Até cantam o seu nome - a segunda vida de Jota!
- Pensar o Jogo
- 25 de jan. de 2022
- 4 min de leitura

João Filipe era um dos jogadores provenientes da formação do Benfica a que se augurava um potencial enorme. Teve um impacto tremendo nas seleções jovens por Portugal e no próprio clube em todas as camadas de formação - foi campeão europeu pela seleção nacional, em sub-17 e sub-19, foi vice-campeão da Youth League, vice-campeão europeu no escalão de sub-21 por Portugal e teve sempre rendimento de altíssimo nível em praticamente todas estas competições.
Na passagem de futebol de formação para futebol profissional, o extremo português acabou por ter muitas dificuldades em se impor por vários fatores, nomeadamente pelo modelo de jogo que não favorecia as suas melhores características. Com Bruno Lage, o Benfica jogava com os seus extremos por dentro, algo que não beneficiava o que Jota tem de melhor. Pelo pouco rendimento na posição de extremo, foi-se procurando alternativas para apostar no jovem português. Quem não se lembra de ter jogado a segundo avançado? Obviamente estas alternativas não resultaram e o extremo nunca se conseguiu ter um rendimento que lhe permitisse ser aposta firme.
O empréstimo ao Real Valladolid não foi o melhor passo para a sua carreira. Era óbvio que o crescimento de um jogador que sempre foi figura em toda a formação teria de passar por um clube ganhador, com futebol ofensivo, com um modelo de jogo que permitisse ao jogador atuar em espaços onde se sente confortável e onde tivesse oportunidade para ganhar uma "segunda vida", aumentar os índices de confiança e recuperar a felicidade por jogar futebol.
A ida para o Celtic FC veio no momento certo. O contexto da equipa escocesa é o ideal para a sua evolução enquanto futebolista. A equipa atua num sistema de 4x3x3 com Jota a ser o extremo esquerdo (na maioria das vezes) ou direito dos escoceses. Durante esta temporada tem sido a principal figura da equipa e tem conquistado os adeptos, de tal forma que já inventaram um cântico para o craque português.
Primeiramente de salientar que Jota cresceu muito a nível físico nos últimos tempos. Á velocidade, aceleração e agilidade que já nos tinha habituado, juntou capacidade de choque, força, impulsão e potência. Está neste momento com argumentos físicos de excelência para um extremo.
Sempre foi um desequilibrador de grande qualidade e com argumentos técnicos infindáveis, mas acabava por perder-se em "malabarismos" e "truques" pouco eficientes e objetivos. Com espaço para enfrentar os adversários conseguia fazer a diferença pela sua capacidade de drible, no entanto sem esse espaço ou quando recebia entre-linhas era pouco eficiente, possuía pouca visão periférica e tinha uma definição muitas vezes errática. Além disso, pedia sempre a bola no pé e raramente se movimentava sem bola para ir buscar no espaço. Toda a gente notabilizava um potencial enorme pelas ações singulares de qualidade que tinha, mas a sua produção final acabava por não compensar o que fazia de bem.
Hoje é um jogador muito mais completo. No campeonato escocês o espaço que o adversário oferece é maior e a velocidade a que se joga é menor comparativamente com a realidade portuguesa, mas isso não explica tudo. Jota está a começar a transformar o seu potencial em rendimento e promete continuar a evoluir até níveis que vão surpreender muita gente em Portugal.
É absolutamente fascinante a sua qualidade técnica e capacidade de drible. São muito poucos os extremos com os recursos técnicos que Jota vem evidenciando no Celtic. É destro, mas utiliza muito bem o pé esquerdo. Partindo da ala direita apresenta uma tremenda capacidade de desequilíbrio. Ludibria os adversários e define cada vez melhor. Tornou-se um jogador muito capaz nas associações que faz com médios e laterais em zonas de criação. Consegue sair de zonas de pressão com grande qualidade e apresenta uma visão periférica, leitura do jogo, reconhece de forma muito perspicaz e inteligente os movimentos ou posicionamentos dos colegas e possui uma tomada de decisão cada vez melhor.
Jogo após jogo tem vindo a provar ser um jogador altamente preponderante no último terço. Pelo drible, mudança de velocidade e capacidade técnica tira constantemente adversários do caminho e chega em posição privilegiada a zonas de finalização para servir ou atirar para o golo. Com confiança é um jogador com capacidade para resolver individualmente um jogo.
Além disso, é um jogador muito capaz nos movimentos sem bola. São vários os momentos em que se movimenta no timing certo para receber na profundidade ou para garantir maior espaço de ação junto à faixa. Também dentro da área tem incrementado movimentos que lhe oferecem melhores condições de finalização.
O seu último passe melhorou enormidades, assim como a sua finalização. Relativamente ao último passe, Jota tem tido um excelente rendimento nesta ação, destacando-se a definição que tem deliciado os adeptos escoceses. Quanto à sua capacidade de finalização, o português finaliza bem com os dois pés. Marcou vários golos através de jogadas provenientes do lado contrário e com este a aparecer ao segundo poste. Porém, terei de destacar a sua técnica de remate quando surge em condução a realizar diagonais para espaço interior. Soma 8 golos e 6 assistências esta temporada.
Tem que se dar crédito à evolução incrível que Jota tem vindo a ter. É um talento imenso, que mais tarde ou mais cedo iria brilhar. Encontrou aquela alegria de jogar que a sua irreverência e estilo de jogo precisava. Acredito que a continuar com este rendimento ficará por muito pouco tempo em terras escocesas e, caso isso aconteça, será importante definir um passo seguro para a sua carreira.
Por Diogo Coelho
Fundador do Projeto Pensar o Jogo
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