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Jorge Jesus abandona o comando técnico do Benfica - a retrospetiva e o que se segue



Após algumas semanas atribuladas (nomeadamente esta última), Jorge Jesus abandona mesmo o comando técnico do SL Benfica. Porque esta situação chegou a este ponto? Vamos tentar perceber fazendo uma retrospetiva ao que foi o trabalho do técnico neste último ano e meio.


Época 2020/21


Jorge Jesus chegou ao SL Benfica numa clara “jogada eleitoral” feita pelo antigo presidente Luís Filipe Vieira. No dia da sua apresentação como novo treinador dos encarnados mostrou-se ambicioso, querendo colocar a equipa a jogar o “triplo”, de volta aos títulos nacionais e com uma performance mais positiva nas competições europeias, ambicionando até, conquistar algo a nível internacional. Esta ambição do técnico teve ainda mais impacto, quando começaram a chegar nomes sonantes para o plantel - como é o caso de Everton, Jan Vertonghen, Luca Waldschmidt e a contratação mais cara da história do clube, Darwin Núñez - contratado por 24 milhões de euros.


De forma não muito surpreendente, Jorge Jesus iniciou o seu 1º jogo oficial ao serviço do SL Benfica com uma estrutura de 1-4-4-2, algo já habitual por parte do técnico nos últimos anos. Porém, esse 1º jogo oficial foi muito dececionante. O clube acabou eliminado na 3ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões, para uma equipa com uma qualidade individual bastante inferior, o Paok, treinado pelo português Abel Ferreira, atual treinador do Palmeiras, caindo assim para a fase de grupos da Liga Europa. Esta eliminação custou muito caro aos cofres financeiros do SL Benfica, que depois de realizarem o maior investimento da sua história, foram “obrigados” a vender o seu maior ativo para o Man.City, Rúben Dias, por 68 milhões de euros. Nessa negociação, chegou ao SL Benfica mais um nome sonante- Nicolás Otamendi, central argentino que já tinha representado em Portugal o rival FC Porto, e, por isso, não foi uma contratação unânime no mundo benfiquista. Porém, rapidamente mostrou ser um jogador com raça, que dava tudo em campo e somou performances de nível elevado, mesmo tendo começado com o "pé esquerdo".


Depois da eliminação catastrófica, o SL Benfica arrancou o campeonato de forma impressionante, com uma goleada em Famalicão por 5-1, apresentando um nível exibicional bastante positivo. Daí em diante, foram no total uma série de 7 jogos consecutivos a vencer, incluindo jogos a contar para a fase de grupos da Liga Europa, até sofrer uma derrota bastante impactante por 3-0 frente ao Boavista de Vasco Seabra, que até aquele momento ainda não tinha triunfado no campeonato. A derrota com o SC Braga na Luz por 3-2 foi também impactante, num jogo onde a equipa minhota foi muito superior ao SL Benfica.

Desde o fim do mês de novembro até ao fim do mês de dezembro a situação acalmou-se ligeiramente pelos resultados positivos, mesmo que as exibições fossem muitas vezes pobres.


No dia 23 de dezembro disputou-se a Supertaça Cândido de Oliveira, entre FC Porto e SL Benfica, onde os dragões levaram a melhor sobre as águias, vencendo por 2-0. A partir desse momento, muitos já desconfiavam do trabalho de Jorge Jesus, que passou a ser cada vez mais questionado.


No mês de janeiro, o SL Benfica jogou no dragão, novamente frente ao FC Porto, e desta vez realizou um jogo muito convincente- provavelmente o clássico mais convincente desde que Jorge Jesus voltou ao SL Benfica- apesar do resultado que se verificou no final, um empate a 1 bola. Jorge Jesus surpreendeu no 11 lançando Nuno Tavares, fazendo subir Grimaldo para se juntar à linha de 4 do meio-campo, na sua estrutura de 1-4-4-2. Essa alteração veio dar uma maior segurança defensiva, mas também uma boa alternativa ao processo ofensivo da equipa- pois Grimaldo mais “solto”, com maior “permissão” para se aventurar em terrenos ofensivos e mais interiores, é um jogador capaz de desequilibrar pela sua qualidade técnica e capacidade para combinar com os seus colegas em espaços reduzidos.


Após esse jogo, o SL Benfica teve um surto de covid-19 no seu plantel e na sua estrutura, com 17 casos. Este surto, fez com que o SL Benfica tivesse muitos desfalques para jogos importantes que se seguiram. Perante este cenário, e os clubes não aceitando o pedido de adiamento dos jogos por parte do SL Benfica, o clube tinha pela frente tempos complicados, com jogos muito importantes que iriam definir a restante época, sendo o primeiro deles, com SC Braga a contar para a Allianz Cup.


Com muitas baixas, o SL Benfica efetuou várias alterações no 11, sendo a principal delas, a mudança de sistema, jogando com uma estrutura de 1-3-4-3. A linha de 3 centrais foi composta por Todibo, Weigl e Jardel; como alas, pela direita João Ferreira, pela esquerda Franco Cervi; no meio-campo Pizzi e Adel Taarabt; na linha mais avançada, Rafa, Seferovic e Darwin. Não fazendo uma exibição convincente, o SL Benfica perdeu por 2-1. Todavia, aqui foi a primeira tentativa de Jorge Jesus em fazer uma alteração de estrutura, com vista a adaptar-se à estrutura do adversário, ao invés de jogar com a estrutura que a equipa já estava habituada a jogar desde o início da época.


No jogo seguinte voltou à sua estrutura habitual, o 1-4-4-2, tendo mais um resultado negativo, desta feita frente ao Nacional, com um empate a uma bola na Luz. Dia 29 de janeiro, dia seguinte da vitória do SL Benfica sobre a Belenenses SAD por 3-0 na Luz, Jorge Jesus também testou positivo para a covid-19, sendo assim impedido de estar sentado no banco de suplentes nos próximos jogos.


No dia 1 de fevereiro, realizou-se o jogo que provavelmente iria definir o futuro do SL Benfica no campeonato, um Sporting-Benfica em Alvalade, a contar para a 16ª jornada. Jogo marcado pela volta dos jogadores do clube encarnado que estiveram infetados com a covid-19, porém sem Jorge Jesus sentado no banco de suplentes. Mais uma vez Jorge Jesus surpreende e, novamente, com propósito de se adaptar ao adversário, apresenta uma estrutura de 1-3-4-3. Este foi um encontro de qualidade de jogo bastante abaixo, resolvendo-se apenas aos 92 minutos com um golo de Matheus Nunes, que ditou a vitória do Sporting por 1-0. Depois deste jogo, a luta pelo título ficou praticamente impossível, o que gerou ainda mais contestação a Jorge Jesus.

Nos dois jogos frente ao Arsenal a contar para os 16 avos de final da Liga Europa, o SL Benfica também apresentou uma estrutura de 3 centrais. Na 1ª mão uma estrutura de 1-3-5-2, e na 2ª mão uma estrutura de 1-3-4-3. O grande destaque, além de, novamente, alterar o sistema, foi a entrada do recente reforço dos encarnados no eixo defensivo, Lucas Veríssimo- que foi um pedido expresso de Jorge Jesus, com o desejo de completar a linha de 3 centrais. Apesar disto, as águias foram eliminadas da competição pelo Arsenal, o que foi considerado mais um fracasso por parte da equipa de Jorge Jesus.


Daí em diante, o SL Benfica alternou entre uma estrutura com 2 centrais, o 1-4-4-2, e uma estrutura com 3 centrais, 1-3-4-3 ou 1-3-5-2. Com estas mudanças, os encarnados tiveram a melhor série da temporada, com apenas uma derrota (frente ao Gil Vicente) e um empate (frente ao FC Porto), em 15 jogos disputados. Era evidente que o SL Benfica subiu bastante de rendimento com a alteração de sistema, porém, ainda com níveis exibicionais algo irregulares e não chegando para ser campeão nacional.


No último jogo da época, o SL Benfica jogou a final da Taça de Portugal frente ao SC Braga, também com uma estrutura de 1-3-4-3, e acabou por perder 2-0. Mais um título que o SL Benfica deixou escapar.


A época foi considerada um grande fracasso. Após o maior investimento da sua história, a busca de um treinador renomado (treinador com mais títulos da história do SL Benfica) prometendo muito aos benfiquistas, a verdade é que o SL Benfica não conquistou nenhum título e nem se qualificou de forma direta para a fase de grupos da Liga dos Campeões, acabando o campeonato em 3º lugar. Porém, a confiança em Jorge Jesus por parte da direção manteve-se para a próxima época.


Época 2021/22


Não tendo o mesmo investimento que teve na época passada, o SL Benfica fez algumas contratações para o seu plantel, e apenas uma delas foi considerada fundamental para o estilo de jogo que Jorge Jesus queria implementar na sua equipa - João Mário, o elemento que faltava no meio-campo do SL Benfica. Outra contratação sonante foi a de Yaremchuk, que chegou para ser a referência no ataque dos encarnados, mas ainda não se conseguiu impor verdadeiramente no 11. As restantes, foram na sua maioria para compor o plantel, sendo a mais questionada a transferência de Meïté - o médio defensivo chegou para ser uma alternativa a Weigl no meio-campo, em detrimento de Florentino (emprestado ao Getafe).


No meio de tudo isto, os encarnados disputaram as pré-eliminatórias da Liga dos Campeões, onde desta vez conseguiram alcançaram o objetivo de chegar à fase de grupos, deixando para trás o Spartak de Moscovo e PSV. Em mais um arranque de época positivo a nível de resultados - adotando definitivamente a estrutura com 3 centrais, com algumas dinâmicas diferentes, entre os 3 jogadores mais avançados (muitas vezes em 1+2 e outras em 2+1) dava a mesma ideia da época passada: uma equipa a depender muito das suas individualidades, em detrimento do processo coletivo.


No entanto, a equipa treinada por Jorge Jesus fez uma boa campanha a nível europeu, passando no 2º lugar da fase de grupos, ficando atrás do Bayern de Munique e à frente do poderoso Barcelona- uma equipa que nesta época mostrou estar muito atrás do Barcelona de há alguns anos, mas não é por essa razão que o feito do SL Benfica deixa de ser muito positivo.


Na Liga Bwin o SL Benfica começou bem, mas alguns resultados negativos, como a derrota frente ao Portimonense na Luz e o empate com Estoril na Amoreira, resfriaram os ânimos dos adeptos e equipa. Ao final do mês de dezembro o Benfica ocupa o 3º lugar, atrás dos rivais Sporting e FC Porto.


Apesar da maioria dos resultados não serem negativos, percebeu-se sempre que o nível exibicional apresentado não era bom (faltava sempre a chamada "nota artística"), e isso evidenciou-se ainda mais em jogos de nível de dificuldade elevado, por exemplo frente ao Sporting, a contar para a Liga Bwin, e com o FC Porto, a contar para a Taça de Portugal. Em ambos os casos, o SL Benfica foi muito inferior aos dois rivais, e evidenciou grandes fragilidades ao nível das dinâmicas e consolidação do modelo de jogo. Um dos exemplos mais evidente deste facto surge numa das imagem de marca de toda a carreira de Jorge Jesus, o seu processo defensivo. Neste SL Benfica, passou a ser uma imagem de marca, mas pela negativa, pela falta de rigor no momento de transição defensiva e por alguns erros no momento de organização defensiva.


O que levou ao abandono de Jorge Jesus do comando técnico do SL Benfica?


O que dita no futebol são os resultados, e esse foi claramente o ponto maior que fez Jorge Jesus abandonar o comando técnico do SL Benfica. Porém, a situação dos dirigentes do Flamengo estarem em Portugal com o intuito de contratar Jorge Jesus e o mesmo não colocar um “fim” nessa especulação; a discussão no treino entre os jogadores e o técnico depois do mesmo ter deixado a treinar de parte os capitães André Almeida e Pizzi pelo suposto mau comportamento que tiveram depois da derrota do SL Benfica no dragão; todas estas situações numa fase bastante atribulada vivida pelo SL Benfica, fez com que os dirigentes encarnados não ficassem de todo satisfeitos com o técnico, colocando-lhe ainda mais pressão.


As expetativas exageradas durante a sua estadia no clube da Luz, os jogadores não identificados para o modelo de jogo de Jesus, um plantel desequilibrado em termos de qualidade e quantidade por setor, a incapacidade de formar um coletivo forte, a pouca liderança de individualidades (jogadores) no grupo de trabalho, a ocasional gestão dos recursos humanos por parte do técnico português - Pedrinho já foi a público identificar abordagens e métodos que não o permitiram sentir conforto para expor o seu talento -, a fraca projeção e valorização dos jogadores e nalguns casos desvalorização, a escassa aposta na formação e a pressão constante de resultados num clube gigante como o SL Benfica foram razões óbvias que levaram a este despedimento esperado já há muito pela maioria das ostes encarnadas.


O que se segue para o treinador e para o SL Benfica?


Para o treinador, apesar de estar livre no mercado, ainda tem o Brasil como opção: o Atlético Mineiro parece ser a opção mais forte para o técnico, o atual campeão do Brasileirão e da Copa do Brasil possui um projeto muito ambicioso, um plantel de qualidade elevada para a realidade Brasil e muito dinheiro para investir; o Flamengo será sempre uma opção para Jorge Jesus, depois de tudo o que se sucedeu, porém, não será nada fácil, porque o emblema carioca já tem como nome para assumir a equipa um outro português, Paulo Sousa.


No caso do SL Benfica há que pensar se verdadeiramente o clube quer ter um projeto bem vincado. Com uma política de contratações diferente, dando mais espaço a jovens de grande potencial da sua formação, algo que nunca foi muito valorizado por Jorge Jesus. Com Nélson Veríssimo (pelo menos até ao final da época) há uma grande expectativa que haja esse espaço para os jovens evoluírem na equipa principal.

Se quisermos pensar num futuro ainda mais longínquo (próxima época), será que o SL Benfica deve apostar num treinador com mais experiência a nível internacional, seja ele português ou estrangeiro, ou apostar definitivamente em Nélson Veríssimo para ser o treinador principal, como se deu, por exemplo, com Bruno Lage? Vários nomes começam a ser apontados ao cargo, como o de Paulo Fonseca, Pepa, Pirlo, e muitos outros. Fica a dúvida...





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