Projeto é uma palavra que tem perdido algum significado nos últimos anos no SL Benfica. A constante e exacerbada aposta na formação nos anos de Rui Vitória e, principalmente Bruno Lage, contrasta com a aposta em jogadores mais experientes com Jesus. A grande questão é: será que os jogadores que chegam têm mais qualidade do que os jogadores da formação que abandonam o clube?
O mercado de transferências é um mundo difícil e imprevisível. O rumo de uma temporada está dependente das escolhas realizadas ao nível das compras e vendas. Por isso, o scouting é, cada vez mais, uma área do futebol que exige investimento e cuja importância se distingue de quase todas as outras. Para adquirir a totalidade do passe de um jogador de qualidade para uma equipa como o Benfica é quase sempre necessário investir um montante considerável, ainda para mais quando esses jogadores jogam há vários anos no cenário europeu. Por isso, a aposta em jogadores jovens com potencial, sejam eles da formação ou não, deve ser olhada para os clubes grandes portugueses como o principal caminho a seguir.
No final de contas a palavra chave no futebol é QUALIDADE.
Meité vs Florentino
Comecemos pela posição de médio defensivo. Jesus deu preferência à chegada de Meité ao invés da aposta em Florentino Luís. Com Weigl a ser o natural titular, o Benfica precisaria de um médio defensivamente mais forte que o alemão. A prioridade ficou claro que seria Al Musrati (e que contratação seria!), mas o valor pedido pelo SC Braga fez o Benfica recuar e procurar alternativas. Meité foi contratado e Florentino acabou por ser emprestado ao Getafe CF. O que terá Meité a seu favor para ser a escolha de Jesus?
O médio francês tem um perfil físico extremamente interessante, cadência de passada, impacto nos duelos e capacidade para se impor na pressão. Com ele o Benfica torna-se mais forte na recuperação da posse. Ainda assim, o francês precisa de incrementar o seu posicionamento defensivo e a sua tomada de decisão com bola. Apesar de acrescentar progressão com bola (algo que Florentino não tem), não mostra esclarecimento, não consegue definir os melhores rumos para iniciar a construção de jogo da sua equipa e soma vários erros técnicos sob pressão. É uma espécie de Anti-Weigl, pois acrescenta naquilo que o alemão é mais fraco, no entanto o alemão é absurdamente superior em todos os outros aspetos do jogo.
Florentino é um médio fortíssimo sem bola, excelente leitura posicional, eficaz nos duelos individuais, tremendo no desarme e com capacidade para comer metros e garantir o equilíbrio da sua equipa. Ainda não tem a dimensão física de Meité, mas tem características cognitivas que lhe permitem ser superior que o francês até a nível defensivo. Com bola, joga sempre com simplicidade, não compromete a equipa, decide e entrega rápido. Nunca será um criativo capaz de servir os colegas mais avançados, mas acrescenta em tudo o resto. Seria o substituto natural de Weigl, para crescer na sombra do alemão e nos treinos com um treinador que potencia jogadores como ninguém em Portugal.
Florentino Luís vs Real Bétis
Radonjic vs Jota
Na posição de extremo o Benfica tinha apenas Rafa e Everton, precisando pelo menos de um terceiro para ser opção. Esta lacuna no plantel levou à chegada de Radonjic em detrimento do aproveitamento de Jota.
Radonjic nunca se conseguiu impor no Olympique Marselha. Por outro lado, Jota também não teve sucesso no seu empréstimo ao Valladolid.
As características de ambos os extremos coincidem em vários aspetos. Ambos são extremos que partem da esquerda para zonas interiores, ambos são destros, mas utilizam bem o pé não dominante e ambos se destacam na forma como desequilibram quando têm espaço.
No entanto, Jota tem e terá sempre muito mais talento individual que Radonjic.
O sérvio é um jogador extremamente limitado em espaços reduzidos pela sua incapacidade de definir bem. Muito forte na condução de bola em velocidade, mas quase sempre inconsequente quando os espaços se encurtam. Aos 25 anos dificilmente será um jogador para triunfar numa equipa de nível elevado e que esteja 80% do tempo de jogo em ataque posicional na maioria dos encontros.
Por sua vez, Jota tem um talento inquestionável e enquadrado no contexto certo tem tudo para projetar-se para um nível que só o vimos quando atuava nos escalões de formação. Desequilibrador puro com capacidade de drible acima da média, qualidade técnica para ser determinante no último terço seja na finalização ou na criação de condições para tal. Precisa de jogo para evoluir na definição em espaços reduzidos e na tomada de decisão das suas ações em momento ofensivo. Quando o fizer, o Benfica será pequeno para tanto talento.
Se é verdade que o empréstimo ao Celtic FC é bastante benéfico para a sua carreira, as escassas oportunidades no clube de formação são difíceis de explicar, ainda para mais quando faltavam desequilibradores no plantel.
Jota vs Real Bétis
Taarabt vs Gedson
Por fim, falar da maior aposta em Taarabt em detrimento de Gedson Fernandes.
Taarabt é um jogador que tanto aproxima a sua equipa do último terço de forma genial como por erros técnicos leva a sua equipa a constantes transições defensivas que provocam desgaste físico e mental ao coletivo.
Será que numa equipa que pretende ser dominadora a relação risco benefício em relação à utilização deste tipo de jogadores é positiva? A resposta é não. Com Taarabt como médio centro é claro que uma equipa não estará equilibrada do ponto de vista defensivo.
Gedson oferece características completamente diferentes do marroquino. Com bons argumentos físicos, nomeadamente passada larga, eficácia nos duelos individuais, boa capacidade de pressão e velocidade de deslocamento, Gedson precisará de melhorar o posicionamento defensivo para se tornar um médio mais completo no momento defensivo. No momento ofensivo é um médio com capacidade técnica e inteligência para decidir bem. Faz jogar a equipa com relativa facilidade e não tem o erro técnico de Taarabt, deixando a equipa menos exposta. Apesar disso, tem dificuldade em criar e alimentar o último terço quando o espaço é reduzido. É um médio muito forte nos momentos de transição (por isso foi utilizado como falso avançado/terceiro médio nos tempos de Lage). Em transição ofensiva tem a capacidade de progredir com bola e comer metros até zonas de perigo para o adversário. Precisa de maior tempo de jogo para provar que o início de carreira com Rui Vitória e os tempos de formação não foram um engano. É um médio que se espera muito mais do que aquilo que tem mostrado, que tem condições para ser uma segunda opção clara atrás de João Mário e ter um tempo de jogo cada vez maior.
Gedson Fernandes vs SC Braga com Rui Vitória
Redigido por: Diogo Coelho
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