Investir (n)a Estabilidade
- Pensar o Jogo
- 7 de jul. de 2020
- 3 min de leitura

Numa fase em que o Benfica trocou de treinador, em que se chumbaram contas e apareceram alguns sinais de alarme, voltou a ser tema a estabilidade.
Bem como o investimento.
Tem sido uma frase batida que o Clube não pode fazer loucuras em termos de investimento, que tem que buscar uma estabilidade alicerçada, maioritariamente, no que o Seixal vem sendo capaz de produzir.
Não vou alongar-me, desta feita, na temática do investimento na formação e nos frutos que daí se podem colher.
Vou focar-me numa outra estabilidade, a que advém dos resultados da real mola impulsionadora do clube, o futebol profissional.
A estabilidade que o Clube, que qualquer clube necessita, advém de ganhar mais vezes.
É nesse ponto que coloco o foco. Na "propagandeada" estabilidade, refletida no número reduzido de treinadores que pautaram o período mais ganhador da história recente do Sport Lisboa e Benfica.
Se olharmos com minúcia, observamos que essa estabilidade está em declínio. Esse declínio, traduz-se em ciclos cada vez mais curtos, cumpridos por cada um dos treinadores.
Após um período em que o Benfica teve algo nunca visto, um treinador durante seis épocas desportivas consecutivas – refiro-me a Jorge Jesus, o treinador com mais jogos de sempre no Clube, num total de 321 – seguiu-se Rui Vitória, com 2 anos e meio e 184 jogos.
A este, seguiu-se o recém destituído Bruno Lage, com apenas 76 jogos, menos de um ano e meio na condução da equipa.
Tal como o seu antecessor, da euforia (50% do Tetra para Rui Vitória; R3CONQUIS7A inédita para Bruno Lage) ao descalabro foi um processo rápido. Sem rede.
Em ambos os casos, os técnicos foram mais vítimas que réus, daquela que é a verdadeira razão da queda.
Olhar ao plantel do Benfica dos tempos de Jorge Jesus, e ver a sua evolução para os dias de hoje, resulta num exercício de empobrecimento qualitativo gritante.
E se neste mercado de inverno ainda se tentou corrigir a opção deficitária do início da época, com a contratação de Julian Weigl (que mascarou o empobrecimento também ao nível das contas, tendo transformado a época 2019/2020 na de maior investimento de sempre), a verdade é que o plantel tem vindo a perder qualidade e referências de época para época.
A última, culminou com a venda de João Félix, o fim de carreira do genial Jonas e, a meio, o pendurar de botas de Luisão a que se somou a saída de Salvio.
Quem são as grandes referências do plantel benfiquista de momento? Talvez a maior seja mesmo Rúben Dias, um líder nato, mas que soma meros 23 anos, e ainda menos de 100 partidas (85 para ser rigoroso) na prova principal do futebol português.
De uma equipa que, em 2009, alinhava com Quim, Luisão, David Luiz, Maxi Pereira, Coentrão, Javi Garcia, Pablo Aimar, Ramires, Di Maria, Saviola, Cardozo (e ainda deixava Nuno Gomes no banco), ao 11 tipo de 2019/2020 vai um mundo de distância.
Uma distância que se mede pela qualidade dos elementos que compõem o plantel.
Um plantel que não foi alvo de contratações cirúrgicas como necessitava, mas ao invés, tem vendido muito e bem de ano para ano, comprando muito… mas curto.
Comparar os jogadores que se têm vendido, da equipa principal ou mesmo da formação, aos que se têm adquirido em múltiplos negócios, é um exercício em que a saudade vence sempre o presente.
Não há como escamotear.
Estabilidade, precisa-se. Mas quanto mais baixa for a qualidade do plantel, mais curtos serão os ciclos de cada treinador, e não haverá estabilidade que resista.
Estabilidade é investimento. Na qualidade. Na opção de estar sempre mais perto de vencer!
Porque não é a estabilidade que faz a qualidade, antes, alimenta-se desta.
REDIGIDO POR: Carlos Fradiano
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