«Saber pensar
é essencial,
p’ra bem saber jogar...
É também fundamental
p’ra bem saber treinar,
porque o jogo
e o treino
têem sabedoria implicada
e entendê-los como um todo
é necessário neste reino
p’rá competência confirmada...»
Vítor Frade, Curar o Jogar
“Pensar o Jogo” (entenda-se o “Jogo” em sentido lato) é minha intenção e preocupação enquanto Treinador. Nesse sentido, irei encarar este espaço “Pensar o Jogo” como uma oportunidade de partilhar algumas das minhas reflexões sobre o fenómeno do Futebol, nomeadamente sobre o jogo, o treino, o treinador, o jogador, …
Este artigo inaugura a minha colaboração com o “Pensar o Jogo”. Portanto, uma vez que o jogo é de quem o joga e porque sem ele não há jogo (de qualidade), decidi escrever sobre um tema que me apaixona – O TALENTO.
“É ele (o jogador) que joga, que dá vida ao jogo, que interage, fazendo emergir um novo jogador e uma nova equipa. Como tal, temos que lhe dar a importância que ele merece, que é toda.”
José Guilherme, 2011
Recentemente, o Mister Luís Castro partilhou uma reflexão que se iniciava da seguinte forma: “É necessário Talento para desenvolver Talento”. Do meu ponto de vista há uma ideia central a reter das palavras do Mister: o treinador tem o dever e a responsabilidade de cuidar, de desenvolver e de potenciar o jogador no seu todo.
No Futebol de Formação, entendendo o Talento enquanto conceito de valor potencial, o processo de desenvolvimento assume uma importância determinante. Sendo que há duas condições primordiais para o sucesso desse processo: a quantidade e a qualidade da prática – só mediante um processo prolongado no tempo, com elevado número de horas de treino e de jogo de qualidade, se pode atingir um nível de desempenho diferenciado e superior, isto é, possibilitar a concretização do Talento Potencial em Talento Real (que, por sua vez, carece de confirmação e validação no contexto). Portanto, naturalmente se compreende a preponderância que o treinador tem no processo, em particular no factor da qualidade.
No Futebol de Alto Rendimento, considerando a necessidade do Talento ser validado continuadamente, torna-se fundamental promover a permanente actualização do desempenho do jogador, para que possa ser capaz de responder consistentemente às exigências desse patamar. Neste sentido, o treinador assume também um papel de elevada relevância de forma a ajudar o jogador a potenciar e a optimizar as suas características e capacidades.
Ora, quer no Futebol de Formação, quer no Futebol de Alto Rendimento, em primeiro lugar o jogador deve procurar estar sempre a evoluir. Depois, o treinador deve ter a capacidade e as competências (a diferentes níveis) para contribuir para esse crescimento. Todavia, o processo de desenvolvimento é complexo e sensível, pelo que exige uma intervenção e gestão cuidadosa por parte do treinador, de forma a não colocar nunca em causa a manifestação e expressão do Talento.
Concluindo e tendo por base essa preocupação, enquanto treinador, procuro ter presentes as seguintes premissas:
- “não mexer” (por exemplo, querer tornar o Corpo do jogador mais simétrico, pode ter implicações negativas na qualidade de rendimento e no seu potencial e até mesmo vir a ser um foco de lesão; na dúvida, não havendo dor, deve respeitar-se a individualidade do jogador e fugir à tendência para “corrigir”);
“São raros os treinadores capazes de entender que, por exemplo, para jogar bem, alguns futebolistas necessitam de correr mal. O suposto defeito permite-lhes abrandar ou travar e aprender um tipo diferente de passe ou de remate... O talento é um grande corrector de defeitos ou, se quiserem, ao contrário: o defeito é um grande gerador de talentos.”
Jorge Valdano, 2006
- “menos é mais” (por exemplo, optar por uma lógica de treino excessivo, impedindo o jogador de recuperar e de ter condições de frescura, pode afectar negativamente o rendimento e o potencial, bem como, aumentar da probabilidade de lesão).
“E a frescura
que te deu leva-te
p’la frescura segura
às condições p’rá superação
e aí eleva-te
sem contestação...
Aos mais complexos níveis
de organização,
às vezes aparentemente incríveis
pelo virtuosismo da execução...”
Vítor Frade, 2019
Redigido por Bruno Pereira
- Treinador UEFA B
- Licenciado em Ciências do Desporto FCDEF-UC
- Mestre em Desporto para Crianças e Jovens FADEUP
Experiência em diferentes contextos, do Futebol de Formação ao Futebol Profissional, com passagem pelo futebol grego e actualmente a trabalhar no Futebol Feminino; desempenhando funções diversas, nomeadamente, treinador principal, treinador adjunto, analista, treinador individual e coordenador técnico.
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