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Os dias a seguir a Diaz



A Liga Bwin viu partir o seu jogador mais impactante. O FC Porto viu partir o seu jogador mais influente. E os adeptos de futebol viram partir um craque de qualidade superlativa, que semana após semana nos brindava com todo o seu virtuosismo e com toda a sua apetência pelas balizas adversárias.


Sérgio Conceição, como é do conhecimento geral, já se posicionou acerca da saída daquele que era, até à data, o melhor jogador da nossa liga. Uma posição dura, convicta e plena de assertividade. Embora apontasse a questões que ultrapassam o treino e o jogo em si, a verdade é que a ausência de planeamento financeiro num clube com a grandeza e as aspirações do FC Porto é algo difícil de entender e aceitar. Não só pela potencial influência que esse acto de não-gestão pode ter no trajecto da equipa principal a nível nacional, como também a nível europeu.


Importa frisar este facto porque, antes de toda e qualquer análise que se possa fazer ao possível futuro do FC Porto em campo sem Luis Diaz, fica a ideia de que a venda do craque colombiano foi uma inevitabilidade. Causada pela tal falta de planeamento mencionada pelo treinador portista, mas ainda assim uma inevitabilidade.


Consumada que está a saída do ex-número 7 portista, que FC Porto teremos a partir de agora e até final da época? O que perde, ao certo, o clube mais titulado do futebol português nos últimos 30 anos? De que forma Sérgio Conceição irá (re)agir para garantir a manutenção da qualidade do jogo ofensivo dos dragões? E será possível, ainda esta época, assistir a algum upgrade técnico-táctico?


A verdade é que no primeiro encontro pós-Diaz (o colombiano estava ao serviço da sua selecção, tendo o negócio sido consumado por essa altura) vimos um FC Porto igual ao melhor FC Porto da temporada…mas diferente.


Sérgio Conceição apostou naquele que, à partida, será o sucessor natural do agora jogador do Liverpool: Pepê. Uma aposta que vem sendo preparada e acautelada há algumas semanas, isto depois de um início de percurso bastante tímido ao serviço dos Dragões. Tal como aconteceu com o colombiano.


Creio ser essa a única semelhança que iremos encontrar entre Diaz e Pepê. Porque, ao contrário do que diria Carlos Tê e Rui Veloso, é muito mais aquilo que os separa do que aquilo que os une. A começar pela assertividade e pela objectividade, algo explicável para lá das origens futebolísticas de cada um…


Diaz demonstrou sempre grande assertividade e objectividade na busca dos espaços vazios próximos da baliza adversária. Primeiramente mais sobre os corredores laterais porque o modelo de jogo instituído assim o exigia, com dinâmicas ofensivas de aposta constante em transições defesa/ataque rápidas que pudessem solicitar o contra-ataque. Somado a isso, um posicionamento ligeiramente mais interior do que o verificado ao longo desta temporada, o qual lhe permitia (ou obrigava a) pequenas diagonais de ruptura de dentro para fora (corredor central para corredor lateral), fazendo com que a maioria das suas acções ofensivas mais influentes ocorressem precisamente sobre os corredores laterais.


Este ano, com o upgrade técnico-táctico introduzido por Sérgio Conceição (iniciado com a entrada de Vitinha e reforçado com a aposta em Fábio Vieira), Diaz passou a estar mais aberto em campo, com maior amplitude visual, o que lhe permitiu receber a bola maioritariamente sobre o corredor lateral esquerdo, de onde depois seguia por onde decidisse, fosse para desequilibrar através de acções individuais, fosse para desequilibrar através de combinações associativas com Taremi (as famosas trocas entre ambos favoreceram muito mais o colombiano do que o iraniano), Otávio (que tantas vezes surge em zonas mais interiores) ou Vitinha (cada vez mais influente na manobra criativa dos dragões).


Este upgrade foi, juntamente com o trabalho diário e um entendimento maior e melhor do jogo praticado pela equipa, o principal responsável pelo salto qualitativo exibido por Diaz. Foi a junção perfeita entre ideia de jogo, modelo de jogo e características do jogador.


Com Pepê dificilmente veremos o mesmo. Sem recorrer ao chavão “não há jogadores iguais”, a verdade é que não só as características morfológicas de ambos são diferentes, como os próprios atributos técnicos são distintos. O que significa que pelo flanco esquerdo teremos um FC Porto menos incisivo, visto o brasileiro ser menos “explosivo”, ter menos capacidade de aproximação às zonas de finalização e, consequentemente, ser menos objectivo e menos concretizador.


Irá então o FC Porto alterar alguma coisa na sua estrutura táctica? Sinceramente, penso que não. Mesmo com a chegada de Galeno, vejo em Pepê o principal candidato a uma vaga no actual onze inicial portista. Por duas razões, essencialmente:


- a sua capacidade de associação é maior do que a do colombiano em espaços reduzidos e isso pode ser benéfico para uma equipa que sabe ter bola e que quer ter cada vez mais bola no meio ofensivo. É possível imaginar um FC Porto ainda mais imprevisível nas aproximações à baliza adversária, assim seja dada liberdade de movimentos a Vitinha, Otávio, Fábio Vieira e Pepê;

- o nível de tomada de decisão de Pepê é superior ao do ex-SC Braga. Diria que incomparavelmente superior. O que irá permitir maior segurança na circulação de bola, na manutenção da posse de bola sob pressão e maior capacidade de criação de desequilíbrios em espaços reduzidos.


A maior dúvida que tenho em relação a Pepê prende-se com o seu posicionamento-base no momento de organização ofensiva. Irá partir em largura total como fazia Diaz esta época, mesmo sendo menos “explosivo”? Ou, dada a sua capacidade associativa, irá derivar ligeiramente para terrenos mais interiores, partindo maioritariamente da meia esquerda, de modo a estar mais confortável para acções combinativas de 2x1 ou 3x2?


Em suma, FC Porto perdeu o seu jogador mais influente, o qual cresceu bastante graças ao actual modelo de jogo, mas não me parece que isso vá implicar grandes alterações estruturais na equipa. Sendo certo que o modelo de jogo manter-se-á em funções, dados os bons resultados, penso que não iremos assistir a um novo upgrade técnico-táctico nesta época. Porque tal decisão poderia ter implicação directa no rendimento da equipa (resultados) e porque ainda falta consolidar tudo o que de bom temos visto esta época no Dragão.


Veremos então como vão ser os novos dias do FC Porto a seguir a Diaz. Na minha perspectiva, serão de sucesso, mas o futebol é fértil em surpresas…




Licenciado em Comunicação Social, possuidor do Nível II (UEFA B), defensor acérrimo do Processo de Treino e eterno apaixonado pelo futebol ofensivo. Treinador Principal com dez anos de experiência de treino. Co-fundador do Futebol Apoiado. Colunista do ZeroZero.pt . “Romântico”, “lírico” ou “utópico”, consoante a ideologia defendida por cada um, mas acima de tudo um ser humano coerente, congruente e de convicções fortes inabaláveis.

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