Em Treino… as Emoções
- Pensar o Jogo
- 8 de jul. de 2020
- 3 min de leitura

Já todos entendemos como o treino deve ser representativo daquilo que são as exigências da competição e que, como tal, deve sempre ser contextualizado ao envolvente, no entanto, bastará olhar para o mesmo dessa forma?
O treino é, possivelmente, o elemento de maior importância e complexidade em todo o processo de condução e gestão de uma equipa. Dessa forma, criar exercícios que representem os problemas que o jogo nos oferece, gerando constrangimentos para que comportamentos possam emergir é fundamental e qualquer operacionalização de treino que não promova esta estrutura vai estar muito mais perto do insucesso em competição. Porém, contemplar apenas isto pode não ser suficiente pois o treino deve ser muito mais do que ter métodos adequados às necessidades. Obviamente temos ainda de acrescentar a importância da replicação das exigências fisiológicas que o jogo (de carácter intermitente) nos traz e, que os próprios exercícios e componentes da carga (volume, espaço, número, densidade, etc.) devem regular aquilo que procuramos no desenvolvimento das capacidades motoras dos nossos atletas e preparar os mesmos para a competição.
Não obstante, olhar para o treino neste aspeto metodológico e esquecer aquilo que são as emoções é, desculpem a expressão, a morte do artista. Liderar um grupo é gerir emoções e esse será sempre o maior desafio independentemente do contexto e, quem infere que o emocional é apenas exposto em jogo está totalmente equivocado. Por isso, apresento esta reflexão para que se possa pensar na importância de conduzir o treino e contemplar o partido que podemos retirar do indivíduo ou do grupo ligando-nos ao estado afetivo do mesmo.
“Ele sabe como retirar o melhor de nós, pelo modo como conversa. Por isso quero ganhar, ganhar por ele. Quero fazer de tudo para ter sucesso com ele.” (Dier sobre Mourinho)
É em treino que são criados laços entre os intervenientes, e se nos colocarmos no papel dos jogadores isso é, inquestionavelmente, um dos fatores mais importantes. Assim pensar o treino pode e deve ser pensar na forma como a prática será realizada e interpretada pelos praticantes e, com isto retiro que nem sempre o melhor exercício terá o melhor efeito e que por vezes até “maus” exercícios podem ter efeitos positivos. Além disto e, fazendo finalmente uma ponte para o jogo, o clima estabelecido em treino seja na competitividade das tarefas ou no estabelecimento de um ambiente positivo em “balneário” podem ser fundamentais na criação de uma identidade grupal forte em jogo.
A supremacia do coletivo em relação ao indivíduo é algo que todos procuram, mas nem todos conseguem atingir. Aqui, o treino tem um papel preponderante e a maneira como é operacionalizado é fundamental nesse processo de persuadir todo o grupo a dar passos na mesma direção, e se existir a capacidade (ou a competência) para tornar o processo de treino um elemento que todos se identifiquem e apreendam afetivamente, estaremos sempre mais perto de atingir os fundamentos técnico-táticos em campo e, consecutivamente, o sucesso.
“(…) um treinador de futebol não é como um engenheiro ou assim, em que fazes isto assim e vai sempre dar certo. Não, é preciso ter muita química com o grupo que tens, depois não tens química com este grupo, tens um mau resultado; vais para outro grupo, fazes a mesma coisa e já tens um grande resultado…” (Rúben Amorim)
REDIGIDO POR: Filipe Chinita
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