Matateu – A Oitava Maravilha do Mundo
- Pensar o Jogo
- 17 de jan. de 2022
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Clube Futebol “Os Belenenses” foi pela primeira vez e única até hoje, Campeão Nacional da I Divisão em Maio de 1946.
Seria de todo normal que as maiores figuras deste histórico português nos remetessem para essa época.
Há, no entanto, um nome, um culpado, para que assim não seja.
Havia nascido a 26 Julho de 1927 no Bairro do Alto Maé, em Lourenço Marques, Moçambique, Sebastião da Fonseca Lucas – MATATEU!
Até 23 de Setembro de 1956 brilhou nas Salésias, na Ajuda. A partir dessa data no Estádio do Restelo.
Matateu desponta no Grupo Desportivo 1º Maio, filial do Belenenses, em Moçambique e, em 1951, já com 24 anos chega a Portugal para jogar pelo clube do Restelo.
Era já pretendido por clubes portugueses. Escreve-se que FC Porto, SL Benfica e U. Coimbra haviam feito boas propostas, mas, por influência de dirigentes (adeptos belenenses) do seu clube em Moçambique, Matateu acaba por viajar para o clube onde se vai tornar a figura maior. Havia uma passagem de barco marcada, quando um telegrama do Belenenses lhe deu instruções para apanhar o primeiro avião: “Tratar tudo urgentemente. Stop. Matateu embarque Lisboa primeiro avião.” A urgência era grande e não se podia deixar fugir Matateu para outros clubes.
Matateu estreia-se na preparação para a época 1951-52 num amigável que termina empatado a 3 com o FC Porto. Agradou.
Mas na semana seguinte aconteceria a sua estreia oficial nas Salésias, em jogo para o campeonato, frente ao último campeão, Sporting. Estreia que ainda hoje é um marco na história. "Os adeptos azuis, em completo delírio, invadiram o campo e levaram-no em ombros até à cabina. Disse-se então, e era verdade, que pela primeira vez em Portugal homens de raça branca levaram em ombros e em triunfo um homem de raça negra". O furacão Matateu acabara de destruir o campeão nacional, com dois golos seus, em vitória inolvidável por 4-3. O último dos quais, a dois minutos do fim, para desempatar a partida. Salvador do Carmo, antigo Presidente e treinador do clube e várias vezes selecionador nacional, descreveu assim a forma como Matateu marcou o quarto golo azul: “Captou o esférico a meio do terreno e ei-lo em fintas sucessivas e em corrida vertiginosa para, perto de Azevedo, disparar um colossal remate.”
Em 23 de Novembro de 1952, Matateu estreava-se pela seleção portuguesa num empate, no Estádio das Antas, frente à Áustria, em jogo de preparação. Somaria, em tempos muito diferentes dos de hoje, ao serviço da seleção nacional portuguesa, 27 internacionalizações (a última em 1960), tendo apontado 13 golos.
A seleção de Portugal deu-lhe grande projeção internacional. Um dos jogos em que se destacou foi em Maio de 1955 frente a uma potência como Inglaterra. É ele que coloca Portugal na frente do marcador ao fazer o 2-1 (vencemos por 3-1) com um grande golo depois de driblar vários adversários. "Um negro, sempre sorridente, natural de Moçambique, África Oriental Portuguesa, é esta noite o rei do futebol português. Em Moçambique foi-lhe dado o nome de Lucas da Fonseca, mas há muito tempo que já ninguém se preocupava com isso. Passaram a chamar-lhe Matateu - um cognome que significa a 'oitava maravilha do mundo' - desde que começou a driblar como um mago e a chutar como um canhão. E foi essa oitava maravilha do mundo do futebol que rebaixou e humilhou uma Inglaterra destroçada", podia ler-se à data no jornal inglês Daily Sketch.
Em 1952-53, Matateu ganha o seu primeiro troféu de melhor marcador do campeonato, a “Bola de Prata”, a primeira atribuída pelo jornal “A BOLA”. Em 26 jogos, marcou por 29 vezes! Viria a repetir a façanha em 1954-55.
Também a France Football se rendeu ao talento de Matateu pelos grandes jogos que fez com a camisola do Belenenses na Taça Latina, diante dos colossos Real Madrid e AC Milan. "Alfredo Di Stefano cede o seu lugar de vedeta a Matateu, o extraordinário negro de Moçambique. Esperava-se Di Stefano e tivemos Matateu. Uma revelação!", lia-se na prestigiada revista francesa.
Matateu, que bebia várias cervejas por dia e até no intervalo dos jogos, foi brilhando com a camisola do Belenenses e de Portugal e na época 1963-64, com 37 anos, deixou os azuis, depois de 13 anos, 268 jogos e 210 golos.
Representou depois o Atlético, Amora, Desportivo de Gouveia e Chaves, antes de se radicar no Canadá. Aí jogou em clubes de portugueses e retirou-se aos 50 anos, na época 1977-78.
A 27 de Janeiro de 2000, com 72 anos, morre no Canadá.

O cromo que partilho convosco é relativo à época 1961-62 (está a fazer 61 anos) e é o único que tenho de Matateu. Há poucos cromos dele e são difíceis de encontrar.

Redigido por João Ferreira
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