O que é o Talento no Futebol?
- Pensar o Jogo
- 14 de dez. de 2021
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No contexto social atual, onde o imediatismo predomina, muitas são as vezes em que utilizamos a palavra “talento” para classificar um indivíduo que demonstra um conjunto de aptidões para o desenvolvimento de uma atividade específica. Tal como no contexto social, também no futebol, ouvimos muitas vezes a expressão de talento ou jogador talentoso, que os scouts se esforçam para “encontrar” esse mesmo talento primeiro que os outros clubes, onde por vezes o fator TEMPO nem sempre é respeitado devidamente, podendo a pressa em obter resultados imediatos, prejudicar a evolução desse mesmo talento no individuo.
Até ao final do seculo XX, o talento era exclusivamente considerado inato. No entanto, a partir dessa época, registou-se uma mudança de paradigma. Dessa forma, devido à intensificação dos estudos, começamos a perceber a lógica do desenvolvimento, do treino e do contexto ambiental. Sendo isso a base da evolução do talento, surgindo assim o fator “contexto”.
O contexto é onde ocorre a exposição da prática, sendo ele essencial para o desenvolvimento do desempenho do jogador. Assim, para explicar as diferenças Intra-individuais no desempenho dos jogadores, o papel do contexto e a prática da atividade assume um papel de destaque, em detrimento das influências genéticas.
Coyle (2012), num dos seus livros sobre a temática associada ao talento, destaca um fator que na atualidade é consensual para o desenvolvimento do talento – A motivação. Este refere que o talento começa em pequenos e poderosos encontros que estimulam a motivação e vinculam a nossa identidade a uma pessoa ou grupo de alto desempenho. Isso é chamado de ignição, e consiste num pensamento de mudança do mundo e que ilumina a mente inconsciente dizendo-nos: “eu poderia ser eles”.
Esta linha de pensamento foi decisiva na forma como se passou a perceber e conceber o talento, sendo que as variáveis, contexto (treino e prática), social (influência dos pais, situação económica, treinadores, colegas…) e psicológica (tipo de motivação), ganharam mais destaque nesta temática.

Ao acreditar-se no talento inato põe-se em causa o papel da aprendizagem, do treino e da capacidade transformadora, sendo elas fundamentais para a evolução dos jogadores. Na realidade, não existe uma fórmula mágica que origine desempenhos elevados, pois as formas de lá chegar são variadas, sendo extremamente difícil associar os fatores em questão.
A excelência no desporto é o resultado da conjugação entre genes e o ambiente envolvente. Mesmo pressupondo que existem influências genéticas no alto desempenho, elas devem ser entendidas de forma probabilística para obtenção do sucesso, sendo necessárias condições ambientais apropriadas para que o indivíduo se destaque.
Deste modo, é possível concluir que o talento é algo inato e adquirido, ou seja, é uma capacidade que todos os indivíduos têm, mas que depende de aperfeiçoamento, do interesse do praticante, de uma boa capacidade de relacionamento interpessoal, adaptações a diferentes contextos e disciplina.

Redigido por Diogo Runa

Apaixonado pelo jogo desde cedo, inicialmente na vertente do treino e mais tarde na área de scouting e análise, conta com várias experiências no mundo do futebol, entre elas como Scout de clubes como o FC Porto e o Odense BK da 1a liga dinamarquesa. Atualmente é agente e Sports Manager na empresa Think Ball & Sports Consulting.
A nível académico, tem centenas de formações e cursos em diversas áreas do futebol, onde se destaca um Master em Scouting e Nível 3 de scouting pela Professional Football Scouts Association.
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