogo Coelho


Fundador do projeto Pensar o Jogo


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