O Talento e a Intensidade Mental
- Pensar o Jogo
- 16 de dez. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 17 de dez. de 2021

É bastante comum lermos ou ouvirmos considerações ligadas à tão famosa “intensidade”. Seja porque o jogador X é “bom de bola”, mas “falta-lhe intensidade”, seja porque “é necessário colocar maior intensidade” no jogo de uma determinada equipa... São ideias que podemos encontrar em qualquer caixa de comentário dos sites dos jornais desportivos, em qualquer post numa rede social ou até mesmo em qualquer programa televisivo dedicado ao Futebol.
Centrando-me na observação individual, isto é, na observação que incide sobre o jogador em si, não poderia abominar mais tamanha consideração. E abomino, porque, na minha opinião, é pessimamente utilizada. Quando discuto sobre determinado jogador, e leio/ouço o “mas” do outro lado, geralmente já sei o que aí vem. É inevitável. As campainhas soam logo todas em conjunto na minha cabeça e só me dá vontade de cortar logo ali. Já sei que o que vão dizer é que “falta intensidade”. E esta intensidade que referem está tão somente ligada a características físicas, como a força nos duelos individuais e a velocidade na recuperação/galgamento de metros. Onde encontro a curiosidade no meio disto tudo é que, na maioria das vezes, esta narrativa só surge quando se discutem jogadores de menor dimensão física.
Ora, aqui estamos logo perante duas enormes falácias: a primeira, é a de que o jogador de baixa estatura é fisicamente frágil; a segunda, é a de que a intensidade está apenas ligada à capacidade física ou à morfologia corporal de um jogador.
Todos nós vibramos com jogadores como o Bernardo Silva. Baixinho, pouco robusto... É forte fisicamente? Muito! A forma como gira sobre si, como aguenta as cargas adversárias, a agilidade em cada ação, a aceleração com bola, tudo isto são características de um “bicho” físico. É intenso? Tremendamente! A disponibilidade que tem para o jogo quando não tem a bola, a perceção que procura ter do espaço que o rodeia, a velocidade com que pensa e executa, a reação à perda, o compromisso coletivo... Também estas características revelam que estamos perante um jogador que possui uma intensidade de jogo bastante elevada.

Bernardo Silva é um dos expoentes máximos da intensidade num centrocampista
Quando falamos do Bernardo Silva também podemos trazer para cima da mesa o Kimmich, o Thiago Alcântara, o Pedri, o Gavi, o Niklas Dorsch, o Vitinha, o Tiago Dantas... Até mesmo o Pepo ou o Tiago Morgado, jogadores do FC Alverca e do Real SC, respectivamente, só para dar um exemplo em como este tipo de jogadores também pode ser encontrado num nível mais abaixo, onde reina ainda mais essa desconfiança relativamente ao jogador “pouco intenso”.
O facto de lançar para a discussão jogadores do meio-campo não é, de todo, inocente, pois é precisamente na zona nevrálgica do campo onde, normalmente, encontramos esse estigma. E é precisamente aí onde, a meu ver, é essencial ter jogadores intensos – que pensem e executem a alta velocidade, que decidam sem tremer quando se encontrem sob pressão e que tenham uma disponibilidade mental que lhes permita estarem sempre ligados ao jogo.
Tudo isto para chegar ao ponto fulcral e sobre o qual gosto de refletir quando observo jogadores: olhando aos exemplos que dei, e para tantos outros que tornariam este artigo numa lista de supermercado, a intensidade está, ou não, ligada ao cérebro? Ou melhor: está assim tão ligada ao físico como muitas vezes queremos fazer crer? Será que não está mais dependente da força mental do jogador, da sua proatividade, do seu compromisso com a equipa? Não é minha intenção trazer números para a discussão, mas se ainda assim tiverem dúvidas que estes jogadores são mais do que o seu momento com bola, poderão sempre ir consultar os sites de estatísticas e ver o número de quilómetros que correm e o número de desarmes/intercepções que conseguem por jogo.
Para terminar, o jogador que for capaz de aliar a sua relação com bola à vertente mental terá sempre a minha admiração. Tenha ele o tamanho que tiver. Porque o tamanho que importa é o do Talento.
Redigido por Bruno Costa

Desde o momento em que acorda até ao momento em que se deita, tem o Belo Jogo sempre presente na sua cabeça. Seja a ver jogos, a escrever, a ler ou simplesmente a pensar sobre algo relacionado com o Futebol, não é capaz de se desligar desta paixão.
Valoriza o Talento, é um obcecado por jogadores criativos e sonha com o dia em que possa apertar a mão a Pep Guardiola. O Scouting ocupa grande parte do seu tempo livre.
Começa este artigo por criticar a má aplicação do termo intensidade pelas pessoas em geral (e com razão). A intensidade no seu conceito original significa a força ou o vigor com que é a realizada determinada ação e não (como aplicada no geral) a capacidade de manter altos níveis de esforço num maior período de tempo. No entanto, ao longo do artigo incorre numa falácia do mesmo género pois, de uma forma geral, refere-se à capacidade física como sendo a força e/ou a capacidade atlética de um jogador. O fator de rendimento denominado por capacidade física divide-se, como deve (ou devia) saber em 3 grandes componentes (força, resistência e velocidade), como tal um jogador extremamente rápido mas débil em termos…